Mostrar mensagens com a etiqueta Obra. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Obra. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Já disponíveis: "Obras", de Alberto Sampaio

Obras, de Alberto Sampaio. Edição da Sociedade Martins Samento, Guimarães, Novembro de 2008, 550 páginas. Preço: 25 euros (envio sem custos acrescidos). Pedidos para:

sms@mail.telepac.pt

Sociedade Martins Sarmento
Rua Paio Galvão
4814-509 Guimarães

Fax n.º 253 415 969

Textos incluídos no volume:

- Nota Prévia, da Direcção da Sociedade Martins Sarmento
- Introdução, por José Amado Mendes
- A propriedade e cultura do Minho
- As Vilas do Norte de Portugal
- O Norte marítimo (Notas para uma história)
- Ontem e hoje
- As Póvoas Marítimas
- Resposta a uma pergunta: Convirá promover uma exposição industrial em Guimarães?
- O presente e o futuro da viticultura no Minho
- O Snr. Oliveira Martins e o seu Projecto de Fomento Rural
- Um exemplo de colonização actual por "fogo morto"
- Antero de Quental – Recordações
- F. Martins Sarmento
- A quarta edição da História de Portugal do snr. Oliveira Martins
- Os filhos de D. João I, de J. P. d’Oliveira Martins
- A propósito do romance marítimo entre nós
- D. Sebastião, de Luís de Magalhães
- Guia prático para o emprego dos adubos em Portugal, de João da Mota Prego
- Numantia. Eine Topografisch-Historische Untersuchung, de Adolf Schulten
- Le droit de marché, de C. Boulanger
- Vimaranis Monumenta Historica

No final, foi introduzido um útil índice analítico.

Lançadas as "Obras" de Alberto Sampaio



No final do segundo dia do “Congresso Alberto Sampaio, Ontem e Hoje”, foram lançadas as Obras, de Alberto Sampaio, uma edição da Sociedade Martins Sarmento integrada nas comemorações do Centenário que reúne a produção científica que o historiador publicou entre 1884 e 1908. A sessão de lançamento contou com intervenções do Presidente da Direcção da SMS e do Prof. José Amado Mendes, que prefaciou o volume.

Aqui se reproduz a nota prévia que a Direcção da SMS fez inserir nesta edição:

O percurso científico de Alberto da Cunha Sampaio encontra algum paralelismo no do seu amigo mais velho Francisco Martins Sarmento. Tal como Sarmento, que apenas chegara aos estudos arqueológicos quando já corria o último terço da sua vida, também Sampaio é um historiador tardio, publicando o seu primeiro estudo científico em 1884, ano em que completou 43 anos de idade. Os primeiros passos do seu percurso de estudioso foram, em grande parte, influenciados pelo fervilhar cultural que naquele tempo agitava Guimarães, a terra que o viu nascer e onde teve a sua residência até ao início da Primavera de 1900, que era, segundo um dos seus biógrafos, “um dos mais brilhantes centros de cultura regional que então floresciam no país”.

A obra histórica de Alberto Sampaio começou a ser construída sob influência de Martins Sarmento. Como mais tarde escreveria Luís de Magalhães, “sobre a base das descobertas do ilustre arqueólogo na parte relativa à proto-história e à etnografia, traçou, o seu primeiro livro, o magnífico estudo sobre A Propriedade e a Cultura no Minho, que, desde logo, o colocou na primeira linha dos nossos publicistas de economia rural”. Desde aquele primeiro ensaio, que começou a publicar na Revista de Guimarães no ano de 1884, Alberto Sampaio assumiu, por direito próprio, um lugar à parte na historiografia portuguesa, construindo, ao longo de um quarto de século, uma obra não muito extensa, mas onde está presente uma voz original e profundamente marcante nos estudos de História Económica em Portugal.

A presente edição tomou como base os Estudos Históricos e Económicos, organizados em 1923 por Luís de Magalhães, tendo sido adoptada uma estrutura um pouco diferente. Em primeiro lugar são publicados cinco ensaios que ocupam um lugar central na obra de Alberto Sampaio (A propriedade e cultura do Minho, As Vilas do Norte de Portugal, O Norte marítimo, Ontem e hoje e As Póvoas Marítimas), inseridos em sequência cronológica, com o propósito de proporcionar a compreensão da génese e do processo de construção do pensamento histórico do autor. Em seguida, publicam-se quatro textos reveladores da atenção de Alberto Sampaio em relação à realidade do mundo em que vivia e da sua preocupação em contribuir para o progresso da sua terra e do seu país (Resposta a uma pergunta: convirá promover uma exposição industrial em Guimarães?, O presente e o futuro da viticultura no Minho, O Snr. Oliveira Martins e o seu Projecto de Fomento Rural e Um exemplo de colonização actual por "fogo morto"). Seguem-se dois textos de evocação de dois vultos da cultura portuguesa do seu tempo, figuras centrais da sua vida e da sua obra, os seus amigos Antero de Quental e Francisco Martins Sarmento. No final do volume, inseriram-se oito notas e recensões bibliográficas que Alberto Sampaio publicou dispersamente.

O historiador Alberto Sampaio foi um dos iniciadores e obreiros da Sociedade Martins Sarmento. À sua colaboração, generosa e desinteressada, ficou esta instituição a dever, nomeadamente, a organização da sua Biblioteca Pública e a promoção da memorável Exposição Industrial de Guimarães de 1884.

Aquando do seu desaparecimento, no primeiro dia de Dezembro de 1908, a Direcção da Sociedade Martins Sarmento descreveu Alberto Sampaio, pela inteligência e pelo saber das suas obras, como, “depois de Martins Sarmento, o vimaranense que mais ilustrou a sua terra, como escritor primoroso, revelador duma alta capacidade mental”. A obra de Alberto Sampaio está indissociavelmente ligada à Sociedade Martins Sarmento, desde o primeiro ao último texto que publicou: grande parte da sua produção científica foi originalmente divulgada na Revista de Guimarães e o último escrito que publicou em vida é uma reflexão sobre os Vimaranis Monumenta Historica, compilados pelo Abade de Tagilde, com o contributo de Alberto Sampaio, e publicados pela Sociedade Martins Sarmento.

A presente edição das Obras de Alberto Sampaio reúne os trabalhos científicos do historiador, tornando-os acessíveis aos estudiosos e ao grande público, pretende ser uma homenagem justa e singela da Sociedade Martins Sarmento a uma das suas principais referências culturais e morais.

