quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Para uma geografia de Alberto Sampaio

Os primeiros tempos da vida de Alberto Sampaio foram passados na casa onde nasceu, na rua dos Mercadores, em Guimarães, morada do seu tio-avô José Teixeira, Cónego da Colegiada de Guimarães, que viria a falecer em 1843. Ainda falta saber onde viveu nos anos que se seguiram, mas parece certo que até aos 10 anos o essencial da sua existência terá passado por Guimarães, onde frequentou a aula de Tomás Guilherme. As primeiras aprendizagens terão sido concluídas no Colégio de João Luís Correia de Abreu, em Landim, cuja aula começou a frequentar, com o irmão José, no dia 12 de Janeiro de 1852. Entre 1856 e 1857, terminou os estudos preparatórios, primeiro no Liceu de Braga, depois no de Coimbra, onde, em 1858, se matriculou no Curso de Direito da Universidade, que concluiria em 1863.

Terminado o curso, teve uma curta passagem por Lisboa, onde tentou uma experiência frustrada de exercício de advocacia. Regressou então a Guimarães, onde passará a maior parte dos seus dias, repartidos com estadias na Casa de Boamense, onde deu aplicação prática aos seus estudos sobre agricultura e viticultura.

Em Guimarães, sabe-se que viveu na rua de Santa Luzia em casa de seu irmão José, de quem foi, nas palavras de Domingos Leite Castro, “inseparável companheiro de toda a vida”.

Pela análise da sua correspondência já publicada, é possível esboçar uma geografia da vida de Alberto Sampaio, pelo menos a partir de 1880: até ao dia 28 Março de 1900 viveu, essencialmente, em Guimarães, com algumas intermitências, quase todas passadas em Boamense.

O ano de 1899 trouxera duas perdas irreparáveis a Alberto Sampaio. Nos primeiros dias de Agosto, faleceu Francisco Martins Sarmento (escreveria então a Luís de Magalhães: “eu tenho mais razão que qualquer outro de sentir a sua morte, por ser uma das poucas pessoas com quem eu convivia aqui. Não faz ideia, como me entristece esta solidão, que todos os dias aumenta em volta de mim”). Golpe ainda mais profundo o atingiria daí a pouco: no dia 15 de Setembro, era o seu irmão José que partia (escreveria então ao seu confidente Luís de Magalhães: “Eu sei que é dever nosso reagir; mas esta falta condena-me a uma solidão que me aterra.”).

Seria esse sentimento de solidão, carregado de perda e de pessimismo, que o levaria a abandonar de vez Guimarães. No próprio dia em que preparava a partida da terra que o viu nascer e onde viveu, escreveu a Luís de Magalhães:

“Mal lhe posso escrever. As saudades do passado... creio que são elas... dilaceram-me o coração; ou o pressentimento dum futuro... que futuro?”

Dois dias depois, já em Boamense, descreveria melhor o seu estado de espírito na hora em que deixava para trás o seu “ninho de tantos anos”:

“Estava numa extrema sensibilidade; arrumava as últimas coisas do meu ninho de tantos anos: fechada a sua carta, empacotei o tinteiro: nesse momento a memória representava-me com uma luz fulgurante os castelos em mim do meu passado: e que ilusões! Hoje vou melhor: caí numa tristeza calma, que por fim também há-de desaparecer.”

Desde aquele final de Março de 1900 até ao seu desaparecimento, a 1 de Dezembro de 1908, os dias de Alberto Sampaio correram entre Boamense e o Porto, onde passava largas temporadas, acomodado em casas de hóspedes localizadas na Rua Formosa, primeiro, e na Rua da Alegria, depois. A morte apanhou-o em Boamense, na freguesia de Cabeçudos, Vila Nova de Famalicão, não obstante constar nas enciclopédias que terá falecido em Vila Nova de Gaia.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Imagens da Exposição Industrial de Guimarães de 1884

A Revista Ilustração Universal publicou, em 1884, uma série de cinco gravuras, que aqui se reproduzem, referentes à Exposição Industrial de Guimarães, promovida pela Sociedade Martins, da qual Alberto Sampaio seria a alma mater.

