segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Encerramento das Comemorações do Centenário de Alberto Sampaio



PROGRAMA

1 Dezembro
Espectáculo | Casa das Artes

15h00 Peça de teatro “História do Tio Alberto”, encenada pelos alunos do Centro Social e Cultural de S. Pedro de Bairro. Actuação do coro infantil do Centro Social e Cultural de S. Pedro de Bairro.
15h30 Apresentação multimédia das iniciativas realizadas nas Comemorações do Centenário de Alberto Sampaio
15h45 Entrega dos prémios do concurso “Alberto Sampaio: Artes e Letras”
16h30 Actuação das Vozes D’Oiro


2 Dezembro
Sessão solene | Centro de Estudos Camilianos

10h00 Abertura da sessão solene pelo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Arq. Armindo Costa
10h15 Conferência “Alberto Sampaio, Precursor da História do Presente”, pelo Prof. Amado Mendes
10h30 Apresentação do projecto das novas instalações do Arquivo Municipal Alberto Sampaio

11h00 Pausa para café

11h15 Apresentação multimédia das iniciativas realizadas nas Comemorações do Centenário de Alberto Sampaio
11h30 Entrega de diplomas às instituições, associações e escolas que colaboraram nas Comemorações

Já disponíveis: "Obras", de Alberto Sampaio

Obras, de Alberto Sampaio. Edição da Sociedade Martins Samento, Guimarães, Novembro de 2008, 550 páginas. Preço: 25 euros (envio sem custos acrescidos). Pedidos para:

sms@mail.telepac.pt

Sociedade Martins Sarmento
Rua Paio Galvão
4814-509 Guimarães

Fax n.º 253 415 969

Textos incluídos no volume:

- Nota Prévia, da Direcção da Sociedade Martins Sarmento
- Introdução, por José Amado Mendes
- A propriedade e cultura do Minho
- As Vilas do Norte de Portugal
- O Norte marítimo (Notas para uma história)
- Ontem e hoje
- As Póvoas Marítimas
- Resposta a uma pergunta: Convirá promover uma exposição industrial em Guimarães?
- O presente e o futuro da viticultura no Minho
- O Snr. Oliveira Martins e o seu Projecto de Fomento Rural
- Um exemplo de colonização actual por "fogo morto"
- Antero de Quental – Recordações
- F. Martins Sarmento
- A quarta edição da História de Portugal do snr. Oliveira Martins
- Os filhos de D. João I, de J. P. d’Oliveira Martins
- A propósito do romance marítimo entre nós
- D. Sebastião, de Luís de Magalhães
- Guia prático para o emprego dos adubos em Portugal, de João da Mota Prego
- Numantia. Eine Topografisch-Historische Untersuchung, de Adolf Schulten
- Le droit de marché, de C. Boulanger
- Vimaranis Monumenta Historica

No final, foi introduzido um útil índice analítico.

Lançadas as "Obras" de Alberto Sampaio



No final do segundo dia do “Congresso Alberto Sampaio, Ontem e Hoje”, foram lançadas as Obras, de Alberto Sampaio, uma edição da Sociedade Martins Sarmento integrada nas comemorações do Centenário que reúne a produção científica que o historiador publicou entre 1884 e 1908. A sessão de lançamento contou com intervenções do Presidente da Direcção da SMS e do Prof. José Amado Mendes, que prefaciou o volume.

Aqui se reproduz a nota prévia que a Direcção da SMS fez inserir nesta edição:

O percurso científico de Alberto da Cunha Sampaio encontra algum paralelismo no do seu amigo mais velho Francisco Martins Sarmento. Tal como Sarmento, que apenas chegara aos estudos arqueológicos quando já corria o último terço da sua vida, também Sampaio é um historiador tardio, publicando o seu primeiro estudo científico em 1884, ano em que completou 43 anos de idade. Os primeiros passos do seu percurso de estudioso foram, em grande parte, influenciados pelo fervilhar cultural que naquele tempo agitava Guimarães, a terra que o viu nascer e onde teve a sua residência até ao início da Primavera de 1900, que era, segundo um dos seus biógrafos, “um dos mais brilhantes centros de cultura regional que então floresciam no país”.

A obra histórica de Alberto Sampaio começou a ser construída sob influência de Martins Sarmento. Como mais tarde escreveria Luís de Magalhães, “sobre a base das descobertas do ilustre arqueólogo na parte relativa à proto-história e à etnografia, traçou, o seu primeiro livro, o magnífico estudo sobre A Propriedade e a Cultura no Minho, que, desde logo, o colocou na primeira linha dos nossos publicistas de economia rural”. Desde aquele primeiro ensaio, que começou a publicar na Revista de Guimarães no ano de 1884, Alberto Sampaio assumiu, por direito próprio, um lugar à parte na historiografia portuguesa, construindo, ao longo de um quarto de século, uma obra não muito extensa, mas onde está presente uma voz original e profundamente marcante nos estudos de História Económica em Portugal.

A presente edição tomou como base os Estudos Históricos e Económicos, organizados em 1923 por Luís de Magalhães, tendo sido adoptada uma estrutura um pouco diferente. Em primeiro lugar são publicados cinco ensaios que ocupam um lugar central na obra de Alberto Sampaio (A propriedade e cultura do Minho, As Vilas do Norte de Portugal, O Norte marítimo, Ontem e hoje e As Póvoas Marítimas), inseridos em sequência cronológica, com o propósito de proporcionar a compreensão da génese e do processo de construção do pensamento histórico do autor. Em seguida, publicam-se quatro textos reveladores da atenção de Alberto Sampaio em relação à realidade do mundo em que vivia e da sua preocupação em contribuir para o progresso da sua terra e do seu país (Resposta a uma pergunta: convirá promover uma exposição industrial em Guimarães?, O presente e o futuro da viticultura no Minho, O Snr. Oliveira Martins e o seu Projecto de Fomento Rural e Um exemplo de colonização actual por "fogo morto"). Seguem-se dois textos de evocação de dois vultos da cultura portuguesa do seu tempo, figuras centrais da sua vida e da sua obra, os seus amigos Antero de Quental e Francisco Martins Sarmento. No final do volume, inseriram-se oito notas e recensões bibliográficas que Alberto Sampaio publicou dispersamente.

O historiador Alberto Sampaio foi um dos iniciadores e obreiros da Sociedade Martins Sarmento. À sua colaboração, generosa e desinteressada, ficou esta instituição a dever, nomeadamente, a organização da sua Biblioteca Pública e a promoção da memorável Exposição Industrial de Guimarães de 1884.

Aquando do seu desaparecimento, no primeiro dia de Dezembro de 1908, a Direcção da Sociedade Martins Sarmento descreveu Alberto Sampaio, pela inteligência e pelo saber das suas obras, como, “depois de Martins Sarmento, o vimaranense que mais ilustrou a sua terra, como escritor primoroso, revelador duma alta capacidade mental”. A obra de Alberto Sampaio está indissociavelmente ligada à Sociedade Martins Sarmento, desde o primeiro ao último texto que publicou: grande parte da sua produção científica foi originalmente divulgada na Revista de Guimarães e o último escrito que publicou em vida é uma reflexão sobre os Vimaranis Monumenta Historica, compilados pelo Abade de Tagilde, com o contributo de Alberto Sampaio, e publicados pela Sociedade Martins Sarmento.