Guimarães, Novembro de 2008
A Direcção da Sociedade Martins Sarmento

Congresso "Alberto Sampaio, Ontem e Hoje"

Integrado no programa comemorativo do centenário, decorreu, entre os dias 27 e 29 de Novembro de 2008, o congresso “Alberto Sampaio, Ontem e Hoje”. Ao longo dos três dias, 26 estudiosos de diferentes áreas apresentaram visões contemporâneas da obra de Alberto Sampaio e da sua influência na produção científica dos dias de hoje. As actas do Congresso serão publicadas no final do primeiro trimestre de 2009, na Revista de Guimarães.

Secção de Arqueologia

Intervenção de Álvaro Domingues

Pablo Gallego Picard

Secção de Arquitectura

Alexandre Alves Costa

Secção de História Económica

José Amado Mendes

José Viriato Capela

Secção de Demografia e População

José Manuel Lopes Cordeiro

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

"Obras", de Alberto Sampaio: lançamento no dia 28 de Novembro

No próximo dia 28, pelas 19h00, é apresentado ao público o livro Alberto Sampaio: Obras, uma colectânea que reúne a obra científica de Alberto Sampaio, numa edição da Sociedade Martins Sarmento que assinala o centenário do historiador. O evento, com entrada livre, terá lugar no Pequeno Auditório do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, à margem do Congresso "Alberto Sampaio, Ontem e Hoje".

O volume Obras, de Alberto Sampaio, reúne, ao longo de quase 600 páginas, os mais significantes escritos do Historiador. Em primeiro lugar são publicados cinco ensaios que ocupam um lugar central na obra de Alberto Sampaio, inseridos em sequência cronológica, com o propósito de proporcionar a compreensão da génese e do processo de construção do pensamento histórico do autor. Em seguida, publicam-se quatro textos reveladores da atenção de Alberto Sampaio em relação à realidade do mundo em que vivia e da sua preocupação em contribuir para o progresso da sua terra e do seu país. Seguem-se dois textos de evocação de dois vultos da cultura portuguesa do seu tempo, figuras centrais da sua vida e da sua obra, os seus amigos Antero de Quental e Francisco Martins Sarmento. No final do volume, inseriram-se oito notas e recensões bibliográficas que Alberto Sampaio publicou dispersamente. O prefácio é do Professor José Amado Mendes, prestigiado especialista em História Económica, da Universidade de Coimbra.

O livro estará à venda na Sociedade Martins Sarmento, no Centro de Estudos Camilianos e nas livrarias. No dia do lançamento, o volume terá um preço especial.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Cartas de Camilo e Antero de Quental a Alberto Sampaio reunidas em livro


A grande amizade e cumplicidade que o historiador Alberto Sampaio mantinha com Antero de Quental, a relação de cordialidade com Camilo Castelo Branco, as descobertas na arqueologia partilhadas com Martins Sarmento e os debates de história e política com Oliveira Martins estão agora expressos em livro, no primeiro volume de “Cartas a Alberto Sampaio”, que reúne a correspondência dirigida ao historiador no período entre 1864 e a data da sua morte em 1908. A obra que será apresentada no próximo dia 14 de Novembro, pelas 17h30, na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, em Vila Nova de Famalicão, inclui, ao todo, 216 cartas. A apresentar a obra estará o presidente do Centro Nacional de Cultura, Guilherme d'Oliveira Martins.

Cobrindo praticamente toda a vivência adulta de Alberto Sampaio, a obra dá a conhecer as relações de trabalho e amizade mantidas com diversas figuras da cultura portuguesa, desde os seus 22 anos, à época em que concluiu os estudos em Coimbra, à fugaz passagem por Lisboa, e até ao regresso ao Minho, mais precisamente à sua Quinta de Boamense, em Vila Nova de Famalicão, onde morreu aos 67 anos de idade.

O universo das pessoas com quem se relacionou e que assinam estas cartas é a todos os títulos notável, desde simples amigos dos tempos de Coimbra como José Falcão, irmãos Faria e Maia, António de Azevedo Castelo Branco, Alberto Teles, Pinto Osório e Inácio de Vasconcelos, passando pelos que pontificaram no círculo de Guimarães como Francisco Agra, Joaquim José de Meira até aos que na época e nos mais diversos domínios, marcaram a “intelligentsia” nacional, filósofos, poetas e escritores (Antero de Quental, Camilo Castelo Branco, Luís de Magalhães, Jaime de Magalhães Lima), historiadores (Oliveira Martins, Gama Barros, Abade de Tagilde, João Gomes de Abreu de Lima), arqueólogos e etnólogos (Martins Sarmento, José Leite de Vasconcelos, Rocha Peixoto, José Fortes, Ricardo Severo), enologistas (Abílio da Costa Torres e José Macedo Souto Maior), jornalistas (Bento Carqueja), filólogos e orientalistas (Guilherme de Vasconcelos Abreu e Aniceto dos Reis Gonçalves Viana).

Com toda esta plêiade de figuras suas contemporâneas, Alberto Sampaio estabeleceu uma correspondência, em cuja riqueza de conteúdo se espelha a plenitude intelectual de uma geração. Com 420 páginas, o livro “Cartas a Alberto Sampaio”, conta com organização, introdução e notas de Emília Nóvoa Faria e António Martins, e tem a chancela da Campo das Letras. O lançamento da obra insere-se nas comemorações do centenário da morte de Alberto Sampaio, que envolve os municípios de Famalicão e Guimarães, a Sociedade Martins Sarmento e o Museu Alberto Sampaio, e decorrem até ao final do ano de 2008.

Organizada em dois volumes, “Cartas a Alberto Sampaio” e “Cartas de Alberto Sampaio”, esta edição inclui um importante acervo documental de correspondência inédita proveniente do Arquivo Municipal de Alberto Sampaio e do Fundo Documental da Casa de Boamense, em Vila Nova de Famalicão, para além de cartas depositadas na Biblioteca Nacional, no Museu Nacional de Arqueologia, na Biblioteca Marciana de Veneza e outras que foram facultadas pelas famílias de João Gomes de Abreu Lima e de Jaime de Magalhães Lima.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Folclore da Oliveira

A Oliveira de Guimarães (fotografia do séc. XIX)

Conta Heródoto (Liv. VIII, 54 e 55) que Xerxes, tendo ocupado Atenas e incendiado a cidadela, mandara que os exilados atenienses, que o acompanhavam, fossem fazer ali os sacrifícios segundo os seus ritos. Ora na cidadela havia um templo consagrado a Erechteus, filho da Terra, onde se via “uma oliveira e um mar”.

O incêndio, destruindo o templo, queimou também a árvore; mas os banidos, quando entraram ao recinto, notaram com espanto que tinha já lançado um rebento de um côvado de comprido.

Compare-se com esta a que se encontra em Guimarães.

Wamba – o suevo, lavrando placidamente o seu campo, como lhe anunciassem que os godos o tinham feito a ele – pobre campónio, rei da Espanha, espetara no chão a aguilhada seca de oliveira e dissera – “Quando esta vara der rama, serei eu rei Wamba”.