Alberto Sampaio

O Palácio de Vila Flor aquando da Exposição Industrial

Inauguração da Exposição

A secção de Cutelaria

A secção de cerâmica


Alberto Sampaio e a Exposição Industrial de Guimarães de 1884

Uma das preocupações iniciais da Sociedade Martins Sarmento prendeu-se com o desenvolvimento industrial de Guimarães. Logo nos primeiros tempos, mesmo antes da instalação oficial da Sociedade, foi apresentada pelo Director Domingos Leite Castro uma proposta para se organizar uma exposição concelhia. A ideia seria retomada no início de Dezembro de 1883, quando a linha de comboio já se aproximava de Guimarães. Nessa altura, a direcção da Sociedade decidiu pela “conveniência de, por ocasião da abertura do caminho-de-ferro de Bougado a Guimarães, se efectuar nesta cidade uma exposição industrial na conformidade de uma proposta há tempos apresentada pelo nosso colega o Sr. Domingos Leite de Castro”. De imediato se tratou da reparação da exposição, que contará com grande adesão por parte das actividades produtivas vimaranenses.

Alberto Sampaio, que seria autor, com Joaquim José de Meira, do Relatório da Exposição Industrial, desde cedo teve o seu nome associado à exposição de 1884, da qual, mais do que Director Técnico, tarefa em que foi formalmente investido, seria o principal mentor. Não por acaso, o primeiro texto que Alberto Sampaio publicou na Revista de Guimarães, era uma reflexão sobre a necessidade de promover uma mostra da indústria vimaranense, em que responde à pergunta Convirá promover uma exposição industrial em Guimarães?

“[…] Uma exposição em Guimarães não só é conveniente, mas impõe-se como uma necessidade, se a considerarmos como o primeiro passo para o rejuvenescimento e aperfeiçoamento tanto das suas antigas industrias como das que têm sido introduzidas nestes últimas quarenta anos. Esta necessidade acentua-se tanto mais se se atender à sua variedade, à localização dispersa por toda a área do concelho e à apatia de que estão sofrendo muitas delas. Reunidas, postas em face umas e outras, ver-se-á mais claramente, duma maneira palpável e irrefutável, a grande importância que o trabalho fabril ocupa no regime económico do concelho, e como o seu desaparecimento se traduziria por uma verdadeira desgraça para a população que o habita.

Ponderemos também que o inquérito de 1881 é muito omisso neste ponto; omissão que resultou provavelmente já da dificuldade de colher os elementos necessários atenta a sua disposição topográfica, como talvez também por falta de tempo. Será pois uma ocasião oportuna de preencher aquela falta, e formular um relatório que contenha detalhada e precisamente todo o movimento industrial de Guimarães, indagando-se ao mesmo tempo todos os factos que constituem a sua economia e trazendo a lume todos os esclarecimentos que sejam a base para os trabalhos a seguir.

Considerada assim, no ponto de vista acima exposto, como ocasião de estudo, como incentivo que reanime o moral da população, como ponto de partida em suma, uma exposição aqui como em qualquer outro centro produtor, tem uma razão de ser determinada; esforço parcial, mas subordinado a um pensamento geral, faz parte, diremos antes, é um poderoso meio de acção deste movimento geral que antes de se estender e envolver toda a terra portuguesa, terá de se ir acentuando isoladamente em todos os grupos produtores.

Se o país tiver ainda a vitalidade e os meios suficientes para levar a cabo esta empresa, se os homens que a iniciaram e os que se lhes vierem juntando nesta longa peregrinação, conseguirem restaurar o trabalho português indústria agrícola e fabril – poderemos então esperar ainda que qualquer que seja a crise mais ou menos grave, que parece avançar dia a dia sobre o horizonte nacional, essa será apenas uma perturbação passageira, que causará sem duvida a ruína de muitos, mas deixará viva a massa da nação e com os elementos necessárias para começar um novo ciclo histórico.”

Alberto Sampaio, “Resposta a uma pergunta. Convirá promover uma exposição industrial em Guimarães?”, in Revista de Guimarães n.º 1, fasc. 1, Jan.-Mar. Jan.-Mar. 1884, p. 25-34.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Natal de 1843: morre o Cónego José Teixeira

Zona do Castelo (no primeiro plano, terras removidas do antigo cemitério, conhecido por “Campo Santo Velho”)

25 de Dezembro de 1843: Às 4 horas da manhã faleceu o cónego prebendado José de Abreu Cardoso Teixeira, clérigo de prima tonsura, desta vila, da rua dos Mercadores, cavaleiro professo das Ordens de Cristo e Conceição, tinha 55 anos. Por disposição testamentária esteve a seu cadáver em casa no dia 26, e junto à noite foi acompanhado pelo Cabido, Ordem 3.ª Franciscana e mais algumas irmandades para o Campo Santo e aí foi dado à sepultura. P. L.