A presente edição das Obras de Alberto Sampaio reúne os trabalhos científicos do historiador, tornando-os acessíveis aos estudiosos e ao grande público, pretende ser uma homenagem justa e singela da Sociedade Martins Sarmento a uma das suas principais referências culturais e morais.

Guimarães, Novembro de 2008
A Direcção da Sociedade Martins Sarmento

Congresso "Alberto Sampaio, Ontem e Hoje"

Integrado no programa comemorativo do centenário, decorreu, entre os dias 27 e 29 de Novembro de 2008, o congresso “Alberto Sampaio, Ontem e Hoje”. Ao longo dos três dias, 26 estudiosos de diferentes áreas apresentaram visões contemporâneas da obra de Alberto Sampaio e da sua influência na produção científica dos dias de hoje. As actas do Congresso serão publicadas no final do primeiro trimestre de 2009, na Revista de Guimarães.

Secção de Arqueologia

Intervenção de Álvaro Domingues

Pablo Gallego Picard

Secção de Arquitectura

Alexandre Alves Costa

Secção de História Económica

José Amado Mendes

José Viriato Capela

Secção de Demografia e População

José Manuel Lopes Cordeiro

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

"Obras", de Alberto Sampaio: lançamento no dia 28 de Novembro

No próximo dia 28, pelas 19h00, é apresentado ao público o livro Alberto Sampaio: Obras, uma colectânea que reúne a obra científica de Alberto Sampaio, numa edição da Sociedade Martins Sarmento que assinala o centenário do historiador. O evento, com entrada livre, terá lugar no Pequeno Auditório do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, à margem do Congresso "Alberto Sampaio, Ontem e Hoje".

O volume Obras, de Alberto Sampaio, reúne, ao longo de quase 600 páginas, os mais significantes escritos do Historiador. Em primeiro lugar são publicados cinco ensaios que ocupam um lugar central na obra de Alberto Sampaio, inseridos em sequência cronológica, com o propósito de proporcionar a compreensão da génese e do processo de construção do pensamento histórico do autor. Em seguida, publicam-se quatro textos reveladores da atenção de Alberto Sampaio em relação à realidade do mundo em que vivia e da sua preocupação em contribuir para o progresso da sua terra e do seu país. Seguem-se dois textos de evocação de dois vultos da cultura portuguesa do seu tempo, figuras centrais da sua vida e da sua obra, os seus amigos Antero de Quental e Francisco Martins Sarmento. No final do volume, inseriram-se oito notas e recensões bibliográficas que Alberto Sampaio publicou dispersamente. O prefácio é do Professor José Amado Mendes, prestigiado especialista em História Económica, da Universidade de Coimbra.

O livro estará à venda na Sociedade Martins Sarmento, no Centro de Estudos Camilianos e nas livrarias. No dia do lançamento, o volume terá um preço especial.

Congresso "Alberto Sampaio, Ontem e Hoje"

PROGRAMA

Dia 27

Centro Cultural Vila Flor, Guimarães

9h30

Sessão de abertura

10.00-12.30

1.ª Secção – Arqueologia, coordenada por Francisco Sande Lemos

Manuela Martins e Helena Paula Carvalho: Marcadores da paisagem e organização do território

Ramiro Pimenta: A topografia social do Entre-Douro-e-Minho nos fins do século XIX e a sua influência na regionalização teórica dos programas de investigação arqueológica

14h30-16h30

2.ª Secção – Ordenamento do território, coordenada por Álvaro Domingues

Pablo Gallego Picard: Deriva 1929-2008

Álvaro Domingues: Alberto Sampaio visto de cá e do que a geografia diz

17h00-19h00

3.ª Secção – Arquitectura, coordenada por Paulo Providência

Alexandre Alves Costa: Reflexões sobre a identidade – A propósito de uma releitura de Alberto Sampaio

Maria Manuel Oliveira: O desenho da cidade / a construção da paisagem

Paulo Providência: Rural e Industrial - sobre a construção da Paisagem Industrial do Vale do Ave


Dia 28

Centro Cultural Vila Flor, Guimarães

10.00-12h30

4.ª Secção – História Económica, coordenada por José Amado Mendes

Saul António Gomes: Alberto Sampaio e a historiografia medieval do seu tempo

António Rafael Amaro: Alberto Sampaio no contexto da historiografia portuguesa: a importância do “universo regional”no seu pensamento histórico

José Viriato Capela: Apreciação e crítica ao poder municipal

Manuel Ferreira Rodrigues: A indicar

14h30-16h30

5.ª Secção – Demografia e população, coordenada por Maria Norberta Amorim

Maria João Guardado Moreira: A(s) fronteira(s) do interior peninsular – espaços e realidades

José Manuel Perez Garcia: Transformações agrárias e desenvolvimento da população na Galiza Ocidental

Teodoro Afonso da Fonte: A indicar

Antero Ferreira: Sondagens num espaço urbano: a paróquia de Oliveira do Castelo em 1835

17h00-19h00

6.ª Secção – Sociologia, coordenada por Albertino Gonçalves

Jean-Ives Durand: Os lenços de namorados do Minho: textos, história e histórias

Manuel Carlos Silva: Religiosidade, Igreja e Poder: configurações em duas aldeias minhotas

Moisés Martins: A construção da comunidade pela festa: As festas d’Agonia

José Manuel Lopes Cordeiro: A indústria de cutelaria no concelho de Guimarães

19h00

Lançamento das Obras, de Alberto Sampaio


Dia 29

Centro de Estudos Camilianos, Seide, Vila Nova de Famalicão

10.00-12h30

7.ª Secção – História das Ideias, coordenada por Norberto Cunha

Norberto Cunha: A indicar

Hermenegildo Fernandes: Alberto Sampaio - um medievalista à procura do seu tempo

João Francisco Marques: Alberto Sampaio, pioneiro de uma historiografia renovada

12h30

Sessão de encerramento.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Alberto Sampaio, o Tempo e a Obra

No âmbito das comemorações do Centenário de Alberto Sampaio, foi inaugurada, no passado sábado, dia 15 de Novembro, na Sociedade Martins Sarmento a Exposição Bibliográfica "Alberto Sampaio, o tempo e a obra", que estará patente ao público até ao dia 7 de Dezembro.

Todas as obras que estão patentes nesta exposição pertencem à Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, com excepção dos volumes da Revista de Portugal onde se incluem as primeiras publicações dos textos O Norte Marítimo e Ontem e hoje, que foram cedidos pela Biblioteca Pública de Braga.