E de facto, a vara, reverdecendo, vestiu-se de vergônteas.

Na legenda portuguesa talvez se possa ver também (Tacitus, De Sit, m. et Pop. Germâniæ) o antigo costume teutónico de deitar sortes com ramos de árvores frutíferas.

Agosto 9, 1887.
ALBERTO SAMPAIO
[In Aurora da Penha, n.º único, Guimarães, 29 de Agosto de 1887]

domingo, 5 de outubro de 2008

O Castelo de Guimarães, num texto de Alberto Sampaio

O Castelo de Guimarães no início do século XX


O Castelo de Guimarães

Consta das Inquirições (pág. 736 e 737) que Afonso Henriques deu aos moradores intus castelli, frase que empregam sempre, certos privilégios, confirmados por Sancho I. E aí o rei, além de açougues, de um forno e terreno não edificado, tinha a sua própria habitação; - “et aliud casale quod tenet Petrus Gomecii qui moratur in Castello Vimarañ non dat ullam derecturam. Interrogatus quare, dixit quod propter quod habet varrere ipsas domos castelli Domini Regis et curare illas et revolvere in quolibet anno” (Inq., pág. 723, 1.ª col.). A estas domos chama com propriedade o conde D. Henrique nosso Paço Real na doação, feita por ele e pela rainha D. Teresa a Amberto Tibaldi, de certo campo “quem habemus in Villa de Vimaranis et jacet juxta Palatium nostrum Regale, et ex alia parte sicut dividiteum clausis Ecclesiae Sanctae Mariae, deinde sicut intestat cum atrio ejusdem Ecclesiae” (Souza, Provas, tom. I pág. 3; cf. Herc., Hist. de Port., III, pág. 214, 2.ª ed ). As Inquirições distinguem o lugar Sancti Michaelis Castelli Vimarañ da Ville Vimarañ (pág. 736 e 727) No primeiro ficava o palácio e pegado com ele o campo já na Villa Vimarañ, o qual vinha desde cima entestar com o adro da igreja de Santa Maria. O palácio estava porventura no mesmo sítio, onde por doação do pai, o primeiro duque de Bragança levantou a vivenda monumental (hoje quartel militar), visto que as doações régias recaíam sempre em imóveis do plena propriedade da coroa. Perto pois da fortaleza iniciada no século X e abrigada por ela, existiu uma povoação antes da monarquia portuguesa, onde pousariam os reis de Leon, quando vinham à província, e de ordinário os condes que a administravam. Estabelecendo aí a sua residência o conde D. Henrique o D. Teresa, não admira que por tal motivo o povo lhe chamasse logo villa em virtude das prerrogativas da sede do governo e por isso velha em relação ao povoado em baixo, sem elas, junto do mosteiro.

QUANTO AO CASTELO EXISTENTE, CONCERTEZA NÃO PODE SER NA TOTALIDADE O PRIMITIVO NEM TALVEZ O DO TEMPO DE AFONSO III. A torre de menagem tem, é facto, a porta em arco e as ameias são de duas peças, posto que do tipo das outras: mas depois da ogiva que se vê nos torreões da muralha envolvente, o que apareceu em França do século XII por diante, construiu-se com as duas formas e com padieira direita (cf. de Caumont). A mesma porta referida está nivelada com a muralha, de modo a receber ingresso dela pela ponte levadiça. Em geral o edifício deixa-nos a impressão de um plano uniforme, parecendo ser o sistema de construção idêntico em todo. As muralhas que circundaram os dois povoados urbanos, foram edificados por D. Diniz e por D. Fernando; por D. João I as torres das portas, infelizmente hoje demolidas, das quais apenas subsiste um pequeno resto da de S. Paio. EM QUALQUER DESTES REINADOS, TALVEZ NO PRIMEIRO, O CASTELO FOI REEDIFICADO NA FORMA ACTUAL SE NÃO NO TODO PELO, MENOS NA MAIOR PARTE.

Alberto Sampaio.

1903.

[Texto publicado no jornal Independente, de Guimarães, em 5 de Agosto de 1911]

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Nuno Simões e a economia portuguesa, a partir de Alberto Sampaio


Em 1953, o Dr. Nuno Simões publicou no jornal Notícias de Guimarães no qual, a partir de Alberto Sampaio, reflectia sobre a situação da indústria e da agricultura de então. Aqui se reproduz.


Indústria e Agricultura
Uma nota à margem de opiniões de Alberto Sampaio


Foi o grande Alberto Sampaio, mestre de história social e de economia rural quem, há uns setenta anos, sustentou, em resposta à pergunta: Convirá promover uma exposição industrial em Guimarães? que “não é independente uma nação ou um povo só porque certas circunstâncias lhe permitem uma soberania especial representada por um Governo”.

E o sábio recolhido de Boamense, continuou:

“Para ser na verdade independente, é necessário que afirme a sua existência duma maneira própria, que se torne um organismo em que as actividades de todos os seus elementos têm de convergir para a conservação e aperfeiçoamento das primeiras necessidades, até às mais elevadas concepções do espírito, isto é, até ao desenvolvimento das faculdades características da sua raça.”

E ainda: “uma nação ou um povo que viesse a perder a sua indústria, perdendo uma função das mais importantes, perderia também uma das principais expressões do seu génio e colocar-se-ia, por esse facto, moralmente, como estamos vendo, e economicamente, como veremos logo, numa posição inferior em respeito aos outros que continuam a possuir aquela faculdade criadora.”

Teremos nós porém capacidade industrial?

Já, então, Alberto Sampaio afirmava que sim, dizendo: “sobeja-lhe (ao povo português) o amor do trabalho, a reflexão, a tenacidade e o espírito de ordem, tendo em si os elementos necessários para criar uma indústria nacional.”

Provou-o que farte o inquérito industrial de 1881.

Mestres nacionais e estrangeiros opinam conformemente que o operário português possui todas as qualidades necessárias de um bom oficial: o que lhe falta é o ensino técnico geral, a aprendizagem, e um meio moral conveniente que lhe estimule as faculdades inventivas».

O estudo de Sampaio, há tanto tempo escrito, não perdeu actualidade, sobretudo quanto às carências que ele sublinhou.

E o condicionalismo económico e social que se criou, no último meio século, veio justificar inteiramente a sua orientação.

Às razões de ordem técnica por ele invocadas, acresceram as injunções económicas.

A industrialização não é, hoje, apenas uma demonstração da capacidade técnica nem depende somente duma boa preparação profissional ou obedece a finalidades cívicas e patrióticas.

