domingo, 20 de julho de 2008

Na morte de Alberto Sampaio (Notícia de O Regenerador)


Nota necrológica do jornal O Regenerador, do Padre Gaspar Roriz, publicada no dia 4 de Dezembro de 1908:

Na sua casa de Boamense, freguesia de Cabeçudos, Famalicão, faleceu no dia 1 do corrente o ilustre vimaranense e notável publicista, snr. Dr. Alberto Sampaio, irmão do falecido Dr. José Sampaio, que foi notável advogado nesta cidade e tio do actual juiz de direito na comarca de Esposende, snr. Dr. António Vicente Leal Sampaio.

É uma morte que nos enluta a lodos os que prezamos a honra da nossa terra.

Alberto Sampaio fez parte duma plêiade distinta de poetas e publicistas, figurando em destaque ao lado dos mais exímios cultores da moderna literatura portuguesa.

A sua colaboração em diferentes revistas científicas, especialmente na “Portugalia”, a brilhante publicação de Ricardo Severo, e na “Revida”, da Sociedade Martins Sarmento; o seu valioso estudo acerca das vilas do norte de Portugal, ultimamente publicado em volume, revelam uma cerebração privilegiada, um talento superior, um trabalhador infatigável.

O único cargo que exerceu foi o de guarda-livros do Banco de Guimarães, onde todos o respeitavam pela bondade do seu coração, pela limpidez do seu carácter e pelo seu profundo saber.

Sempre modesto e recolhido, ele só shiu para a rua a trabalhar com um afã verdadeiramente benemérito, quando Guimarães resolveu realizar a sua exposição industrial em 1884, cuja importância lhe veio, quase toda, do saber e da actividade de Alberto Sampaio.

E a terra onde este homem era menos conhecido era talvez a terra onde nasceu – Guimarães – que ele ilustrou e honrou com um nome que o país declina com veneração e respeito!...

A câmara exarou na acta da última sessão um voto de sentimento pela morte do ilustre vimaranense. Cumpriu o seu dever e interpretou o sentir dos que admiraram o talento do dr. Alberto Sampaio.

“O Regenerador” consigna também o seu pesar pela irreparável perda deste homem que, depois de Sarmento, foi a mais lídima glória da nossa terra nas lutas da pena e da cultura da ciência.

Os funerais do Dr. Alberto Sampaio realizaram-se ontem, em Cabeçudos, indo daqui assistir alguns cavalheiros.

À família enlutada, e, especialmente, ao snr. Dr. Leal Sampaio, apresentamos os cumprimentos do nosso profundo pesar.

(O Regenerador, n.º 2, ano I, Guimarães, 4 de Dezembro de 1908)

[Também publicado aqui]

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Na morte de Alberto Sampaio (notícia do Independente)


A notícia publicada pelo jornal o Independente, de Guimarães sobre a morte e as cerimónias fúnebres do historiador Alberto Sampaio introduz alguns elementos interessantes, a par de pequenas imprecisões, nomeadamente a referência ao seu local de nascimento.


Dr. Alberto Sampaio


Em Vila Nova de Famalicão faleceu na terça-feira passada, vitimado por uma febre tifóide, na Quinta de Boamense, na freguesia de S. Cristóvão de Cabeçudos, o snr. Dr. Alberto da Cunha Sampaio, primoroso escritor e distinto agricultor.

O ilustre morto, que residia no Porto, ia amiudadas vezes a Cabeçudos – sua terra natal – de visita à sua estimadíssima família.

Era irmão do falecido jurisconsulto dr. José da Cunha Sampaio, e tio do nosso prezadíssimo amigo snr. Dr. António Vicente Leal Sampaio, distinto juiz de direito na comarca de Esposende.

Carácter nobilíssimo e trabalhador infatigável, o finado foi um dos maiores propugnadores e cooperadores da Exposição Industrial que se realizou em Guimarães em 1884, podendo dizer-se que foi ele a alma da notável Exposição.

À Sociedade Martins Sarmento, bem como a outras colectividades vimaranenses, também o dr. Alberto Sampaio prestou assinalados serviços.

O dr. Alberto Sampaio, que era uma das nossas mais altas capacidades mentais, deixa dispersa na “Revista de Guimarães”, e noutras revistas e jornais, uma obra literária e histórica importantíssima

Os actos fúnebres realizaram-se anteontem, pelas 10 horas da manhã, na igreja paroquial de Cabeçudos, sendo o cadáver do extinto depositado em jazigo da família no cemitério paroquial daquela freguesia.