Esta iniciativa enquadra-se no programa da homenagem ao historiador Alberto Sampaio que congrega as Câmaras Municipais de Guimarães e de Vila Nova de Famalicão, o Museu de Alberto Sampaio e a Sociedade Martins Sarmento.

A Entrada é livre.



Alberto Sampaio, o tempo e a obra

Um dia, sem sabermos bem porquê, vemo-nos impelidos por uma corrente que determina o nosso percurso.

Alberto Sampaio


Quando escreveu a frase que encima este texto, Alberto Sampaio reflectia sobre o que terá levado Francisco Martins Sarmento a estudar a Citânia de Briteiros e a fazer-se arqueólogo. Mas também estaria a referir-se ao seu próprio percurso, ao modo como ele mesmo se fez historiador. Há um paralelismo singular entre a história de vida de Alberto Sampaio e a do seu sábio amigo Martins Sarmento. Tal como o arqueólogo dos nossos castros, também Sampaio dispunha de meios de fortuna suficientes para não necessitar de viver do seu trabalho; tal como ele, foi um trabalhador dedicado e incansável. Homem de sólida cultura humanista, movido por uma curiosidade nunca satisfeita, abalançou-se na tentativa de compreender os segredos do nosso passado longínquo, construindo uma obra histórica profundamente original e inovadora. À imagem de Sarmento, Alberto Sampaio foi um historiador tardio, iniciando os seus estudos histórico-económicos quando já tinha dobrado os quarenta anos e ia entrando no último terço da sua existência.

A obra histórica de Alberto Sampaio surgiu com as marcas do espírito do tempo e da circunstância em que começou a ser construída. Apesar de sempre ter preferido a sombra à luz, renunciando a lugares de destaque, foi um dos principais obreiros dos primeiros anos da Sociedade Martins Sarmento, instituição que nasceu para mudar profundamente o horizonte cultural da sua terra natal. Assim que surgiu, a SMS introduziu em Guimarães uma agitação profundamente enriquecedora. Fomentou o ensino, criou escolas, abriu uma Biblioteca Pública e instalou um Museu, promoveu os estudos científicos, lançou a Revista de Guimarães. Contribuiu para induzir o impulso de desenvolvimento económico que lavrou em Guimarães em finais do século XIX. Criou cultura. Fez pensar. E Alberto Sampaio, que escreveu, no primeiro texto que publicou na Revista de Guimarães, que “fazer pensar é tudo; e a agitação a única alavanca que pode deslocar esse mundo: pois que agitar quer dizer – instruir, ensinar, convencer e acordar”, também esteve no centro desse pujante movimento de renovação e mudança. Foi naquele tempo e naquela circunstância que Alberto Sampaio ensaiou os seus primeiros passos como historiador.



A exposição “Alberto Sampaio, o tempo e a obra”, tem um único protagonista: o historiador Alberto Sampaio, através dos textos que nos legou. Nesta mostra está patente a obra da maturidade do historiador, que integra todos os estudos que publicou a partir do momento em que iniciou um percurso sólido e marcadamente original na historiografia portuguesa. As obras expostas cobrem o quarto de século que transcorre entre 1884, ano em que publicou o seu primeiro texto na Revista de Guimarães, e 1908, o ano em que desapareceu. Trata-se de uma obra relativamente breve na extensão, mas densa no conteúdo, ou, com a descreveu Luís de Magalhães, “não muito vasta nem volumosa, mas fortemente concentrada e intensa”.

Alberto Sampaio introduziu uma visão inovadora da História, “sem personagens”, centrada não nos gestos das grandes figuras históricas, mas no pulsar colectivo das gentes, como o notou Jaime de Magalhães Lima:

Grandes individualidades puderam formar e reger grandes governos, mas só a grandeza dos povos significará e alimentará a grandeza das nações. O primeiro acto de uma nova e mais justa concepção da história nacional será libertar-nos do fetichismo das individualidades e contemplarmos as energias da grei, tal qual aprendemos na lição magnífica que Alberto Sampaio nos legou.


sábado, 15 de novembro de 2008

"Alberto Sampaio, o tempo e a obra - exposição na Sociedade Martins Sarmento"

Alberto Sampaio: A Propriedade e Cultura do Minho -
estudo histórico e d'economia rural (1888)


No âmbito das comemorações do Centenário de Alberto Sampaio, é hoje, dia 15 de Novembro, pelas 16:00, inaugurada na Sociedade Martins Sarmento a Exposição "Alberto Sampaio, o tempo e a obra", que estará patente ao público até ao dia 7 de Dezembro.

A entrada é livre.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Cartas de Camilo e Antero de Quental a Alberto Sampaio reunidas em livro


A grande amizade e cumplicidade que o historiador Alberto Sampaio mantinha com Antero de Quental, a relação de cordialidade com Camilo Castelo Branco, as descobertas na arqueologia partilhadas com Martins Sarmento e os debates de história e política com Oliveira Martins estão agora expressos em livro, no primeiro volume de “Cartas a Alberto Sampaio”, que reúne a correspondência dirigida ao historiador no período entre 1864 e a data da sua morte em 1908. A obra que será apresentada no próximo dia 14 de Novembro, pelas 17h30, na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, em Vila Nova de Famalicão, inclui, ao todo, 216 cartas. A apresentar a obra estará o presidente do Centro Nacional de Cultura, Guilherme d'Oliveira Martins.

Cobrindo praticamente toda a vivência adulta de Alberto Sampaio, a obra dá a conhecer as relações de trabalho e amizade mantidas com diversas figuras da cultura portuguesa, desde os seus 22 anos, à época em que concluiu os estudos em Coimbra, à fugaz passagem por Lisboa, e até ao regresso ao Minho, mais precisamente à sua Quinta de Boamense, em Vila Nova de Famalicão, onde morreu aos 67 anos de idade.

O universo das pessoas com quem se relacionou e que assinam estas cartas é a todos os títulos notável, desde simples amigos dos tempos de Coimbra como José Falcão, irmãos Faria e Maia, António de Azevedo Castelo Branco, Alberto Teles, Pinto Osório e Inácio de Vasconcelos, passando pelos que pontificaram no círculo de Guimarães como Francisco Agra, Joaquim José de Meira até aos que na época e nos mais diversos domínios, marcaram a “intelligentsia” nacional, filósofos, poetas e escritores (Antero de Quental, Camilo Castelo Branco, Luís de Magalhães, Jaime de Magalhães Lima), historiadores (Oliveira Martins, Gama Barros, Abade de Tagilde, João Gomes de Abreu de Lima), arqueólogos e etnólogos (Martins Sarmento, José Leite de Vasconcelos, Rocha Peixoto, José Fortes, Ricardo Severo), enologistas (Abílio da Costa Torres e José Macedo Souto Maior), jornalistas (Bento Carqueja), filólogos e orientalistas (Guilherme de Vasconcelos Abreu e Aniceto dos Reis Gonçalves Viana).