As necessidades económicas da nação exigem-na. Há que sustentar uma população em ritmo forte de crescimento. Ou se industrializa o país, até onde for possível, para assegurar subsistência e melhoria de nível de vida à população, que aumenta, ou esta tem de procurar, fora de fronteiras, trabalho e alimentação, pois a terra da Metrópole já não pode sustentar os que nela vivem e crescem, aos 100 mil anualmente.

O esforço feito para o aproveitamento dos recursos hidro e termoeléctricos do país – e que não custa a reconhecer que tem sido importantíssimo, – terá que ser continuado e completado, a fim de permitir a vida das indústrias que, todos os dias, se estão instalando e a melhoria da agricultura que precisa de desenvolver-se e modernizar-se.

Terão as novas indústrias de ser estudadas previamente e com objectividade e proficiência, para que não haja dúvidas sobre a sua viabilidade económica e para que não venham a perder-se, inutilmente, capitais e a comprometer-se injustamente técnica e mão de obra quê temos de defender, com toda a parcimónia.

O regime de condicionamento industrial (que foi criado, se não estou em erro, por um vizinho de Guimarães, despretensioso e de notável senso prático: - o Dr. Antunes Guimarães) tem tido muitas vantagens económicas e não há industrial que, desapaixonadamente, não reconheça as suas virtudes e os seus méritos.

Deveu-se-lhe um esforço orientador na defesa da organização industrial do país, que pode ser discutido, num ou noutro detalhe, mas que há-de ser reconhecido, como útil e eficaz, quando, fora de pequenas questões de momento, o interesse nacional for a razão única da inspiração duma crítica construtiva.

Algumas novas indústrias primaciais estão em marcha. Tem sido mais demorado pôr outras em laboração. Mas, de um modo geral, as velhas indústrias tradicionais ampliaram-se, renovaram-se e procuraram actualizar-se com aparelhamento novo, com maior preparação profissional do operariado, melhores condições de instalação e ambiente mais higiénico e confortável de trabalho.

Se compararmos, na nossa importação, as compras de matérias-primas de 1900 com as de cinquenta anos depois e se, paralelamente, confrontarmos a exportação de objectos fabricados no mesmo período, temos de concluir por que a industrialização do país se está processando lentamente mas com segurança.

Em 1900 – não chegávamos a 5 milhões e meio na Metrópole, – importamos 1.263.949 tons. de matérias-primas no valor de 19.703 contos-ouro. Meio século depois – éramos já quase nove milhões e meio, – essa importação subiu para 2.177.154 tons. e 61.588 c. ouro.

A exportação de objectos fabricados que somou, no primeiro ano deste século 21.437 Tons. e 4.632 C. ouro, em 1950 representou 215.734 Tons. e 41.807 C. ouro. E nesta rubrica não se incluíram muitos produtos alimentares como as conservas de peixe, carne e frutas, e muitas matérias-primas meio trabalhadas como o pez e a aguarrás; umas e outras provenientes de actividades fabris e as últimas de produção relativamente recente.

Mas Sampaio não se deixou tomar de entusiasmo pela industrialização, repudiando ou esquecendo a agricultura.

Ele escreveu, também, no artigo a que me estou referindo: “Se na ordem cronológica das indústrias a agrícola é a primeira que aparece como mãe de todas as outras, como a origem de toda a civilização, ficará todavia naquele estado rudimentar e primitivo enquanto se não desenvolver convenientemente em volta de si o trabalho fabril. Os grupos de população manufactureira que se vão formando em derredor, abrem-lhe um mercado, activam-na e forçam-na a aumentar a produção. Mais tarde é ela que lhe fornece a apeiria aperfeiçoada, é ela enfim que com o seu ensino vai reagir sobre a outra, obrigando-a, também, pelo exemplo, a melhorar os seus processos.

Se a lavoura portuguesa quisesse reformar os seus utensílios primitivos, teria de os importar na sua generalidade e, portanto, exportar os valores representados no seu custo que desapareceriam fatalmente da economia da nação; enquanto que se a nossa indústria os pudesse fornecer, ficariam no país fomentando a produção nacional.”

Esta é a boa doutrina. Uma lavoura progressiva e próspera tem de estar na base da riqueza nacional. Mas agricultura e indústria são interdependentes.

Sem prosperidade agrícola, não a pode haver industrial. A agricultura precisa do exemplo sugestivo da modernização fabril e do consumo mais retribuidor dos seus produtos pelas massas operárias da indústria.

Fui, em certa altura, dos que viram, com satisfação, os industriais enriquecidos voltarem-se para a agricultura e fazerem-se grandes proprietários rurais, com dinheiro fácil e barato para a exploração agrária e como era de esperar também, com métodos de produção mais modernos e racionais. Infelizmente a influência que eles exerceram na agricultura pouco se sentiu ainda, se é que se sentiu. A situação não mudou.

NUNO SIMÕES
Notícias de Guimarães, n.º 1119, ano 22.º, 22 de Junho de 1953

sábado, 5 de julho de 2008

Alberto Sampaio na inauguração do monumento a Afonso Henriques

No dia 19 de Outubro de 1887, aquando da inauguração em Guimarães do monumento a D. Afonso Henriques, foi publicado o número único do jornal "A Apotheose", que contou com inúmeros colaboradores. Entre eles contava-se o vimaranense Alberto Sampaio, com o seguinte texto:

O monumento a Afonso Henriques, que vai inaugurar-se nesta cidade no dia 19 de Outubro, significando o tributo de respeito que devemos todos àquele “sem o qual não existiria hoje a nação portuguesa, e por ventura, nem sequer o nome de Portugal”, exprime também que o sentimento da pátria que uniu no passado nossos pais, está sempre e cada vez mais vivo no nosso peito.

A presente publicação concorrerá também e eficazmente para robustecer esse sentimento, que é a base da vida pública de todos os povos cultos.

Guimarães.
Alberto Sampaio

domingo, 1 de junho de 2008

Feliciano Ramos, sobre Alberto Sampaio e o espírito do lugar

"Alberto Sampaio era um paladino da terra de Entre-Douro-e-Minho, tinha o culto desta nação milenária. A fim de compreender a sua devoção histórica pelo Norte, não é indiferente uma romagem a Guimarães, sua cidade natal. Uma vez lá, convirá subir ao alto da colina histórica, que domina o povoado urbano, onde se fixa o rude e bravio rochedo, símbolo da nossa sólida e irremovível vitalidade. Aí se nos deparará essa relíquia militar das origens da Nação, o castelo de Guimarães com as torres quadrangulares, que projectam no céu a sua dentadura granítica; também se evocará, para além da sobriedade decorativa e escultórica da capela românica de S. Miguel do Castelo, as inquietações religiosas da gente da Fundação. Uma vez perante os Paços dos Duques de Bragança, que, na sua imponência arquitectónica, espelham ainda o vasto poder senhorial de outros tempos, descer-se-á até ao Claustro de S. Domingos, para lá memorar o passado pré-histórico de Portugal e as aspirações autonomistas das velhas populações do Minho. Depois disto, é ainda indispensável, para bem compreender o homem de Entre-Douro-e-Minho através dos tempos, percorrer o Museu de Alberto Sampaio, cujo recheio artístico e arqueológico é, em grande parte, um valoroso legado da gente do Norte. A leitura atenta dos Estudos Históricos e Económicos de Alberto Sampaio será magnificamente iluminada por esta romagem histórica, que é um dever para todos os portugueses."