Em diferentes turnos que se organizaram de casa à igreja e da igreja ao jazigo, seguraram as toalhas do caixão os snrs.: Visconde de Pindela, Abade de S. Cosme, José de Azevedo Menezes, dr. Sebastião de Carvalho, António José de Sousa Cristino, António Veloso, dr. Pedro Guimarães, dr. Álvaro Ribeiro da Costa Sampaio, Abade de Tagilde, dr. Joaquim José de Meira, cónego dr. Manuel Moreira Júnior, cónego Alberto da Silva Vasconcelos, Álvaro Costa Guimarães, Eduardo M. de Almeida, Jerónimo de Castro, João Gualdino Pereira, por si e como representante do sr. dr Avelino Germano da Costa Freitas, António Leal de Barros e Vasconcelos, José Ferreira Ramos José Francisco Gonçalves Guimarães, Joaquim Malvar, Joaquim Mendes, Álvaro da Silva Penafort e António Barreira.

Por recomendação do finado, o cadáver do morto foi conduzido à mão pelos filhos dos caseiros da Quinta de Boamense, e o caixão foi fechado em casa pelo snr. Dr.,António Vicente Leal Sampaio, sobrinho do falecido.

Por o extinto assim o ter manifestado muitas vezes, não houve convites para o enterro, nem foram depostas coroas no féretro, sendo o funeral foi o mais modesto possível.

Dirigiu o funeral o snr. Joaquim Penafort Lisboa, digno escrivão do 4.º ofício no juízo de direito desta comarca.

O falecido deixou testamento cerrado aprovado pelo notário snr. J. Penafort no qual institui seus universais herdeiros a seus sobrinhos dr. António Vicente Leal Sampaio e D. Henriqueta Leal Sampaio.

Sentindo profundamente o passamento do dr. Alberto Sampaio, enviamos expressivas condolências a toda a família enlutada e especialmente a seu sobrinho, o nosso querido amigo snr. dr. Leal Sampaio.

(O Independente, nº 365, 8.º ano, Guimarães, 5 de Dezembro de 1908)


[Também publicado aqui]

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Concurso "Alberto Sampaio: Artes e Letras" - os premiados

Artes plásticas, 4.º escalão, trabalho sem título
de Ana Margarida Gomes Magalhães

Acta de atribuição de prémios do concurso

“Alberto Sampaio: artes e letras”


Aos dezassete dias do mês de Julho de dois mil e oito, pelas catorze horas e trinta minutos, reuniu, no Salão Nobre do Museu de Alberto Sampaio, o júri de avaliação dos trabalhos apresentados a concurso, constituído por Dra. Rosa Maria Saavedra Dr. Nelson Pereira, Dr. Agostinho Ferreira.

Depois de analisados todos os trabalhos, foram atribuídos os seguintes prémios:

Na área de produção escrita

a) Trabalhos individuais

1.º escalão – Diana Maria Silva Veloso, da Escola E. B. 1 de Cabeçudos, com o trabalho “ A Vida de Alberto Sampaio”.

2.º, 3.º e 4.º escalões – não foram apresentados trabalhos a concurso.

b) Trabalhos de grupo

1.º escalão – Alunos da Turma 2 da Escola E. B. 1 de Igreja Abade de Vermoim, com o trabalho “Uma história de verdade”.

2.º escalão – Alunos da Turma A do 5.º ano da Escola E. B. 2, 3 D. Afonso Henriques, com o trabalho “Tributo a Alberto Sampaio”.

3.º escalão – Joana Rodrigues e Sofia Coimbra Moreira, da Escola E. B. 2, 3 de Taíde, com o trabalho “Epistolário”.

4.º escalão - Ângela Sofia Gonçalves, Fábio Daniel Rodrigues da Silva e Marina Volz Jácome Correia, da Escola Secundária Alberto Sampaio, com o trabalho “Viagem pela vida de Alberto Sampaio”.

Na área de Artes plásticas

1.º escalão – Ricardo André Ferreira da Silva, do ATL do Centro Social e Cultural de S. Pedro do Bairro, com o trabalho “História de Alberto Sampaio”.

2.º e 3.º escalões – não foram apresentados trabalhos a concurso.

4.º escalão – Ana Margarida Gomes Magalhães, da Escola Secundária de Francisco de Holanda, com um trabalho sem título.

b) Trabalhos de grupo

1.º escalão – Alunos do ATL do Centro Social e Cultural de S. Pedro do Bairro, com o trabalho “Reconto da história de Alberto Sampaio”.