Com toda esta plêiade de figuras suas contemporâneas, Alberto Sampaio estabeleceu uma correspondência, em cuja riqueza de conteúdo se espelha a plenitude intelectual de uma geração. Com 420 páginas, o livro “Cartas a Alberto Sampaio”, conta com organização, introdução e notas de Emília Nóvoa Faria e António Martins, e tem a chancela da Campo das Letras. O lançamento da obra insere-se nas comemorações do centenário da morte de Alberto Sampaio, que envolve os municípios de Famalicão e Guimarães, a Sociedade Martins Sarmento e o Museu Alberto Sampaio, e decorrem até ao final do ano de 2008.

Organizada em dois volumes, “Cartas a Alberto Sampaio” e “Cartas de Alberto Sampaio”, esta edição inclui um importante acervo documental de correspondência inédita proveniente do Arquivo Municipal de Alberto Sampaio e do Fundo Documental da Casa de Boamense, em Vila Nova de Famalicão, para além de cartas depositadas na Biblioteca Nacional, no Museu Nacional de Arqueologia, na Biblioteca Marciana de Veneza e outras que foram facultadas pelas famílias de João Gomes de Abreu Lima e de Jaime de Magalhães Lima.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Folclore da Oliveira

A Oliveira de Guimarães (fotografia do séc. XIX)

Conta Heródoto (Liv. VIII, 54 e 55) que Xerxes, tendo ocupado Atenas e incendiado a cidadela, mandara que os exilados atenienses, que o acompanhavam, fossem fazer ali os sacrifícios segundo os seus ritos. Ora na cidadela havia um templo consagrado a Erechteus, filho da Terra, onde se via “uma oliveira e um mar”.

O incêndio, destruindo o templo, queimou também a árvore; mas os banidos, quando entraram ao recinto, notaram com espanto que tinha já lançado um rebento de um côvado de comprido.

Compare-se com esta a que se encontra em Guimarães.

Wamba – o suevo, lavrando placidamente o seu campo, como lhe anunciassem que os godos o tinham feito a ele – pobre campónio, rei da Espanha, espetara no chão a aguilhada seca de oliveira e dissera – “Quando esta vara der rama, serei eu rei Wamba”.

E de facto, a vara, reverdecendo, vestiu-se de vergônteas.

Na legenda portuguesa talvez se possa ver também (Tacitus, De Sit, m. et Pop. Germâniæ) o antigo costume teutónico de deitar sortes com ramos de árvores frutíferas.

Agosto 9, 1887.
ALBERTO SAMPAIO
[In Aurora da Penha, n.º único, Guimarães, 29 de Agosto de 1887]

terça-feira, 28 de outubro de 2008

O Centenário do nascimento de Alberto Sampaio em Guimarães

Rua da Rainha, Guimarães, numa fotografia da primeira metade do séc. XX. A seta assinala a casa onde nasceu Alberto Sampaio.

No dia 15 de Novembro de 1941, foi assinalado em Guimarães o centenário do nascimento de Alberto Sampaio, com um conjunto de actos que incluíram o descerramento da placa indicativa na rua que tem o nome do historiador, a colocação de uma outra placa na casa onde nasceu, na Rua da Rainha, e a aposição da primeira pedra do seu monumento, no Largo dos Laranjais. Aqui se transcreve a notícia sobre esta homenagem que então foi publicada pelo jornal O Comércio de Guimarães, na sua edição de 21 daquele mês:


A homenagem que Guimarães prestou à memória de Alberto Sampaio

Nem a chuva impertinente e teimosa que caiu durante todo o dia de sábado, nem a circunstÂncia de se tratar de um dia de trabalho e de feira, diminuíram o brilho das cerimonias com que nesse dia Guimarães iniciou as homenagens prestadas à memoria de Alberto Sampaio, vimaranense insigne e português de lei.

Já a imprensa diária lhe deu o preciso relevo, o que não quer dizer que o nosso jornal não arquive as passagens mais importantes que honraram a cidade que as promoveu.

A missa realizada na Colegiada, teve a assistência dos membros da família do homenageado, das autoridades civis e eclesiásticas, dos Organismos Corporativos, de Magistrados, Legião e Academia, funcionários públicos, colégios, muitas senhoras, Bombeiros Voluntários, agremiações católicas e civis com os seus estandartes, e muitas centenas de fieis. Foi celebrante o ilustre Arcipreste local.

O Museu que está contíguo ao templo e tem o nome de Alberto Sampaio, teve abertas as suas portas durante o dia, e lindas e mimosas flores atapetavam o seu solo. Enternecedora ideia 1

Às 15 ½ horas, na Avenida 31 de Janeiro, foi solenemente descerrada a placa que dá o nome do ilustre Morto àquela artéria.

Foi um acto soleníssimo, não só pela enorme afluência de pessoas que se apinhou no espaçoso largo, mas pela brilhante oração proferida pelo ilustre feitor do Liceu de Guimarães, o nosso prezado amigo o snr. dr. Feliciano Ramos.

Sua exa., que é um erudito e a quem a instrução deve já relevantes serviços, focou Alberto Sampaio em todas as suas facetas, fazendo-o com brilho e erudição, prendendo a atenção do auditório, selecto e muito numeroso.

A chuva, que nessa altura caía sem cessar, não afastou a concorrência, entre a qual se viam as nossas autoridades civis e religiosas, professores dos nossos estabelecimentos de ensino e culturais, escolas, colégios, Bombeiros, agremiações corporativas, muitos estudantes, Comandante e Oficiais da L. P., Academia, clero, etc. etc. A placa foi descerrada pela sobrinha do Morto a ex.ma snr.ª D. Emília Leal de Sampaio.

O cortejo, muito numeroso, seguiu para a rua da Republica, onde ia descerrar-se uma lápide na casa onde nasceu um dos mais ilustres Vimaranenses.

Junto à mesma, o vice-presidente da Sociedade Martins Sarmento, o snr. dr. Augusto Gomes de Castro Ferreira da Cunha, proferiu um primoroso discurso, salientando os profundos laços de amizade e afinidades espirituais e culturais que ligaram, em vida, os dois Sábios, - Alberto Sampaio e Martins Sarmento.

Em seguida, a sobrinha do Morto, a exma. snr.ª D. Maria Henriqueta Leal Sampaio de Carvalho, descerrou a lápide, ouvindo-se uma calorosa salva de palmas.

No Largo dos Laranjais, realizou-se em seguida o lançamento da 1.ª pedra para o Monumento que ali vai erguer se a Alberto Sampaio.

Apesar da chuva copiosa que teimava molhamos, o largo encheu-se por completo, vendo-se entre a assistência, não só a família do homenageado, mas as autoridades e pessoas de representação.

O sobrinho do Morto o snr. conselheiro dr. Leal Sampaio, lançou as moedas na caixa, após o que foi cimentada a primeira pedra. O ilustre presidente da Câmara de Guimarães, leu uma formosa alocução, pondo em relevo a cultura de Alberto Sampaio, o amor entranhado que sempre dedicou à sua Terra, que agora, muito justamente, lhe perpetua a memória e o aponta aos vindouros, como exemplo a imitar e a seguir.