Feliciano Ramos, Alberto Sampaio e a subjectividade das suas interpretações históricas, Coimbra, 1946, pp. 21-22.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Alberto Sampaio na Revista Lusitana

No volume IV da Revista Lusitana (1896), de José Leite de Vasconcelos, Alberto Sampaio publicou um texto raramente referido na sua bibliografia. Trata-se de uma nota etimológica que aparece transcrita, com pequenas alterações de pormenor, na nota C inserida no final de “As Vilas do norte de Portugal”.


Um derivado de cornus, -i pelo sufixo -ária

Nos nossos pomares é hoje completamente desconhecida a cornus dos latinos (Cornus mascula de Linn.), – árvore frutífera de pequeno porte, cuja madeira teve na antiguidade grande reputação de dureza, segundo uma das referencias de Virgílio:

……………………..et bona bello

Cornus…………………………...(1)

Não mais conhecida foi ela com certeza dos lexicógrafos portugueses, tal tem sido a sua divergência na tradução da palavra latina; traduzem-na uns em corniso, outros em sanguinho, outros em pilriteiro, julgando alguns que era uma espécie de abrunheiro, senão também de cerejeira brava. Este desvairamento de opiniões numa coisa tão simples indica absoluto desconhecimento da árvore; e contudo ela foi cultivada entre nós, e teve um nome privativamente seu, com uso tão prolongado, que se fixou em denominações locais.

O documento n.° 263 (an. 1027) dos Dipl. et Chartae, colecção dos Port. Mon. Hist., dá-nos uma informação decisiva a este respeito na seguinte passagem –uilla Cornaria subtus castro uermudi discurrente rribolum aue.

Comecemos pelo exame da denominação da “vila”.

Sendo corrente(2), que no período romano se designaram localidades e prédios rústicos com nomes derivados de vegetais por meio de vários sufixos, entre eles -arius -ária, logo à primeira vista a palavra cornaria se nos apresenta composta de cornus+-ária, justamente como do mesmo modo se compuseram os nomes de quase todas as árvores; sem a menor hesitação podemos, portanto, considerar a cornaria, que se lê no diploma, equivalente à cornus do latim clássico.

Vejamos agora se aquela entrou na linguagem popular, vertendo-se -ária em -eira.

Felizmente o texto contém as indicações bastantes para ser possível uma investigação de localidade. Este prédio devia ser pouco extenso, porque não produziu uma freguesia rural; mas deixou, contudo, memória na toponímia. Aproximadamente a 4 quilómetros do Castro de Vermoim, em baixo, ao sul, nos limites de Landim, S. Miguel e S. Paio de Seide (V. N. de Famalicão), há um terreno, compreendendo campos e bouças, chamado hoje o lugar de Carneira ou Corneiras; daqui ao Ave há quase a mesma distância. A situação da vila não deixa a menor dúvida; onde esteve a Cornaria do diploma está a Corneira actual.

Uma parte da freguesia de Tagilde (Guimarães) chama-se também ainda hoje Vila Corneira, que supõe uma Cornaria, como muito bem entende o seu distinto pároco, o sr. Oliveira Guimarães. (3)

Em face, pois, dos nomes topónimos que acabamos de citar, fica demonstrado que a cornus deu origem a Cornaria e Corneira, e que, portanto, esta última deve ser a tradução da primeira palavra.

Todavia, o nome nunca teria existido sem a árvore, por isso dissemos que foi cultivada entre nós; mas, tendo sido abandonada a sua cultura, ele perdeu-se para a linguagem comum, ficando apenas gravado no onomástico local, e por tal motivo passou desapercebido aos eruditos.

Quanto à denominação do fruto (cornum, -i) lapidosaque corna, diz Virgílio(4) –, não encontrámos vestígios que nos elucidem sobre a forma portuguesa, que indubitavelmente existiu.

Alberto Sampaio.

(in Revista Lusitana, n.º 4, 1896, pp.285-286)

_____________________________

(1) G. II, V. 447-8.

(2) Jubainville, Recherches s. l’or. de la pr. f. et d. n. de l. hab. en F., Cap. XVI

(3) Tagilde, Mem. Hist.-Descript.

(4) Aeneid., III, v. 649

domingo, 25 de maio de 2008

Alberto Sampaio na Revista de Guimarães (5)


­

ESTUDOS DE ECONOMIA RURAL DO MINHO

A apropriação da terra e as classes que constituem a população campestre

A quem vê hoje a província, coberta duma rede inextricável de divisões, dispostas por toda a parte em estreitas malhas, ajustando-se a todos os contornos e relevo do solo, com as casas rústicas dispersas pelos vales e encostas, - parecerá que nunca foi de outro modo e que se houve canto do mundo em que a propriedade individual tinha de nascer espontânea, devera ser este, onde tudo estava indicando o regime actual, desde a configuração do terreno até à abundância da água.

Houve todavia uma época, em que a população vivia no alto dos montes: era esta a regra normal em toda a região, como mostram as ruínas da Citânia de Briteiros e Sabroso (Guimarães), da do Monte da Saia (Barcelos), da de Paços de Ferreira e de tantas outras que cobrem os picos culminantes das cordilheiras que atravessam o país.

Que essas ruínas representam verdadeiros lugares rústicos, onde a população se recolhia para maior segurança, como indicam as muralhas de defesa, é sem duvida uma hipótese verosímil. Com os habitantes assim aldeados ou grupados em povoações, partindo dali para os seus trabalhos, a província apresentaria já uma feição muito diferente, feição que chegou até à ocupação romana, por isso que muitas destas se encontram romanizadas. Até pelo menos a essa época, o regime quanto às habitações era totalmente diverso do presente e deixa supor que o da terra seria também outro, adequado a tal disposição das casas. Se com as habitações dispersas é necessária a propriedade individual, a colectiva torna-se possível quando se agrupam em lugares.

in Alberto Sampaio, "Estudos de economia rural do Minho. A apropriação da terra e as classes que constituem a população campestre", Revista de Guimarães, n.º 4, 1887, p. 21-38.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

A Indústria Vimaranense

A assinalar a Exposição Industrial de Guimarães de 1884, foi lançado o número único do jornal “A Indústria Vimaranense”, uma iniciativa conjunta da imprensa local, que contou com textos de diversos autores, entre os quais Adolfo Salazar, Campos Henriques, Avelino Guimarães, Conde de Margaride, Martins Sarmento e Pereira Caldas. O texto de abertura é de Alberto Sampaio. Aqui fica:

Parecerá geralmente demasiada imodéstia que um concelho, a quem sobra a indiferença pública, se abalançasse a fazer uma Exposição Industrial.