[Nota das
Efemérides Vimaranenses, de João Lopes de Faria, a partir de um apontamento do Cónego José Pereira Lopes]

O Cónego José Teixeira era tio de Emília Ermelinda, mãe de Alberto Sampaio. Foi em sua casa que, dois anos antes, nasceu o futuro historiador das Vilas do Norte de Portugal.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Da abertura das comemorações

Intervenção da Dra. Maria Augusta Sampaio da Nóvoa Faria Frasco, sobrinha-bisneta de Alberto Sampaio, na Sessão Solene de abertura das comemorações do centenário:

Foi em 1 de Dezembro de 1908 – completam-se hoje precisamente 99 anos – que na Casa de Boamense, em Cabeçudos, Vila Nova de Famalicão, faleceu Alberto Sampaio, justamente considerado como um dos grandes historiadores portugueses do século XIX. Cabe-me a mim, sua sobrinha bisneta, proferir, em nome da Família, algumas palavras a seu respeito nesta sessão inaugural das comemorações do centenário da sua morte, o que faço com natural e compreensível orgulho.

Tenho para mim como certo que dos grandes Homens é a vida que se celebra e, por isso acredito que, como escreveu Saramago, “Ninguém morre enquanto vive na memória dos outros”. A morte é, para eles não o fim mas o início da eternidade.

As minhas lembranças de Alberto Sampaio foram até à minha entrada na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, aquelas que, de um modo especial meu avô António Vicente e minha tia-avó Maria Henriqueta transmitiram a mim e aos meus seis irmãos. Sabia que tinha sido um Homem notável, amigo de Antero de Quental, que o visitava frequentemente em Boamense onde tinha o seu quarto, de Oliveira Martins, Ricardo Severo, Martins Sarmento, António Feijó, Luís e Jaime de Magalhães Lima, entre outros, que dedicara a sua vida à investigação histórica, que fora um extraordinário vitivinicultor, que adorava a floricultura, que fora um homem simples e bom que sempre escondeu, numa humildade nunca fingida, todo o seu enorme saber. A biblioteca da Casa de Boamense, onde escreveu grande parte da sua obra rodeado dos seus livros, foi um local onde me habituei a entrar com respeito, direi mesmo com uma certa veneração por meu tio Alberto e meu bisavô José, familiares sempre presentes nas nossas vidas.

Penso que, às vezes, a vida marca encontros com as pessoas. E foi assim que em Coimbra, no ano lectivo de 1949-50, pela primeira vez tive perfeita consciência de quem era Alberto Sampaio quando, com indisfarçável orgulho, numa aula de História de Portugal, ouvi o Professor Doutor Torquato Soares falar de meu Tio nos mais elogiosos termos pondo em relevo a sua notável craveira de Historiador. Os meus 18 anos vibraram intensamente com a descoberta da sua projecção nacional: era um nome grande entre os Historiadores Portugueses! Escrevi ao meu avô, relatando o que ouvira e, pouco tempo depois recebi pelo correio com dedicatória muito amiga os dois volumes dos “Estudos Históricos e Económicos”.

Mais tarde, em 1956, voltaria a emocionar-me na solene inauguração do monumento a Alberto Sampaio, que esta cidade onde nasceu decidiu erguer em sua memória e na conferência sobre meu tio-bisavô proferida pelo meu antigo professor de Coimbra, Doutor Torquato Soares, no salão nobre da Sociedade Martins Sarmento em 10 de Junho daquele ano.

“Nunca boa árvore deu maus frutos”, foi com esta citação bíblica que Alberto Sampaio em 1860, com apenas 19 anos de idade, iniciou um artigo publicado na revista «O Académico», sobre Caixas Económicas, no qual já revela enorme lucidez ao escrever: “o engrandecimento moral e material de um país não se ganha tão facilmente como alguém pode julgar; é necessário que trabalhemos todos e muito, uns para os outros”.

Os seus trabalhos históricos, As Vilas do Norte de Portugal e “As Póvoas Marítimas”, são considerados obras primas do século XIX.

E que dizer do seu trabalho O Presente e o Futuro da Viticultura no Minho? Datado de 1884, este notável trabalho revela bem a clarividência do pensamento de Alberto Sampaio, defendendo a criação de regiões vinícolas em Portugal, numa época em que a pombalina Região Demarcada do Douro era a única existente no país. O seu brilhante trabalho de análise sociológica do século XIX, Ontem e Hoje, revela sobretudo o pensamento esclarecido e lúcido de quem sempre procurou descobrir a verdade.