Estava terminada a 1.ª parte das homenagens a prestar a Alberto Sampaio, que continuarão no 1.° de Dezembro, com a romagem ao seu tumulo.

Como acima dizemos, estiveram em Guimarães os sobrinhos do Morto, o exmo. snr. Conselheiro Dr. António Vicente Leal Sampaio, exma. Irmã, Filha, Genro e netos, que foram hóspedes de seu primo o nosso prezado amigo e considerado capitalista e proprietário o snr. José da Costa Vaz Vieira.

sábado, 25 de outubro de 2008

Congresso "Alberto Sampaio, Ontem e Hoje"

[clicar na imagem, para ampliar]
Cartaz do Congresso

No quadro do programa das comemorações do Centenário de Alberto Sampaio, realiza-se, nos próximos dias 27 a 29 de Novembro, em Guimarães e em Vila Nova de Famalicão, o Congresso Alberto Sampaio, Ontem e Hoje, que reunirá especialistas de diversas áreas do saber, os quais irão debater a influência de Alberto Sampaio e da sua obra científica nos dias de hoje.

Há muito que Alberto Sampaio é reconhecido como pioneiro dos estudos de história económica e social em Portugal, tendo sido um dos iniciadores da investigação das temáticas da história agrária no nosso país, com a publicação na Revista de Guimarães, em 1885, do primeiro artigo da série A propriedade e a cultura do Minho, a que daria continuidade com a sua obra mais conhecida, As vilas do Norte de Portugal. Com os textos sobre o Norte marítimo e As póvoas marítimas, outra das suas obras maiores, Alberto Sampaio deu também um forte impulso inicial aos estudos sobre a problemática do desenvolvimento marítimo. Ao longo de mais de duas décadas construiu uma obra sólida que o transformaria numa das referências incontornáveis da nossa cultura.

Alberto Sampaio foi, essencialmente, um historiador. Porém, o seu trabalho científico nunca se confinou aos limites da História, trabalhando sempre numa perspectiva multidisciplinar, que abrange áreas do saber que vão da Arqueologia à Geografia, da Economia à a Política, da Etnografia à Sociologia ou à Linguística.

O Congresso Alberto Sampaio, Ontem e Hoje propõe-se revisitar a obra do historiador, destacando a sua influência na produção científica dos tempos que correm, proporcionando um momento de convergência de olhares de especialistas que se posicionam em diferentes áreas das ciências humanas e sociais e que se repartirão por sete secções:

- Arqueologia, coordenada por Francisco Sande Lemos, da Universidade do Minho

- Arquitectura, coordenada por Paulo Providência, da Universidade de Coimbra

- Demografia e População, coordenada por Norberta Amorim, da Universidade do Minho

- História das Ideias, coordenada por Norberto Cunha, da Universidade do Minho

- História Económica, coordenada por J. M. Amado Mendes, da Universidade de Coimbra

- Ordenamento do Território, coordenada por Álvaro Domingues, da Universidade do Porto

- Sociologia, coordenada por Albertino Gonçalves, da Universidade do Minho.

As inscrições para participar no Congresso Alberto Sampaio, Ontem e Hoje, são gratuitas e estão abertas até ao próximo dia 20 de Novembro.

Mais informações em http://www.albertosampaio.blogspot.com/. Os pedidos de informações deverão ser encaminhados através do seguinte endereço de correio electrónico: mailto:albertosampaio2008@gmail.com

O Congresso Alberto Sampaio, Ontem e Hoje é uma iniciativa da Comissão Organizadora do Centenário de Alberto Sampaio, que reúne a Câmara Municipal de Guimarães, a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, o Museu de Alberto Sampaio e a Sociedade Martins Sarmento.

A Comissão Organizadora.

Descarregar ficha de inscrição


domingo, 5 de outubro de 2008

O Castelo de Guimarães, num texto de Alberto Sampaio

O Castelo de Guimarães no início do século XX


O Castelo de Guimarães

Consta das Inquirições (pág. 736 e 737) que Afonso Henriques deu aos moradores intus castelli, frase que empregam sempre, certos privilégios, confirmados por Sancho I. E aí o rei, além de açougues, de um forno e terreno não edificado, tinha a sua própria habitação; - “et aliud casale quod tenet Petrus Gomecii qui moratur in Castello Vimarañ non dat ullam derecturam. Interrogatus quare, dixit quod propter quod habet varrere ipsas domos castelli Domini Regis et curare illas et revolvere in quolibet anno” (Inq., pág. 723, 1.ª col.). A estas domos chama com propriedade o conde D. Henrique nosso Paço Real na doação, feita por ele e pela rainha D. Teresa a Amberto Tibaldi, de certo campo “quem habemus in Villa de Vimaranis et jacet juxta Palatium nostrum Regale, et ex alia parte sicut dividiteum clausis Ecclesiae Sanctae Mariae, deinde sicut intestat cum atrio ejusdem Ecclesiae” (Souza, Provas, tom. I pág. 3; cf. Herc., Hist. de Port., III, pág. 214, 2.ª ed ). As Inquirições distinguem o lugar Sancti Michaelis Castelli Vimarañ da Ville Vimarañ (pág. 736 e 727) No primeiro ficava o palácio e pegado com ele o campo já na Villa Vimarañ, o qual vinha desde cima entestar com o adro da igreja de Santa Maria. O palácio estava porventura no mesmo sítio, onde por doação do pai, o primeiro duque de Bragança levantou a vivenda monumental (hoje quartel militar), visto que as doações régias recaíam sempre em imóveis do plena propriedade da coroa. Perto pois da fortaleza iniciada no século X e abrigada por ela, existiu uma povoação antes da monarquia portuguesa, onde pousariam os reis de Leon, quando vinham à província, e de ordinário os condes que a administravam. Estabelecendo aí a sua residência o conde D. Henrique o D. Teresa, não admira que por tal motivo o povo lhe chamasse logo villa em virtude das prerrogativas da sede do governo e por isso velha em relação ao povoado em baixo, sem elas, junto do mosteiro.

QUANTO AO CASTELO EXISTENTE, CONCERTEZA NÃO PODE SER NA TOTALIDADE O PRIMITIVO NEM TALVEZ O DO TEMPO DE AFONSO III. A torre de menagem tem, é facto, a porta em arco e as ameias são de duas peças, posto que do tipo das outras: mas depois da ogiva que se vê nos torreões da muralha envolvente, o que apareceu em França do século XII por diante, construiu-se com as duas formas e com padieira direita (cf. de Caumont). A mesma porta referida está nivelada com a muralha, de modo a receber ingresso dela pela ponte levadiça. Em geral o edifício deixa-nos a impressão de um plano uniforme, parecendo ser o sistema de construção idêntico em todo. As muralhas que circundaram os dois povoados urbanos, foram edificados por D. Diniz e por D. Fernando; por D. João I as torres das portas, infelizmente hoje demolidas, das quais apenas subsiste um pequeno resto da de S. Paio. EM QUALQUER DESTES REINADOS, TALVEZ NO PRIMEIRO, O CASTELO FOI REEDIFICADO NA FORMA ACTUAL SE NÃO NO TODO PELO, MENOS NA MAIOR PARTE.

