domingo, 25 de maio de 2008

Alberto Sampaio na Revista de Guimarães (5)


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ESTUDOS DE ECONOMIA RURAL DO MINHO

A apropriação da terra e as classes que constituem a população campestre

A quem vê hoje a província, coberta duma rede inextricável de divisões, dispostas por toda a parte em estreitas malhas, ajustando-se a todos os contornos e relevo do solo, com as casas rústicas dispersas pelos vales e encostas, - parecerá que nunca foi de outro modo e que se houve canto do mundo em que a propriedade individual tinha de nascer espontânea, devera ser este, onde tudo estava indicando o regime actual, desde a configuração do terreno até à abundância da água.

Houve todavia uma época, em que a população vivia no alto dos montes: era esta a regra normal em toda a região, como mostram as ruínas da Citânia de Briteiros e Sabroso (Guimarães), da do Monte da Saia (Barcelos), da de Paços de Ferreira e de tantas outras que cobrem os picos culminantes das cordilheiras que atravessam o país.

Que essas ruínas representam verdadeiros lugares rústicos, onde a população se recolhia para maior segurança, como indicam as muralhas de defesa, é sem duvida uma hipótese verosímil. Com os habitantes assim aldeados ou grupados em povoações, partindo dali para os seus trabalhos, a província apresentaria já uma feição muito diferente, feição que chegou até à ocupação romana, por isso que muitas destas se encontram romanizadas. Até pelo menos a essa época, o regime quanto às habitações era totalmente diverso do presente e deixa supor que o da terra seria também outro, adequado a tal disposição das casas. Se com as habitações dispersas é necessária a propriedade individual, a colectiva torna-se possível quando se agrupam em lugares.

in Alberto Sampaio, "Estudos de economia rural do Minho. A apropriação da terra e as classes que constituem a população campestre", Revista de Guimarães, n.º 4, 1887, p. 21-38.

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