A sua proverbial modéstia ficou claramente demonstrada nestas palavras escritas quando alguém o tratou por Mestre: “Mestre! Ah! Como estou longe dessa perfeição. Hei-de morrer simples estudante, vendo sempre, a cada passo, no assunto mais simples, novos horizontes ignorados. A questão para mim é aproveitar o pouco que tenho aprendido; talvez esse pouco possa servir a alguém e, se servir, compensar-me do tempo gasto”.

Era um homem bom, tolerante, um poeta e construtor de sonhos, capaz de se emocionar até às lágrimas ao ver uma árvore derrubada pelo mau tempo, vibrando de alegria com as suas descobertas históricas ou com os êxitos na agricultura ou vitivinicultura. Do seu voluntário isolamento em Boamense onde o atraíam os velhos alfarrábios e os seus mestres de todos os dias “as árvores e os ribeiros, o silêncio que habita o céu estrelado, a paz que mora entre outeiros isolados , emergiu o escritor e o pensador com a mais alta compreensão do sentido integral da História, capaz de compreender, segundo as suas próprias palavras, que “as ideias são património comum da vida espiritual como o ar, a luz, e o calor da vida física”.

O seu desejo de paz e serenidade está bem revelado nestas palavras dirigidas a Jaime de Magalhães Lima, cerca de um ano antes de morrer: “Esperemos; pois na esperança contem-se já um como antegosto desta tranquilidade que tanto desejamos; e na nossa pobre vida jamais conseguiremos a realização de todo o nosso ideal”.

Antero num dos sonetos consulta as suas melhores memórias de outras idades:

E disse-lhes – No mundo imenso e estreito
Valia a pena, acaso, em ansiedade
Ter nascido? Dizei-me com verdade,
Pobres memórias que eu ao seio estreito…

Mas elas perturbaram-se – coitadas!
E empalideceram, contristadas
Ainda a mais feliz, a mais serena…

E cada uma delas, lentamente
Com um sorriso íntimo, pungente
Me respondeu – Não, não valia a pena!

Fora eu uma dessas memórias e trocava a negativa pela afirmativa: Sim, valeu a pena!

Maria Augusta Sampaio da Nóvoa Faria Frasco
Museu de Alberto Sampaio, 1 de Dezembro de 2007

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Alberto Sampaio: Artes e Letras: concurso para as escolas

Está em andamento o concurso “Alberto Sampaio: Artes e Letras”, promovido no âmbito das comemorações do Centenário de Alberto Sampaio. Dirigindo-se às escolas dos concelhos de Guimarães e Vila Nova de Famalicão, esta iniciativa apela à apresentação de trabalhos sobre Alberto Sampaio e o seu tempo, devendo partir da exploração de aspectos singulares da biografia do historiador.

Os trabalhos deverão ser entregues até 30 de Abril de 2008. A entrega dos prémios está prevista para a na sessão de encerramento das Comemorações do Centenário de Alberto Sampaio, a realizar no dia 1 Dezembro de 2008.

Consultar o regulamento: aqui.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Do nascimento de Alberto Sampaio - 2

Emília Ermelinda da Cunha Cardoso Teixeira, natural da freguesia de Nossa Senhora da Oliveira, casou aos 27 anos de idade com o juiz Bernardino de Sampaio Araújo, originário de S. Cristóvão de Cabeçudos, no dia 25 de Maio de 1840. O casamento duraria menos de dois anos, por força do falecimento do marido. Entretanto, antes de transcorridos 18 meses sobre a data do casamento, nasceram duas crianças, primeiro José, depois Alberto.

Ao contrário do que possa parecer, nada existe que nos permita supor que, em ambos os casos, não terão sido gravidezes a termo. José nasceu 261 dias após o casamento dos pais, o que se situa ligeiramente acima do limiar inferior do tempo de referência para uma gravidez a termo (37 semanas), um pouco menos de 9 meses. Alberto nasceu 283 dias depois, o que dá um intervalo de quase 40,5 semanas. Por regra, no passado, os intervalos entre os nascimentos eram bastante mais dilatados do que este, porque, na ausência de aleitamento artificial, as crianças eram amamentadas pelas suas progenitoras durante períodos mais ou menos largos, o que, por regra, resulta num período de amenorreia (ausência de ovulação) enquanto dura a amamentação. Ora, nos estratos sociais mais altos, ao longo do nosso século XIX (e mesmo posteriormente), era comum o recurso a amas-de-leite. Assim terá sucedido, seguramente, com Emília Ermelinda, que terá entregue a amamentação do seu primeiro filho a uma ama, o que anulou a possibilidade de amenorreia por lactação. Assim se explica que, pouco tempo transcorrido após o primeiro parto, a senhora estivesse grávida de Alberto.