Alberto Sampaio.

1903.

[Texto publicado no jornal Independente, de Guimarães, em 5 de Agosto de 1911]

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

4 de Outubro: Mostra Vinícola alusiva a Alberto Sampaio

O presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Armindo Costa, convida os órgãos de comunicação social a participar na Mostra Vinícola, com o lançamento da garrafa comemorativa do centenário da morte de Alberto Sampaio, que se realiza amanhã, sábado, dia 4 de Outubro, a partir das 15h00, na Casa de Boamense, onde o historiador viveu e terminou os seus dias, localizada na freguesia de Cabeçudos, em Vila Nova de Famalicão.

O ponto alto da cerimónia será a apresentação da garrafa comemorativa do Centenário da morte de Alberto Sampaio, um momento animado pela actuação dos Tocadores e Cantadores ao Desafio Famalicense. O vinho, fruto da colheita de 2007, produzido pela Sociedade Agrícola da Quinta de Boamense, fundada pelos descendentes de Alberto Sampaio, é, de acordo com Armindo Costa, “um vinho especial, que queremos que seja eterno, perdurando na história, como símbolo de homenagem ao pioneirismo e audácia de Alberto Sampaio”.

A cerimónia que contará com a presença de nove produtores do concelho, ficará também marcada pela realização da XXXV Entronização da Confraria do Vinho Verde, que proclamará confrade-mestre, entre outros, o presidente da Câmara Municipal de Famalicão, Armindo Costa.

De seguida irá decorrer uma conferência dedicada ao tema “Os Novos Desafios do Vinho Verde”, tendo como orador convidado o enólogo Anselmo Mendes.

Depois da apresentação da peça infantil, de teatro de marionetas “Histórias do Tio Alberto”, haverá ainda tempo para reviver uma desfolhada no Souto da Casa de Boamense, com a actuação dos Tocadores e Cantadores ao Desafio Famalicense e das Vozes D’Oiro.

“Será uma tarde inteira a recordar Alberto Sampaio, o vitivinicultor”, afirma Armindo Costa.

Alberto Sampaio que nasceu em Guimarães a 15 de Novembro de 1841 e morreu na Quinta de Boamense, Cabeçudos, Vila Nova de Famalicão a 1 de Dezembro de 1908, foi historiador, escritor e uma figura cimeira da cultura portuguesa. Foi um nome de referência da “Geração de 70”, também conhecida por “Geração de Coimbra”, que lançou um movimento académico que veio revolucionar as ideias políticas em Portugal, em finais do século XIX. Foi contemporâneo de Camilo Castelo Branco, com quem trocava correspondência, e de Antero de Quental. Mas Alberto Sampaio foi também um notável vitivinicultor e um profundo inovador na produção do vinho verde, cuja qualidade procurou desenvolver.

[Informação do Município de Vila Nova de Famalicão]


PROGRAMA

15h00 - Abertura da Mostra Vinícola pelo Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Arq. Armindo Costa, Grão-Mestre da Confraria do Vinho Verde, Dr. Luís Gusmão Rodrigues e Presidente da Junta de Freguesia de Cabeçudos, Sr. Agostinho Mendes

Apresentação da garrafa comemorativa do Centenário de Alberto Sampaio

Actuação dos Tocadores e Cantadores ao Desafio Famalicense

Cerimónia da XXXV Entronização da Confraria do Vinho Verde

Conferência “Os novos desafios do vinho verde”, Eng.º Anselmo Mendes

Teatro marionetas “Histórias do Tio Alberto”

Desfolhada no Souto da Casa de Boamense

Actuação dos Tocadores e Cantadores ao Desafio Famalicense e das Vozes D’Oiro

domingo, 20 de julho de 2008

Na morte de Alberto Sampaio (Notícia de O Regenerador)


Nota necrológica do jornal O Regenerador, do Padre Gaspar Roriz, publicada no dia 4 de Dezembro de 1908:

Na sua casa de Boamense, freguesia de Cabeçudos, Famalicão, faleceu no dia 1 do corrente o ilustre vimaranense e notável publicista, snr. Dr. Alberto Sampaio, irmão do falecido Dr. José Sampaio, que foi notável advogado nesta cidade e tio do actual juiz de direito na comarca de Esposende, snr. Dr. António Vicente Leal Sampaio.

É uma morte que nos enluta a lodos os que prezamos a honra da nossa terra.

Alberto Sampaio fez parte duma plêiade distinta de poetas e publicistas, figurando em destaque ao lado dos mais exímios cultores da moderna literatura portuguesa.

A sua colaboração em diferentes revistas científicas, especialmente na “Portugalia”, a brilhante publicação de Ricardo Severo, e na “Revida”, da Sociedade Martins Sarmento; o seu valioso estudo acerca das vilas do norte de Portugal, ultimamente publicado em volume, revelam uma cerebração privilegiada, um talento superior, um trabalhador infatigável.

O único cargo que exerceu foi o de guarda-livros do Banco de Guimarães, onde todos o respeitavam pela bondade do seu coração, pela limpidez do seu carácter e pelo seu profundo saber.

Sempre modesto e recolhido, ele só shiu para a rua a trabalhar com um afã verdadeiramente benemérito, quando Guimarães resolveu realizar a sua exposição industrial em 1884, cuja importância lhe veio, quase toda, do saber e da actividade de Alberto Sampaio.

E a terra onde este homem era menos conhecido era talvez a terra onde nasceu – Guimarães – que ele ilustrou e honrou com um nome que o país declina com veneração e respeito!...

A câmara exarou na acta da última sessão um voto de sentimento pela morte do ilustre vimaranense. Cumpriu o seu dever e interpretou o sentir dos que admiraram o talento do dr. Alberto Sampaio.

“O Regenerador” consigna também o seu pesar pela irreparável perda deste homem que, depois de Sarmento, foi a mais lídima glória da nossa terra nas lutas da pena e da cultura da ciência.

Os funerais do Dr. Alberto Sampaio realizaram-se ontem, em Cabeçudos, indo daqui assistir alguns cavalheiros.

À família enlutada, e, especialmente, ao snr. Dr. Leal Sampaio, apresentamos os cumprimentos do nosso profundo pesar.

(O Regenerador, n.º 2, ano I, Guimarães, 4 de Dezembro de 1908)

[Também publicado aqui]

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Na morte de Alberto Sampaio (notícia do Independente)


A notícia publicada pelo jornal o Independente, de Guimarães sobre a morte e as cerimónias fúnebres do historiador Alberto Sampaio introduz alguns elementos interessantes, a par de pequenas imprecisões, nomeadamente a referência ao seu local de nascimento.