2.º escalão – Alunos da Turma A do 6.º ano da Escola E. B. 2, 3 D. Afonso Henriques, com o trabalho “Álbum momentos de sempre”.

3.º escalão – Não foram apresentados trabalhos a concurso.

4.º escalão – Alunos da turma de 11.º ano do Curso de Técnicos de Comunicação, Marketing, Relações Públicas e Publicidade, da Escola Profissional CISAVE, com o trabalho “A história de Alberto Sampaio”.

O Júri

Rosa Maria Saavedra

Nélson Pereira

Agostinho Ferreira

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Nuno Simões e a economia portuguesa, a partir de Alberto Sampaio


Em 1953, o Dr. Nuno Simões publicou no jornal Notícias de Guimarães no qual, a partir de Alberto Sampaio, reflectia sobre a situação da indústria e da agricultura de então. Aqui se reproduz.


Indústria e Agricultura
Uma nota à margem de opiniões de Alberto Sampaio


Foi o grande Alberto Sampaio, mestre de história social e de economia rural quem, há uns setenta anos, sustentou, em resposta à pergunta: Convirá promover uma exposição industrial em Guimarães? que “não é independente uma nação ou um povo só porque certas circunstâncias lhe permitem uma soberania especial representada por um Governo”.

E o sábio recolhido de Boamense, continuou:

“Para ser na verdade independente, é necessário que afirme a sua existência duma maneira própria, que se torne um organismo em que as actividades de todos os seus elementos têm de convergir para a conservação e aperfeiçoamento das primeiras necessidades, até às mais elevadas concepções do espírito, isto é, até ao desenvolvimento das faculdades características da sua raça.”

E ainda: “uma nação ou um povo que viesse a perder a sua indústria, perdendo uma função das mais importantes, perderia também uma das principais expressões do seu génio e colocar-se-ia, por esse facto, moralmente, como estamos vendo, e economicamente, como veremos logo, numa posição inferior em respeito aos outros que continuam a possuir aquela faculdade criadora.”

Teremos nós porém capacidade industrial?

Já, então, Alberto Sampaio afirmava que sim, dizendo: “sobeja-lhe (ao povo português) o amor do trabalho, a reflexão, a tenacidade e o espírito de ordem, tendo em si os elementos necessários para criar uma indústria nacional.”

Provou-o que farte o inquérito industrial de 1881.

Mestres nacionais e estrangeiros opinam conformemente que o operário português possui todas as qualidades necessárias de um bom oficial: o que lhe falta é o ensino técnico geral, a aprendizagem, e um meio moral conveniente que lhe estimule as faculdades inventivas».

O estudo de Sampaio, há tanto tempo escrito, não perdeu actualidade, sobretudo quanto às carências que ele sublinhou.

E o condicionalismo económico e social que se criou, no último meio século, veio justificar inteiramente a sua orientação.

Às razões de ordem técnica por ele invocadas, acresceram as injunções económicas.

A industrialização não é, hoje, apenas uma demonstração da capacidade técnica nem depende somente duma boa preparação profissional ou obedece a finalidades cívicas e patrióticas.

As necessidades económicas da nação exigem-na. Há que sustentar uma população em ritmo forte de crescimento. Ou se industrializa o país, até onde for possível, para assegurar subsistência e melhoria de nível de vida à população, que aumenta, ou esta tem de procurar, fora de fronteiras, trabalho e alimentação, pois a terra da Metrópole já não pode sustentar os que nela vivem e crescem, aos 100 mil anualmente.

O esforço feito para o aproveitamento dos recursos hidro e termoeléctricos do país – e que não custa a reconhecer que tem sido importantíssimo, – terá que ser continuado e completado, a fim de permitir a vida das indústrias que, todos os dias, se estão instalando e a melhoria da agricultura que precisa de desenvolver-se e modernizar-se.

Terão as novas indústrias de ser estudadas previamente e com objectividade e proficiência, para que não haja dúvidas sobre a sua viabilidade económica e para que não venham a perder-se, inutilmente, capitais e a comprometer-se injustamente técnica e mão de obra quê temos de defender, com toda a parcimónia.

O regime de condicionamento industrial (que foi criado, se não estou em erro, por um vizinho de Guimarães, despretensioso e de notável senso prático: - o Dr. Antunes Guimarães) tem tido muitas vantagens económicas e não há industrial que, desapaixonadamente, não reconheça as suas virtudes e os seus méritos.