Nenhum mistério, portanto. Até porque não há nenhum indício de que Alberto pudesse ter tido um nascimento prematuro, uma vez que no seu registo de baptismo não há referência a que tivesse sido ensopeado, isto é, baptizado em casa, de emergência e sub conditione, conforme era uso em casos que tais. [AAN]

[Texto também publicado aqui]

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

No lançamento da "História de Alberto"

Começo por agradecer a vossa presença neste fim de tarde para assistirem ao lançamento do livro “História de Alberto”, um livro escrito a pensar nos mais pequenos.

Antes de apresentar o livro, permitam-me alguns agradecimentos. À Dr.ª Isabel Fernandes, Directora do Museu e membro da Comissão Organizadora das Comemorações, pelo entusiasmo que me transmitiu desde o primeiro momento e pelo apoio incondicional à publicação do livro. Agradeço também ao Dr. Emídio Ribeiro, administrador da Editora Campo das Letras, pela aposta editorial que fez na “História de Alberto”.

O projecto de escrever o livro “História de Alberto”, baseado na vida de Alberto Sampaio, surgiu de uma proposta apresentada pela Dr.ª Isabel Fernandes. O projecto pareceu-me aliciante e irrecusável. O livro aí está para ser avaliado pelos meus melhores críticos, os leitores de palmo e meio!

Há sempre duas componentes importantes num livro infantil: o texto e a ilustração. Uma não vive sem a outra e, como tal, deverá haver uma sintonia entre ambas de forma a cativar a atenção e o interesse do pequeno leitor. Não posso pois de deixar de realçar o excelente trabalho de ilustração da Fedra Santos. A combinação da fotografia com o desenho, resultou, na minha opinião, perfeita! As fotografias apresentadas no livro no início de cada capítulo (de Alberto Sampaio, das casas onde nasceu e viveu, do seu amigo predilecto Antero de Quental, de lugares que frequentou) permitem não só recriar os cenários da história, como emprestam um toque de realismo e, consequentemente, de maior envolvimento do leitor com a personagem principal, Alberto Sampaio. Os desenhos da Fedra, esses falam por si como teremos oportunidade de ver de seguida.

Na escrita do livro tivemos em conta a selecção de acontecimentos que por um lado evidenciassem quem foi Alberto Sampaio, por outro despertassem o interesse das crianças por conhecerem o personagem principal. Apostamos por isso numa narrativa com predominância de diálogos, aos quais juntamos alguns “ingredientes” essenciais em histórias infantis – a fantasia e humor.

[Palavras de Emília Nóvoa Faria, no lançamento do livro História de Alberto, no Museu de Alberto Sampaio, em Guimarães, no dia 1 de Dezembro de 2007]

domingo, 2 de dezembro de 2007

Raízes liberais de Alberto Sampaio

Bernardino de Sampaio Araújo, pai de Alberto Sampaio, era filho de Manuel Sampaio Araújo e de Ana Maria Carvalho Araújo. Nasceu na freguesia de São Cristóvão de Cabeçudos, em Vila Nova Famalicão. Cursou direito na Universidade de Coimbra, onde o apanhou a revolução liberal de 1820. Formou-se em 1822, vindo a exercer funções de procurador in partibus do Almoxarifado da Vila de Barcelos, cargo que ocupava em 1827. Tendo aderido aos ideais liberais, seria perseguido durante o período da usurpação absolutista, após a aclamação de D. Miguel, acabando por emigrar em 1828. Regressaria a casa em 1834, após a vitória dos liberais na guerra civil. Em 1835 era delegado do Procurador Régio no Juízo de Direito de Famalicão. Em 1837, transitou para as funções de Juiz de Direito Substituto em Guimarães, onde seria eleito deputado substituto em Outubro de 1838. Em Janeiro de 1841, foi despachado juiz de Direito de 1.ª Instância em Celorico de Basto, terra onde viria a falecer, no princípio de 1842.