Dr. Alberto Sampaio


Em Vila Nova de Famalicão faleceu na terça-feira passada, vitimado por uma febre tifóide, na Quinta de Boamense, na freguesia de S. Cristóvão de Cabeçudos, o snr. Dr. Alberto da Cunha Sampaio, primoroso escritor e distinto agricultor.

O ilustre morto, que residia no Porto, ia amiudadas vezes a Cabeçudos – sua terra natal – de visita à sua estimadíssima família.

Era irmão do falecido jurisconsulto dr. José da Cunha Sampaio, e tio do nosso prezadíssimo amigo snr. Dr. António Vicente Leal Sampaio, distinto juiz de direito na comarca de Esposende.

Carácter nobilíssimo e trabalhador infatigável, o finado foi um dos maiores propugnadores e cooperadores da Exposição Industrial que se realizou em Guimarães em 1884, podendo dizer-se que foi ele a alma da notável Exposição.

À Sociedade Martins Sarmento, bem como a outras colectividades vimaranenses, também o dr. Alberto Sampaio prestou assinalados serviços.

O dr. Alberto Sampaio, que era uma das nossas mais altas capacidades mentais, deixa dispersa na “Revista de Guimarães”, e noutras revistas e jornais, uma obra literária e histórica importantíssima

Os actos fúnebres realizaram-se anteontem, pelas 10 horas da manhã, na igreja paroquial de Cabeçudos, sendo o cadáver do extinto depositado em jazigo da família no cemitério paroquial daquela freguesia.

Em diferentes turnos que se organizaram de casa à igreja e da igreja ao jazigo, seguraram as toalhas do caixão os snrs.: Visconde de Pindela, Abade de S. Cosme, José de Azevedo Menezes, dr. Sebastião de Carvalho, António José de Sousa Cristino, António Veloso, dr. Pedro Guimarães, dr. Álvaro Ribeiro da Costa Sampaio, Abade de Tagilde, dr. Joaquim José de Meira, cónego dr. Manuel Moreira Júnior, cónego Alberto da Silva Vasconcelos, Álvaro Costa Guimarães, Eduardo M. de Almeida, Jerónimo de Castro, João Gualdino Pereira, por si e como representante do sr. dr Avelino Germano da Costa Freitas, António Leal de Barros e Vasconcelos, José Ferreira Ramos José Francisco Gonçalves Guimarães, Joaquim Malvar, Joaquim Mendes, Álvaro da Silva Penafort e António Barreira.

Por recomendação do finado, o cadáver do morto foi conduzido à mão pelos filhos dos caseiros da Quinta de Boamense, e o caixão foi fechado em casa pelo snr. Dr.,António Vicente Leal Sampaio, sobrinho do falecido.

Por o extinto assim o ter manifestado muitas vezes, não houve convites para o enterro, nem foram depostas coroas no féretro, sendo o funeral foi o mais modesto possível.

Dirigiu o funeral o snr. Joaquim Penafort Lisboa, digno escrivão do 4.º ofício no juízo de direito desta comarca.

O falecido deixou testamento cerrado aprovado pelo notário snr. J. Penafort no qual institui seus universais herdeiros a seus sobrinhos dr. António Vicente Leal Sampaio e D. Henriqueta Leal Sampaio.

Sentindo profundamente o passamento do dr. Alberto Sampaio, enviamos expressivas condolências a toda a família enlutada e especialmente a seu sobrinho, o nosso querido amigo snr. dr. Leal Sampaio.

(O Independente, nº 365, 8.º ano, Guimarães, 5 de Dezembro de 1908)


[Também publicado aqui]

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Concurso "Alberto Sampaio: Artes e Letras" - os premiados

Artes plásticas, 4.º escalão, trabalho sem título
de Ana Margarida Gomes Magalhães

Acta de atribuição de prémios do concurso

“Alberto Sampaio: artes e letras”


Aos dezassete dias do mês de Julho de dois mil e oito, pelas catorze horas e trinta minutos, reuniu, no Salão Nobre do Museu de Alberto Sampaio, o júri de avaliação dos trabalhos apresentados a concurso, constituído por Dra. Rosa Maria Saavedra Dr. Nelson Pereira, Dr. Agostinho Ferreira.

Depois de analisados todos os trabalhos, foram atribuídos os seguintes prémios:

Na área de produção escrita

a) Trabalhos individuais

1.º escalão – Diana Maria Silva Veloso, da Escola E. B. 1 de Cabeçudos, com o trabalho “ A Vida de Alberto Sampaio”.

2.º, 3.º e 4.º escalões – não foram apresentados trabalhos a concurso.

b) Trabalhos de grupo

1.º escalão – Alunos da Turma 2 da Escola E. B. 1 de Igreja Abade de Vermoim, com o trabalho “Uma história de verdade”.

2.º escalão – Alunos da Turma A do 5.º ano da Escola E. B. 2, 3 D. Afonso Henriques, com o trabalho “Tributo a Alberto Sampaio”.

3.º escalão – Joana Rodrigues e Sofia Coimbra Moreira, da Escola E. B. 2, 3 de Taíde, com o trabalho “Epistolário”.

4.º escalão - Ângela Sofia Gonçalves, Fábio Daniel Rodrigues da Silva e Marina Volz Jácome Correia, da Escola Secundária Alberto Sampaio, com o trabalho “Viagem pela vida de Alberto Sampaio”.

Na área de Artes plásticas

1.º escalão – Ricardo André Ferreira da Silva, do ATL do Centro Social e Cultural de S. Pedro do Bairro, com o trabalho “História de Alberto Sampaio”.

2.º e 3.º escalões – não foram apresentados trabalhos a concurso.

4.º escalão – Ana Margarida Gomes Magalhães, da Escola Secundária de Francisco de Holanda, com um trabalho sem título.

b) Trabalhos de grupo

1.º escalão – Alunos do ATL do Centro Social e Cultural de S. Pedro do Bairro, com o trabalho “Reconto da história de Alberto Sampaio”.

2.º escalão – Alunos da Turma A do 6.º ano da Escola E. B. 2, 3 D. Afonso Henriques, com o trabalho “Álbum momentos de sempre”.

3.º escalão – Não foram apresentados trabalhos a concurso.

4.º escalão – Alunos da turma de 11.º ano do Curso de Técnicos de Comunicação, Marketing, Relações Públicas e Publicidade, da Escola Profissional CISAVE, com o trabalho “A história de Alberto Sampaio”.

O Júri

Rosa Maria Saavedra

Nélson Pereira

Agostinho Ferreira

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Nuno Simões e a economia portuguesa, a partir de Alberto Sampaio


Em 1953, o Dr. Nuno Simões publicou no jornal Notícias de Guimarães no qual, a partir de Alberto Sampaio, reflectia sobre a situação da indústria e da agricultura de então. Aqui se reproduz.