Os seus iniciadores não tiveram contudo em vista organizar uma festa de mera ostentação, nem tampouco nunca pensaram surpreender o público com uma colecção de produtos, cujo acabamento nada deixasse a desejar.

Está visto que cada um havia de fazer o melhor que pudesse; mas este melhor estando limitado a um maquinismo antigo e por assim dizer primário, a exposição não poderia ostentar evidentemente estas maravilhas da indústria moderna que nas grandes exposições estrangeiras provocam a admiração das multidões, Havia, porém, um motivo para pôr de lado quaisquer considerações e fazer esta tentativa.

Tendo a mecânica moderna, auxiliada por enormes capitães, revolucionado a indústria fabril em todos os países civilizados do mundo, a nossa tem continuado a viver aqui humildemente com os seus velhos instrumentos de produção, procurando somente na habilidade manual a perfeição e barateza que aliás lhe devia ser dada economicamente por máquinas e ferramentas aperfeiçoadas.

A situação tornara-se extremamente delicada. A concorrência estrangeira, minando-a e cerceando-a todos os dias, está pondo em risco a subsistência de milhares de pessoas e uma parte da riqueza nacional. A falta de instrução técnica, a aprendizagem imperfeita e não regulada, a indiferença dos poderes públicos, a carência de capitães e instrumentos aperfeiçoados, vão operando dia c noite uma solução desgraçada.

Era tempo, pois, de tentar um esforço. Começar por uma exposição estava naturalmente indicado.

Agitar a população fabril e convencê-la a lançar-se numa tal empresa, a ela que tem vivido sempre na penumbra e como que abandonada, é muito; mas não é tudo. O tudo é a união das vontades. Se se convencerem todos da força imensa de que poderão dispor, se reunirem e disciplinarem os seus esforços, se se convencerem que um dos grandes males que aflige o trabalho local é a desunião e o indiferentismo de cada um em relação aos interesses gerais, se em vez de partidos meramente políticos levantarem outro que se proponha sobretudo a reorganização da indústria concelhia, se ao lado dele organizarem sociedades de estudo que procurem a solução das questões que lhe dizem respeito, se em fim se formular claramente uma vontade decidida de obter o rejuvenescimento das antigas e históricas indústrias de Guimarães, os iniciadores e organizadores da exposição dar-se-ão por satisfeitos, quaisquer que fossem as contrariedades com que tiveram de arcar para dar este primeiro passo definitivo no novo caminho.

Alberto Sampaio

A Indústria Vimaranense, n.º único, Guimarães, 15 de Junho de 1886

domingo, 18 de maio de 2008

O terramoto da Andaluzia de 1884

No dia 25 de Dezembro de 1884, quando a noite já tinha caído, a Andaluzia foi abalada por um terramoto que causou mais de 800 mortos e 1500 feridos, deixando atrás de si um imenso rasto de destruição. Esta catástrofe daria origem a uma enorme campanha de solidariedade, que se estendeu desde a Europa até à América.

Assim foi também em Guimarães, onde, ao longo do mês de Janeiro de 1885, houve preces pelas vítimas do terramoto, que culminaram no dia em passou um mês sobre o desastre, no qual saiu da igreja de S. Domingos uma procissão de penitência, conduzindo, num andor, a imagem de Nossa Senhora dos Terramotos em andor, que terá sido acompanhada por uma multidão de mais de 6000 pessoas.

No dia 12 de Fevereiro, realizou-se, no teatro de D. Afonso Henriques, um baile de máscaras em benefício dos povos de Andaluzia. Segundo então noticiou o Comércio de Guimarães, o baile teve uma assistência extraordinária” e “o teatro achava-se decorado com muito gosto, principalmente os camarotes da 2.ª ordem”. À porta tocou uma banda de música até à meia-noite. A sessão entrou pela noite dentro, tendo sido dançada a última quadrilha às três horas da madrugada. O escritor Bráulio Caldas ofereceu então à comissão organizadora do evento “um formoso bouquet de sonetilhos”, que foi vendido em benefício das vítimas do terramoto.

Nesse dia, começou a circular o número único do jornal Guimarães-Andaluzia, publicação em Benefício das Vítimas dos Terramotos na Espanha, pela Comissão de Socorros Vimaranenses em que colaboraram 44 autores vimaranenses. Entre eles, contava-se Alberto Sampaio, com o seguinte texto:

Conto popular

Duma vez, uma pobre mulher tinha um filho, que chegou a ser bispo ou arcebispo.

Quando isto aconteceu, era já muito idosa e vivia numa cabana, longe da cidade.

Mas o filho, logo que subiu a tal honraria, mandou por ela e trouxe-a para o paço, onde a velhinha era tratada a primor, com todas as grandezas devidas à mãe de um príncipe da Igreja.

Apesar de tudo, a coitada sentia-se mal. Não estava em sua casa: faltava-lhe a liberdade do seu lar, o agasalho e o calor da sua fogueira.

Começou a pedir que n levassem outra vez para a sua terra, e tanto disse que o bispo mandou reconduzi-la à sua antiga vivenda.

Chegada lá, e despedidos os grandes que a acompanhavam, a boa velha fechou-se por dentro, acendeu o fogo na lareira abandonada, assentou-se no seu escabelo, e, pondo-se à vontade, desabafou em alta voz:

“Ah, minha casa, meu lar! Quem te fadou, não te fadou mal.”

~*~

Os desgraçados, que V. com o seu óbolo, vão ajudar a readquirir o home destruído, ainda que não conheçam o mote do povo português, dirão todavia no seu coração:

“Bem hajam os que nos auxiliaram a reconstruir as nossas casas, os nossos lares.”

Guimarães, Janeiro do 1885.

Alberto Sampaio.


terça-feira, 13 de maio de 2008

A política portuguesa, segundo Alberto Sampaio

[Para ampliar, clique na imagem]
A Paixão Popular, segundo Rafael Bordalo Pinheiro (in O António Maria, 25 de Março de 1880)

Durante toda a nossa história contemporânea, para a população portuguesa a noção do “governo” tem sido sempre a de um inimigo, de que a gente precisa de se defender, por sua conta e risco, como puder. Depois de se extenuar em tumultos e convulsões por mais de meio século, sem nenhum outro resultado, senão achar-se cada vez pior, considerando-se já agora como vencida, não faz ela outra opinião, senão a de um conquistador, que para a deixar viver à mercê da sua ignorância e miséria lhe exige o melhor do seu dinheiro.