Entretanto, tinha-se casado com Emília Ermelinda da Cunha Sampaio que, depois do nascimento do primeiro filho, José, nascido na casa paterna, em Cabeçudos, se instalaria em Guimarães, na residência de um tio, o cónego José de Abreu Cardoso Teixeira, na rua dos Mercadores (actual rua da Rainha D. Maria II). Seria aí que aguardaria a chegada do seu segundo filho, Alberto.

O cónego José Teixeira partilhava dos ideais constitucionais de Bernardino de Sampaio e Araújo. Também ele andou fugido às perseguições miguelistas, por ter sido pronunciado na devassa instruída na sequência do decreto de 15 de Julho de 1828. O seu nome estava inscrito no extenso rol dos liberais que foram citados, como ausentes, por alvará do Presidente da Alçada do Porto, para comparecerem perante a Justiça para “se livrarem das culpas e crimes por que estavam pronunciados pelas devassas de rebelião”. Continuaria na clandestinidade, integrando uma lista de 109 pessoas procuradas por crimes políticos, sob quem incidia a ameaça do degredo para os presídios africanos de Cabo Verde, Caconda, Bissau ou Pongo Andongo. Com a vitória de D. Pedro IV e de D. Maria II, em 1834, o cónego Teixeira estará do lado dos vencedores, sendo premiado com a conesia do Cónego Pedro de Morais Correia de Sá e Castro, que foi expulso, por ser partidário dos miguelistas. Faleceu na madrugada do Natal de 1843, quando contava 55 anos.

Tendo iniciado a sua formação escolar em Guimarães, com o seu irmão José, na aula de Tomás Guilherme (que, muito provavelmente, seria Tomás Guilherme de Sousa Pinto, depois director do jornal vimaranense Religião e Pátria), Alberto Sampaio foi inscrito, com 10 anos completos, no Colégio de João Luís Correia de Abreu, em Landim, Famalicão, próximo da casa de Boamense, em Cabeçudos, para onde entretanto se mudara a sua mãe. Curiosamente, e apesar da forte tradição liberal da sua família, a sua instrução foi entregue a um fervoroso partidário do absolutismo, João Luís de Abreu, que também andara expatriado por razões políticas, mas por motivos opostos aos que justificaram as perseguições ao seu pai e ao seu tio-avô.

[Texto também publicado aqui]

Lançamento do livro «História de Alberto»

É sempre com gosto que o Museu de Alberto Sampaio se associa ao lançamento de publicações. Mais grato nos é lançar um livro que conta aos mais jovens, e de um modo apelativo, quem era Alberto Sampaio que, como bem sabeis, é o patrono deste Museu.

O livro é uma edição da Editora Campo das Letras e teve o apoio da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e do Instituto dos Museus e da Conservação, por intermédio da Rede Portuguesa de Museus. Este é a primeira obra de um conjunto de publicações que irão ser editadas e que contam com a chancela das Comemorações do Centenário de Alberto Sampaio.

Quero aproveitar a oportunidade para agradecer publicamente à Editora Campo das Letras a colaboração que tem concedido a este museu na edição de diversas obras. Esta parceria público-privada tem permitido trazer a lume edições como: «O Bordado de Guimarães: renovar a tradição» (2006), o livro que hoje lançamos, «História de Alberto», bem como a obra «Mestres ourives de Guimarães: séculos XVIII e XIX», que será lançada na próxima terça-feira, pelas 21h30m nesta mesma sala e, um outro livro infanto-juvenil, a sair no início do próximo ano, e intitulado «D. João I: um rei que de Guimarães gostava».

Voltemo-nos agora para o livro que aqui nos traz – «História de Alberto». Emília Nóvoa Faria, sobrinha trineta de Alberto Sampaio, dá a conhecer o nosso homenageado socorrendo-se para isso das histórias que no seio da família se conhecem e se transmitem – ficamos a saber, por exemplo, que tinha um tio cónego; que nasceu e foi baptizado no mesmo dia, aqui ao lado na igreja de Nossa Senhora da Oliveira; e que, porque nasceu no dia de Santo Alberto, Alberto foi o seu nome; sabemos que ele e seu irmão José, gostavam de brincar na Quinta de Boamense, em Famalicão, rodeados pela natureza, apreciando os banhos no rio e as brincadeiras no meio da bicharada, entre a qual se incluía os cavalos Liró e Talvai. Também ficamos a saber que gostava de se deitar tarde e tarde erguer, bem ao arrepio da vontade da velha criada Margarida, e ao arrepio também do velho ditado que diz «deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer».