Deveu-se-lhe um esforço orientador na defesa da organização industrial do país, que pode ser discutido, num ou noutro detalhe, mas que há-de ser reconhecido, como útil e eficaz, quando, fora de pequenas questões de momento, o interesse nacional for a razão única da inspiração duma crítica construtiva.

Algumas novas indústrias primaciais estão em marcha. Tem sido mais demorado pôr outras em laboração. Mas, de um modo geral, as velhas indústrias tradicionais ampliaram-se, renovaram-se e procuraram actualizar-se com aparelhamento novo, com maior preparação profissional do operariado, melhores condições de instalação e ambiente mais higiénico e confortável de trabalho.

Se compararmos, na nossa importação, as compras de matérias-primas de 1900 com as de cinquenta anos depois e se, paralelamente, confrontarmos a exportação de objectos fabricados no mesmo período, temos de concluir por que a industrialização do país se está processando lentamente mas com segurança.

Em 1900 – não chegávamos a 5 milhões e meio na Metrópole, – importamos 1.263.949 tons. de matérias-primas no valor de 19.703 contos-ouro. Meio século depois – éramos já quase nove milhões e meio, – essa importação subiu para 2.177.154 tons. e 61.588 c. ouro.

A exportação de objectos fabricados que somou, no primeiro ano deste século 21.437 Tons. e 4.632 C. ouro, em 1950 representou 215.734 Tons. e 41.807 C. ouro. E nesta rubrica não se incluíram muitos produtos alimentares como as conservas de peixe, carne e frutas, e muitas matérias-primas meio trabalhadas como o pez e a aguarrás; umas e outras provenientes de actividades fabris e as últimas de produção relativamente recente.

Mas Sampaio não se deixou tomar de entusiasmo pela industrialização, repudiando ou esquecendo a agricultura.

Ele escreveu, também, no artigo a que me estou referindo: “Se na ordem cronológica das indústrias a agrícola é a primeira que aparece como mãe de todas as outras, como a origem de toda a civilização, ficará todavia naquele estado rudimentar e primitivo enquanto se não desenvolver convenientemente em volta de si o trabalho fabril. Os grupos de população manufactureira que se vão formando em derredor, abrem-lhe um mercado, activam-na e forçam-na a aumentar a produção. Mais tarde é ela que lhe fornece a apeiria aperfeiçoada, é ela enfim que com o seu ensino vai reagir sobre a outra, obrigando-a, também, pelo exemplo, a melhorar os seus processos.

Se a lavoura portuguesa quisesse reformar os seus utensílios primitivos, teria de os importar na sua generalidade e, portanto, exportar os valores representados no seu custo que desapareceriam fatalmente da economia da nação; enquanto que se a nossa indústria os pudesse fornecer, ficariam no país fomentando a produção nacional.”

Esta é a boa doutrina. Uma lavoura progressiva e próspera tem de estar na base da riqueza nacional. Mas agricultura e indústria são interdependentes.

Sem prosperidade agrícola, não a pode haver industrial. A agricultura precisa do exemplo sugestivo da modernização fabril e do consumo mais retribuidor dos seus produtos pelas massas operárias da indústria.

Fui, em certa altura, dos que viram, com satisfação, os industriais enriquecidos voltarem-se para a agricultura e fazerem-se grandes proprietários rurais, com dinheiro fácil e barato para a exploração agrária e como era de esperar também, com métodos de produção mais modernos e racionais. Infelizmente a influência que eles exerceram na agricultura pouco se sentiu ainda, se é que se sentiu. A situação não mudou.

NUNO SIMÕES
Notícias de Guimarães, n.º 1119, ano 22.º, 22 de Junho de 1953

sábado, 5 de julho de 2008

Alberto Sampaio na inauguração do monumento a Afonso Henriques

No dia 19 de Outubro de 1887, aquando da inauguração em Guimarães do monumento a D. Afonso Henriques, foi publicado o número único do jornal "A Apotheose", que contou com inúmeros colaboradores. Entre eles contava-se o vimaranense Alberto Sampaio, com o seguinte texto:

O monumento a Afonso Henriques, que vai inaugurar-se nesta cidade no dia 19 de Outubro, significando o tributo de respeito que devemos todos àquele “sem o qual não existiria hoje a nação portuguesa, e por ventura, nem sequer o nome de Portugal”, exprime também que o sentimento da pátria que uniu no passado nossos pais, está sempre e cada vez mais vivo no nosso peito.

A presente publicação concorrerá também e eficazmente para robustecer esse sentimento, que é a base da vida pública de todos os povos cultos.

Guimarães.
Alberto Sampaio