A seu turno, os que mandam, aqueles que tiveram uma hora de sorte ao pôr o pé no estribo e por fim tomaram definitivamente as rédeas do poder, somente vêem no público – eles e os seus agentes, um gerador de impostos, a massa anónima, vil e desprezível, que não pode servir para outra coisa, mas que, contudo, é força ir ameigando deste ou daquele modo, por modo que ele, apesar da sua pacatez dos últimos trinta anos, não venha a enraivar-se, como as ovelhas tosquiadas rentes em demasia.

A frase tão famosa “o povo pode e deve pagar mais” exprime pitorescamente esta situação. Dois inimigos debatem um imposto de guerra. O vencedor, o que governa, quer tal quantia para deixar em paz o vencido, que se vê ao fundo com o traje burlesco, que o celebrado caricaturista lhe deitou aos ombros, protestando e jurando que não tem ceitil.

E são, de facto e realmente, dois inimigos, duas entidades que se não entendem nem se amam. Por isso se formou a oligarquia governante com os seus interesses e as suas opiniões em oposição ao país, que, não tendo já força para lhe resistir, nem saber para a substituir, sofre todas as imposições, reservando-se a triste e nefasta consolação de a desprezar e denominá-la com os nomes mais injuriosos.

Daqui resultam as piores consequências.

Faltando aos governos o apoio moral da nação, falta aos homens que o têm constituído e aos empregados, seus delegados, o sentimento de responsabilidade que basta por si só para tornar fecunda uma administração.

Por outro lado, livres de todo o sentimento de dever para com a nação, os políticos, julgando-se em terreno conquistado, importam-se apenas da sua gente.

Por isso, pode dizer-se que a política portuguesa, no fundo, só se tem preocupado de duas questões correlativas – aumentar os impostos para elevar a receita, e acrescentar esta em benefício de uma classe.

(Alberto Sampaio, “Oliveira Martins e o seu projecto de Lei de Fomento Rural”, in A Província, Porto, 14 de Maio de 1887)

domingo, 4 de maio de 2008

Alberto Sampaio na Revista de Guimarães (4)


ESTUDOS DE ECONOMIA RURAL DO MINHO
A cultura do mato

Por toda a parte, nos cimos dos montes e nas ladeiras íngremes, entre as penedias que afloram à superfície, onde nunca poderá chegar a charrua, ou em baixo nos sítios mais magros e pedregosos, de onde jamais tirará qualquer proveito, nascem espontaneamente estes arbustos silvestres e bravios, conhecidos pela denominação geral de “mato”, dando aos montes todo o ano pela persistência das suas pequenas folhas uma cor verde característica e em certas épocas cobrindo-se de bonitas flores amarelas. Comuns a todas as formações graníticas, rudes e intratáveis por causa dos seus espinhos agudos, são, apesar da sua difícil abordagem, uma das mais preciosas produções com que a natureza quis porventura compensar a pobreza inicial destes terrenos, e que o génio da raça, que se fixou no país, soube converter em beneficio dos outros que melhor se prestavam ao cultivo.

É assim em todos os países graníticos, desde o Minho ate à Bretanha: em todos a agricultura recorre àquelas plantas, como a um dos principais elementos fertilizadores e de maior valia que a natureza lhe pôs à disposição.

E, de facto, se viessem a desaparecer, veríamos a produção agrícola do Minho muito reduzida: a região contendo 50% de terras montanhosas, a metade das quais pelo pouco não daria nenhum vegetal de produção directa, nem outro, a não ser este, que pudesse prestar qualquer auxilio à sua lavoura, o lavrador teria então de aplicar às camas dos animais a palha com que actualmente em parte do ano sustenta o gado; e a falta desta deveria ser substituída por ervagens que teria de produzir especialmente para tal fim nas terras onde hoje produz ou grãos ou frutos destinados ao sustento do homem. Se o cultivador minhoto pôde acomodar à produção agrícola todos os cantos aproveitáveis da sua terra, é sobretudo por causa destas sarças agrestes que vegetam até no alto dos montes entre as pedras e que vêem fertilizar os campos dos vales e da meia encosta, trazendo-lhes princípios fertilizantes, que aliás lhe ficariam muito caros: à falta de conhecimentos técnicos positivos, a intuição mostrou-lhe o merecimento económico de tais plantas que se lhe representam com verdade como o mais valioso auxiliar da sua indústria.

in Alberto Sampaio, "Estudos de economia rural do Minho. A cultura do mato", Revista de Guimarães, n.º 3, 1886, p. 146-159.

domingo, 6 de abril de 2008

Alberto Sampaio na Revista de Guimarães (3)

O Presente e o futuro da viticultura no Minho.

Estudo de economia rural.

II

No Minho, é bem sabido que a cultura da vide se fixou economicamente não como exclusiva, mas sim associada a outras, sobretudo aos cereais e forragens; tecnicamente adoptou a forma alta, encostando as cepas às árvores ou estendendo-as em largas ramadas horizontais.

Esta maneira cultural parece ser a mais primitiva e a que que mais se aproxima à organização da planta, trepadeira de natureza vagabunda e expansiva. O modo como ela se comportava no meio das florestas, estava por si mesmo a ensinar o agricultor quando a transportou para os seus campos. Ainda hoje no nosso continente, Côte-d'Or, Toscana, Margens do Rheno, etc, encontram-se muitas espécies no estado selvático, subindo pelas árvores ou emaranhadas em sebes. A vide assim mais ou menos aparada, casada a árvores mais ou menos derramadas, devia ser o primeiro ensaio cultural.

Segundo uma tradição recolhida por Plínio (Liv. XIV, 14) parece que no tempo de Numa não havia outra cultura e esta mesma ainda incipiente; pois diz que ele proibiu aspergir com vinho a pira funerária por causa da raridade do líquido, mas que permitira fazer com este as libações aos deuses uma vez que viesse de vides podadas, para obrigar a esse trabalho os lavradores que o receavam pelo perigo de subir às árvores. E de facto muito tempo devera passar-se antes de se achar a cultura baixa. Transformar um vegetal, a quem a natureza tinha dado elementos para se desenvolver largamente num arbusto de fraco e pequeno crescimento, fazendo concentrar no cacho toda a sua vitalidade, de modo que em vez de um fruto bravio, acido e desagradável viesse a produzir um outro de sueco doce, de fino sabor e próprio a produzir uma bebida generosa, esta transformação, assim como de quase todas as nossas fruteiras, indica uma longa série de tentativas e observações dos antigos cultivadores. Mas quando enfim se achou a cultura baixa, a primeira com tais ou quais aperfeiçoamentos ficou provavelmente subsistindo ou nos sítios mais adequados ao cultivo de outras plantas ou onde o paladar não pedia nem exigia vinhos de primeira qualidade. Todavia no tempo de Columela já se conheciam as duas, ambas as quais descreve extensamente; a alta sobretudo, é de tal modo indicada no livro V, que a descrição fotografa exactamente a viticultura hodierna do Minho. Pode afirmar-se à face do texto do antigo escritor que nesta espécie desde então nada se tem inventado; tudo se acha ali, desde a árvore em alto fuste (arbusto italicum) disposta em andares (tabulata) até à entrepada em três ou quatro cabeços (rumpotinus, genus arbusti gallici), incluindo os cordões (traduces) que passam de uma a outra. Tal é principalmente a maneira virgiliana, e é a ela que o poeta se refere, quando diz:

Semiputata tibi frondosa vitis in ulmo est.