Outra história curiosa que a família preserva é a de saber-se que no dia em que Alberto morre desponta, «no jardim perto do seu quarto», uma oliveira que ainda hoje lá se encontra. Não admira que tenha nascido uma oliveira, e não um carvalho ou outra árvore qualquer, lembremos que Alberto Sampaio nasceu e foi baptizado em Guimarães na Igreja de Nossa Senhora da Oliveira. O livro conta-nos muitas outras histórias, traçando o seu percurso de vida, os locais por onde andou, as amizades que fez, a obra que publicou… Nos vos contaremos mais nada, porque senão estaríamos a estragar-vos o prazer de ler o livro e de descobrirdes novas facetas da vida de Alberto Sampaio.

Mas, um livro infantil não vive apenas do texto, dele fazem parte integrante as ilustrações. Estas são de extrema importância para despertar nos mais jovens o gosto pela leitura e pelo sonho. O livro foi ilustrado por Fedra Santos que compreendeu bem o espírito do texto e nos delicia com belas imagens como, por exemplo, a do menino Alberto a deliciar-se com marmelada acabada de fazer, ou o nosso homenageado e o seu irmão José a serem recebidos pelos professor Correia de Abreu, um pequeno, simpático e rechonchudo professor de fartos bigodes.

Terminada esta sucinta apresentação do livro, gostaria de concluir dando-vos a conhecer, em traços gerais, os curricula da autora e da ilustradora.

Emília Nóvoa Faria nasceu na Póvoa de Varzim, em Janeiro de 1957. Licenciou-se em Engenharia Química pela Universidade do Porto, tendo desenvolvido actividade profissional na Indústria do Papel entre 1982 e 2002. Nesse ano ingressou no Museu Bernardino Machado, como técnica superior da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, onde actualmente trabalha. No seu percurso pessoal dedicou-se desde muito cedo ao estudo e divulgação da obra do historiador Alberto Sampaio, tendo publicado vários trabalhos com a chancela da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e da Sociedade Martins Sarmento. No âmbito da literatura infantil é autora do livro "História de um Presidente", editado pelo Museu Bernardino Machado e de "Os Anões da Floresta e do Papel", editado pela Associação Portuguesa da Indústria de Pasta e Papel.

Confesso que foi contra a sua vontade que referi no curriculum a sua formação como engenheira. Dizia-me a autora que não tinha relevância para as tarefas que hoje em dia realiza. Confesso que discordo, e também confesso que é raro estarmos em desacordo! Mas julgo que o seu percurso académico e profissional lhe dá uma visão, uma abordagem e uma sistematização dos assuntos que provavelmente não teria se a sua formação fosse outra. Não será também demais realçar que a Emília tem sido a alma das Comemorações que hoje se iniciam.

Fedra Santos nasceu em Freamunde, em 1979. Concluiu em 2002 o curso de licenciatura em Design de Comunicação da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto. Em 2003, e em parceria com Abigail Ascenso, criou o atelier de design Furtacores, que se dedica ao design gráfico, fotografia e publicidade e, em particular, à ilustração.

Ao longo de seu percurso profissional teve oportunidade de criar diversas marcas e ilustrar vários livros, como: O livrinho das lengalengas, de José Viale Moutinho; O Rapaz de Bronze, de Sophia de Mello Breyner Andresen; O Cavalo das Sete Cores, de Papiniano Carlos; As Sete Cidades do Arco-Íris, de Vera Santos Silva; Jabiraco, de Marcus Tafuri e Sapinho e Sapão, de Nicolás Guillen.

Tem participado em mostras e feiras onde apresenta o seu trabalho como ilustradora.

Em 2003, a sua curta-metragem de animação «A Macieira» foi seleccionada para o festival Ovarvídeo e para a Festa Mundial da Animação, a decorrer na Casa da Animação do Porto.

Em 2007, foi seleccionada para a Mostra de Jovens Criadores 2007, na área de Fotografia, com a sua obra «Os Velhos».

[Texto lido no dia 1 de Dezembro de 2007, na apresentação do livro por Isabel Maria Fernandes, Directora do Museu de Alberto Sampaio]

Abertura das comemorações

Estão oficialmente abertas as comemorações do centenário da morte de Alberto Sampaio. O acto inaugural cumpriu integralmente o programa previsto, tendo sido muito participado. A Sessão Solene, que teve lugar na Sala de Conferências do Museu de Alberto Sampaio, contou com intervenções da Directora do Museu, Isabel Maria Fernandes, do Presidente da Direcção da Sociedade Martins Sarmento, António Amaro das Neves, de Maria Augusta Leal Sampaio da Nóvoa Faria Frasco, em nome da família, e do Presidente da Câmara de Guimarães, António Magalhães, que falou também em nome do presidente da autarquia de Vila Nova de Famalicão.

