domingo, 18 de maio de 2008

O terramoto da Andaluzia de 1884

No dia 25 de Dezembro de 1884, quando a noite já tinha caído, a Andaluzia foi abalada por um terramoto que causou mais de 800 mortos e 1500 feridos, deixando atrás de si um imenso rasto de destruição. Esta catástrofe daria origem a uma enorme campanha de solidariedade, que se estendeu desde a Europa até à América.

Assim foi também em Guimarães, onde, ao longo do mês de Janeiro de 1885, houve preces pelas vítimas do terramoto, que culminaram no dia em passou um mês sobre o desastre, no qual saiu da igreja de S. Domingos uma procissão de penitência, conduzindo, num andor, a imagem de Nossa Senhora dos Terramotos em andor, que terá sido acompanhada por uma multidão de mais de 6000 pessoas.

No dia 12 de Fevereiro, realizou-se, no teatro de D. Afonso Henriques, um baile de máscaras em benefício dos povos de Andaluzia. Segundo então noticiou o Comércio de Guimarães, o baile teve uma assistência extraordinária” e “o teatro achava-se decorado com muito gosto, principalmente os camarotes da 2.ª ordem”. À porta tocou uma banda de música até à meia-noite. A sessão entrou pela noite dentro, tendo sido dançada a última quadrilha às três horas da madrugada. O escritor Bráulio Caldas ofereceu então à comissão organizadora do evento “um formoso bouquet de sonetilhos”, que foi vendido em benefício das vítimas do terramoto.

Nesse dia, começou a circular o número único do jornal Guimarães-Andaluzia, publicação em Benefício das Vítimas dos Terramotos na Espanha, pela Comissão de Socorros Vimaranenses em que colaboraram 44 autores vimaranenses. Entre eles, contava-se Alberto Sampaio, com o seguinte texto:

Conto popular

Duma vez, uma pobre mulher tinha um filho, que chegou a ser bispo ou arcebispo.

Quando isto aconteceu, era já muito idosa e vivia numa cabana, longe da cidade.

Mas o filho, logo que subiu a tal honraria, mandou por ela e trouxe-a para o paço, onde a velhinha era tratada a primor, com todas as grandezas devidas à mãe de um príncipe da Igreja.

Apesar de tudo, a coitada sentia-se mal. Não estava em sua casa: faltava-lhe a liberdade do seu lar, o agasalho e o calor da sua fogueira.

Começou a pedir que n levassem outra vez para a sua terra, e tanto disse que o bispo mandou reconduzi-la à sua antiga vivenda.

Chegada lá, e despedidos os grandes que a acompanhavam, a boa velha fechou-se por dentro, acendeu o fogo na lareira abandonada, assentou-se no seu escabelo, e, pondo-se à vontade, desabafou em alta voz:

“Ah, minha casa, meu lar! Quem te fadou, não te fadou mal.”

~*~

Os desgraçados, que V. com o seu óbolo, vão ajudar a readquirir o home destruído, ainda que não conheçam o mote do povo português, dirão todavia no seu coração:

“Bem hajam os que nos auxiliaram a reconstruir as nossas casas, os nossos lares.”

Guimarães, Janeiro do 1885.

Alberto Sampaio.


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