Este modo de cultivar, remontando como acaba de ver-se aos tempos mais antigos, também não é actualmente privativo da nossa região. Conserva-se na Itália, na Lombardia, em França, nos departamentos dos Altos Pirinéus, Garone, Isére e Sabóia; na Suiça em alguns sítios, como Evian; na Espanha, na Galiza. Encontra-se até na Ásia central (Kashmir).

Não possuindo os factos necessários para formularmos a história cio seu estabelecimento no Minho, e especialmente no concelho de Guimarães, indicaremos contudo que nem sempre foi assim. O foral de D. Manuel, dado em 1517 a esta cidade, contém a seguinte passagem: E Allem dos direitos atraz decrarados neste foral ouvemos por bem mandar asen-tar aquy e decrarar outros direitos e coisas que antigamente se levavam na dita villa segundo a justificaçam que das ditas coisas mandamos fazer – a saber... E assy o direito que se chama dos cariteis que he a pena que se daa aos que trazem os cães soltos no tempo das uvas”. Vê-se deste texto que anteriormente ao tempo do foral a generalidade da cultura da vinha devia ser em videiras baixas, aliás não seria preciso tomar medidas policiais a respeito dos cães no tempo das uvas. Combinando todavia as palavras que antigamente se levavam com o assentamento dos direitos dos cariteis, devemos inferir que nesta época a cultura já se estava modificando, sem se ter alterado completamente, pois que neste caso seria perfeitamente inútil declarar a coima. Concluiremos pois em face do texto que a viticultura baixa seria a regra normal no século XV, começando a desaparecer e a transformar-se toda em alta no século XVI. A esta passagem do foral convém adicionar a denominação significativa que ainda hoje conservam muitas parcelas de terra, como campo da vinha ou campo do bacelo, quando estas duas designações se eliminaram completamente da terminologia rural da localidade. O objecto desapareceu, mas como das cidades mortas ficou todavia um nome na linguagem popular.

in Alberto Sampaio, " O Presente e o futuro da viticultura no Minho. Estudo de economia rural. II ", Revista de Guimarães, n.º 2, 1885, pp. 20-35.

Continuar a ler

terça-feira, 1 de abril de 2008

Memória de Alberto Sampaio, por Jaime de Magalhães Lima

Jaime de Magalhães Lima

"Grandes individualidades puderam formar e reger grandes governos, mas só a grandeza dos povos significará e alimentará a grandeza das nações. O primeiro acto de uma nova e mais justa concepção da história nacional será libertar-nos do fetichismo das individualidades e contemplarmos as energias da grei, tal qual aprendemos na lição magnífica que Alberto Sampaio nos legou."

Jaime de Magalhães Lima

Na noite de 7 de Abril de 1924, o escritor de Jaime de Magalhães Lima proferiu na Sociedade Martins Sarmento uma conferência sobre "Alberto Sampaio e o significado dos seus estudos na interpretação da História Nacional", onde analisou a relação que Sampaio tinha com a história de Portugal, ao mesmo tempo que nos deixa um testemunho impressivo da personalidade do historiador das Vilas do Norte de Portugal:

"Li um dia a Alberto Sampaio algumas passagens das Memórias de Kropotkine; falavam da ignorância simples e da obtusidade moral dos magistrados que se achavam à frente da administração do império moscovita e registravam a opressão, miséria e abandono do povo. Ouviu com atenção o libelo temeroso e eu, que lho repetia mais por lhe mostrar a finíssima arte de contar que ali estava, tão singela, que por lhe solicitar a simpatia com a desgraça que em sua substância patenteava, encontrei-o muito mais inclinado a reflectir na rectidão da causa que o comovia do que enlevado na perfeição da arte que a exprimia. Sob o homem tranquilo, regrado, sereno, pacífico e modesto habitava o apóstolo dos humildes que não se apavorava com os anátemas do anarquismo e antes lhes sentia a justiça e cogitava os remédios.

Por esse mesmo tempo – era isto no Verão de 1908 – uma noite, no vaguear da palestra verificámos que nas minhas jornadas pelo Minho já havia passado próximo de propriedades suas. E então falou-me delas. Visitava-as pouco. A casa estava deserta; não tinha lá família e não a tendo onde outrora a encontrava, aqueles lugares só lhe acordavam saudades e mágoas. Andavam entregues aos caseiros. Não sabia nem queria averiguar do zelo com que eram tratadas, nem da inteireza com que lhe era apartado o seu quinhão, e da possibilidade de acrescentar o rendimento. Havia quem dissesse que era muito prejudicado, mas estava lá gente que há muito morava lá e carecia daquilo para seu sustento. Não ia inquietá-la. E o mais da sua bondade resumiu-o num gesto de abdicação.

Na história, não o tentaram investigações de erudição pela erudição, nem especulações filosóficas, nem esplendores da arte, nem labirintos diplomáticos, nem quanto cativa o orgulho dos temperamentos aristocráticos; correu direito à morada dos humildes, ao labor e canseiras dos servos da gleba, fervorosamente as contemplou desde as origens até àquela hora em que as tinha diante dos olhos a tirar da terra o pão com o suor do rosto. Por certo poderia dizer com Wordsworth que “o amor procurou-o nas choupanas dos pobres. Seus mestres, de todos os dias, foram as árvores e os ribeiros, o silêncio que habita o céu estrelado, a paz que mora entre outeiros solitários”. “Nos jardins, disse-me, nada o cativavam as plantas exóticas. A todas as estranhas preferia as da nossa terra. Nenhumas achava mais belas que as nossas árvores com seus renovos da Primavera e a nudez austera dos Invernos”."

Jaime de Magalhães Lima, Alberto Sampaio e o significado dos seus estudos na interpretação da História Nacional. Conferência realizada na Sociedade Martins Sarmento, de Guimarães, em a noite de 7 de Abril de 1924. Guimarães, Edição da Sociedade Martins Sarmento, págs. 54-55.