Indústria e Agricultura
Uma nota à margem de opiniões de Alberto Sampaio


Foi o grande Alberto Sampaio, mestre de história social e de economia rural quem, há uns setenta anos, sustentou, em resposta à pergunta: Convirá promover uma exposição industrial em Guimarães? que “não é independente uma nação ou um povo só porque certas circunstâncias lhe permitem uma soberania especial representada por um Governo”.

E o sábio recolhido de Boamense, continuou:

“Para ser na verdade independente, é necessário que afirme a sua existência duma maneira própria, que se torne um organismo em que as actividades de todos os seus elementos têm de convergir para a conservação e aperfeiçoamento das primeiras necessidades, até às mais elevadas concepções do espírito, isto é, até ao desenvolvimento das faculdades características da sua raça.”

E ainda: “uma nação ou um povo que viesse a perder a sua indústria, perdendo uma função das mais importantes, perderia também uma das principais expressões do seu génio e colocar-se-ia, por esse facto, moralmente, como estamos vendo, e economicamente, como veremos logo, numa posição inferior em respeito aos outros que continuam a possuir aquela faculdade criadora.”

Teremos nós porém capacidade industrial?

Já, então, Alberto Sampaio afirmava que sim, dizendo: “sobeja-lhe (ao povo português) o amor do trabalho, a reflexão, a tenacidade e o espírito de ordem, tendo em si os elementos necessários para criar uma indústria nacional.”

Provou-o que farte o inquérito industrial de 1881.

Mestres nacionais e estrangeiros opinam conformemente que o operário português possui todas as qualidades necessárias de um bom oficial: o que lhe falta é o ensino técnico geral, a aprendizagem, e um meio moral conveniente que lhe estimule as faculdades inventivas».

O estudo de Sampaio, há tanto tempo escrito, não perdeu actualidade, sobretudo quanto às carências que ele sublinhou.

E o condicionalismo económico e social que se criou, no último meio século, veio justificar inteiramente a sua orientação.

Às razões de ordem técnica por ele invocadas, acresceram as injunções económicas.

A industrialização não é, hoje, apenas uma demonstração da capacidade técnica nem depende somente duma boa preparação profissional ou obedece a finalidades cívicas e patrióticas.

As necessidades económicas da nação exigem-na. Há que sustentar uma população em ritmo forte de crescimento. Ou se industrializa o país, até onde for possível, para assegurar subsistência e melhoria de nível de vida à população, que aumenta, ou esta tem de procurar, fora de fronteiras, trabalho e alimentação, pois a terra da Metrópole já não pode sustentar os que nela vivem e crescem, aos 100 mil anualmente.

O esforço feito para o aproveitamento dos recursos hidro e termoeléctricos do país – e que não custa a reconhecer que tem sido importantíssimo, – terá que ser continuado e completado, a fim de permitir a vida das indústrias que, todos os dias, se estão instalando e a melhoria da agricultura que precisa de desenvolver-se e modernizar-se.

Terão as novas indústrias de ser estudadas previamente e com objectividade e proficiência, para que não haja dúvidas sobre a sua viabilidade económica e para que não venham a perder-se, inutilmente, capitais e a comprometer-se injustamente técnica e mão de obra quê temos de defender, com toda a parcimónia.

O regime de condicionamento industrial (que foi criado, se não estou em erro, por um vizinho de Guimarães, despretensioso e de notável senso prático: - o Dr. Antunes Guimarães) tem tido muitas vantagens económicas e não há industrial que, desapaixonadamente, não reconheça as suas virtudes e os seus méritos.

Deveu-se-lhe um esforço orientador na defesa da organização industrial do país, que pode ser discutido, num ou noutro detalhe, mas que há-de ser reconhecido, como útil e eficaz, quando, fora de pequenas questões de momento, o interesse nacional for a razão única da inspiração duma crítica construtiva.

Algumas novas indústrias primaciais estão em marcha. Tem sido mais demorado pôr outras em laboração. Mas, de um modo geral, as velhas indústrias tradicionais ampliaram-se, renovaram-se e procuraram actualizar-se com aparelhamento novo, com maior preparação profissional do operariado, melhores condições de instalação e ambiente mais higiénico e confortável de trabalho.

Se compararmos, na nossa importação, as compras de matérias-primas de 1900 com as de cinquenta anos depois e se, paralelamente, confrontarmos a exportação de objectos fabricados no mesmo período, temos de concluir por que a industrialização do país se está processando lentamente mas com segurança.

Em 1900 – não chegávamos a 5 milhões e meio na Metrópole, – importamos 1.263.949 tons. de matérias-primas no valor de 19.703 contos-ouro. Meio século depois – éramos já quase nove milhões e meio, – essa importação subiu para 2.177.154 tons. e 61.588 c. ouro.

A exportação de objectos fabricados que somou, no primeiro ano deste século 21.437 Tons. e 4.632 C. ouro, em 1950 representou 215.734 Tons. e 41.807 C. ouro. E nesta rubrica não se incluíram muitos produtos alimentares como as conservas de peixe, carne e frutas, e muitas matérias-primas meio trabalhadas como o pez e a aguarrás; umas e outras provenientes de actividades fabris e as últimas de produção relativamente recente.

Mas Sampaio não se deixou tomar de entusiasmo pela industrialização, repudiando ou esquecendo a agricultura.

Ele escreveu, também, no artigo a que me estou referindo: “Se na ordem cronológica das indústrias a agrícola é a primeira que aparece como mãe de todas as outras, como a origem de toda a civilização, ficará todavia naquele estado rudimentar e primitivo enquanto se não desenvolver convenientemente em volta de si o trabalho fabril. Os grupos de população manufactureira que se vão formando em derredor, abrem-lhe um mercado, activam-na e forçam-na a aumentar a produção. Mais tarde é ela que lhe fornece a apeiria aperfeiçoada, é ela enfim que com o seu ensino vai reagir sobre a outra, obrigando-a, também, pelo exemplo, a melhorar os seus processos.

Se a lavoura portuguesa quisesse reformar os seus utensílios primitivos, teria de os importar na sua generalidade e, portanto, exportar os valores representados no seu custo que desapareceriam fatalmente da economia da nação; enquanto que se a nossa indústria os pudesse fornecer, ficariam no país fomentando a produção nacional.”

Esta é a boa doutrina. Uma lavoura progressiva e próspera tem de estar na base da riqueza nacional. Mas agricultura e indústria são interdependentes.

Sem prosperidade agrícola, não a pode haver industrial. A agricultura precisa do exemplo sugestivo da modernização fabril e do consumo mais retribuidor dos seus produtos pelas massas operárias da indústria.

Fui, em certa altura, dos que viram, com satisfação, os industriais enriquecidos voltarem-se para a agricultura e fazerem-se grandes proprietários rurais, com dinheiro fácil e barato para a exploração agrária e como era de esperar também, com métodos de produção mais modernos e racionais. Infelizmente a influência que eles exerceram na agricultura pouco se sentiu ainda, se é que se sentiu. A situação não mudou.

NUNO SIMÕES
Notícias de Guimarães, n.º 1119, ano 22.º, 22 de Junho de 1953