Na sua intervenção, Isabel Fernandes, assinalou que o vasto programa das comemorações que agora se iniciam é o resultado de “um trabalho de equipa entre duas Câmaras – a Câmara Municipal de Guimarães e a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão – e duas instituições – a Sociedade Martins Sarmento e o Museu de Alberto Sampaio”.

Destacou também que na programação das actividades, “houve o cuidado de que as comemorações não fossem vocacionadas apenas para o público adulto mas que servissem também para aproximar a figura de Alberto Sampaio das camadas mais jovens. Com essa finalidade será publicado um livro infantil, que hoje aqui iremos lançar, um caderno de exploração e será levado a cabo um concurso escolar e a apresentação de um espectáculo de teatro de marionetas”.

Por seu turno, António Amaro das Neves relevou a personalidade e a obra de Alberto Sampaio, notando que “o que torna Alberto Sampaio numa figura singular que extravasa os estreitos limites concelhios ou regionais é a sua obra de pioneiro dos estudos de história económica e social. Alberto Sampaio foi, no seu tempo, colocado ao lado de Herculano e de Gama Barros, como um dos maiores historiadores portugueses”. Salientando a actualidade da obra de Alberto Sampaio, concluiu dizendo que “a reunião das Câmaras Municipais das terras a que o seu nome está mais ligado, Guimarães e V. N. de Famalicão, do Museu que perpetua o seu nome, da instituição a que pertenceu e da família onde nasceu, para celebrar o seu nome, cem anos transcorridos sobre a sua morte, é um claro sinal de que a obra de Alberto Sampaio continua viva”.

Ler mais:

Intervenção da Directora do Museu de Alberto Sampaio

Intervenção do Presidente da Direcção da Sociedade Martins Sarmento

sábado, 1 de dezembro de 2007

A Sociedade Martins Sarmento na morte de Alberto Sampaio

No dia 2 de Dezembro de 1908, em reunião da Direcção da Sociedade Martins Sarmento, o seu Presidente, Pedro Guimarães, transmitiu a informação do falecimento de Alberto Sampaio, sócio honorário daquela instituição. Esta notícia, bem como as decisões então tomadas pela Direcção da Sociedade, consta na respectiva acta:

"Em sessão de 2 de Dezembro, o snr. Presidente disse que era com sentida mágoa que vinha comunicar à direcção o triste passamento do snr. dr. Alberto da Cunha Sampaio que esta Sociedade contava no número dos seus sócios honorários mais ilustrados e que mais se distinguiram pelos serviços que lhe deram maior impulso. Disse mais, que era largo o rol desses serviços, e que ele os prestara não só a esta Sociedade como a toda a cidade e concelho de Guimarães, avultando o da Exposição Industrial deste concelho, em 1884, para a qual trabalhou denodadamente, vencendo só por si muitos obstáculos, que então surgiram, conseguindo que esse acontecimento fosse uma glória para Guimarães como o foi para ele, seu principal promotor. Assíduo colaborador da Revista de Guimarães, órgão desta Sociedade, os seus artigos são verdadeiras provas da sua alta inteligência e saber, sendo depois de Martins Sarmento, o vimaranense que mais ilustrou a sua terra, como escritor primoroso, revelador duma alta capacidade mental. Que a sua perda era deveras para sentir por esta Sociedade, que muito lhe devia, e abria nos seus membros uma lacuna que tarde seria preenchida. Propunha que na acta desta sessão fosse exarado um voto de sentimento por tão triste incidente; que a direcção se fizesse representar no funeral que se realizaria na freguesia de Cabeçudos, concelho de Famalicão; que, no edifício desta Sociedade, houvesse as respectivas demonstrações fúnebres, e que, finalmente, se mandasse desde já pintar a óleo o retrato do ilustre extinto, como homenagem à sua memória. Esta proposta foi muito aplaudida e aprovada por unanimidade."

O retrato de Alberto Sampaio que figura no início desta nota, da autoria do pintor Mário Cardoso, é o que a Direcção da Sociedade Martins Sarmento decidiu mandar pintar na sua reunião de 2 de Dezembro de 1908.