terça-feira, 28 de outubro de 2008

O Centenário do nascimento de Alberto Sampaio em Guimarães

Rua da Rainha, Guimarães, numa fotografia da primeira metade do séc. XX. A seta assinala a casa onde nasceu Alberto Sampaio.

No dia 15 de Novembro de 1941, foi assinalado em Guimarães o centenário do nascimento de Alberto Sampaio, com um conjunto de actos que incluíram o descerramento da placa indicativa na rua que tem o nome do historiador, a colocação de uma outra placa na casa onde nasceu, na Rua da Rainha, e a aposição da primeira pedra do seu monumento, no Largo dos Laranjais. Aqui se transcreve a notícia sobre esta homenagem que então foi publicada pelo jornal O Comércio de Guimarães, na sua edição de 21 daquele mês:


A homenagem que Guimarães prestou à memória de Alberto Sampaio

Nem a chuva impertinente e teimosa que caiu durante todo o dia de sábado, nem a circunstÂncia de se tratar de um dia de trabalho e de feira, diminuíram o brilho das cerimonias com que nesse dia Guimarães iniciou as homenagens prestadas à memoria de Alberto Sampaio, vimaranense insigne e português de lei.

Já a imprensa diária lhe deu o preciso relevo, o que não quer dizer que o nosso jornal não arquive as passagens mais importantes que honraram a cidade que as promoveu.

A missa realizada na Colegiada, teve a assistência dos membros da família do homenageado, das autoridades civis e eclesiásticas, dos Organismos Corporativos, de Magistrados, Legião e Academia, funcionários públicos, colégios, muitas senhoras, Bombeiros Voluntários, agremiações católicas e civis com os seus estandartes, e muitas centenas de fieis. Foi celebrante o ilustre Arcipreste local.

O Museu que está contíguo ao templo e tem o nome de Alberto Sampaio, teve abertas as suas portas durante o dia, e lindas e mimosas flores atapetavam o seu solo. Enternecedora ideia 1

Às 15 ½ horas, na Avenida 31 de Janeiro, foi solenemente descerrada a placa que dá o nome do ilustre Morto àquela artéria.

Foi um acto soleníssimo, não só pela enorme afluência de pessoas que se apinhou no espaçoso largo, mas pela brilhante oração proferida pelo ilustre feitor do Liceu de Guimarães, o nosso prezado amigo o snr. dr. Feliciano Ramos.

Sua exa., que é um erudito e a quem a instrução deve já relevantes serviços, focou Alberto Sampaio em todas as suas facetas, fazendo-o com brilho e erudição, prendendo a atenção do auditório, selecto e muito numeroso.

A chuva, que nessa altura caía sem cessar, não afastou a concorrência, entre a qual se viam as nossas autoridades civis e religiosas, professores dos nossos estabelecimentos de ensino e culturais, escolas, colégios, Bombeiros, agremiações corporativas, muitos estudantes, Comandante e Oficiais da L. P., Academia, clero, etc. etc. A placa foi descerrada pela sobrinha do Morto a ex.ma snr.ª D. Emília Leal de Sampaio.

O cortejo, muito numeroso, seguiu para a rua da Republica, onde ia descerrar-se uma lápide na casa onde nasceu um dos mais ilustres Vimaranenses.

Junto à mesma, o vice-presidente da Sociedade Martins Sarmento, o snr. dr. Augusto Gomes de Castro Ferreira da Cunha, proferiu um primoroso discurso, salientando os profundos laços de amizade e afinidades espirituais e culturais que ligaram, em vida, os dois Sábios, - Alberto Sampaio e Martins Sarmento.

Em seguida, a sobrinha do Morto, a exma. snr.ª D. Maria Henriqueta Leal Sampaio de Carvalho, descerrou a lápide, ouvindo-se uma calorosa salva de palmas.

No Largo dos Laranjais, realizou-se em seguida o lançamento da 1.ª pedra para o Monumento que ali vai erguer se a Alberto Sampaio.

Apesar da chuva copiosa que teimava molhamos, o largo encheu-se por completo, vendo-se entre a assistência, não só a família do homenageado, mas as autoridades e pessoas de representação.

O sobrinho do Morto o snr. conselheiro dr. Leal Sampaio, lançou as moedas na caixa, após o que foi cimentada a primeira pedra. O ilustre presidente da Câmara de Guimarães, leu uma formosa alocução, pondo em relevo a cultura de Alberto Sampaio, o amor entranhado que sempre dedicou à sua Terra, que agora, muito justamente, lhe perpetua a memória e o aponta aos vindouros, como exemplo a imitar e a seguir.

Estava terminada a 1.ª parte das homenagens a prestar a Alberto Sampaio, que continuarão no 1.° de Dezembro, com a romagem ao seu tumulo.

Como acima dizemos, estiveram em Guimarães os sobrinhos do Morto, o exmo. snr. Conselheiro Dr. António Vicente Leal Sampaio, exma. Irmã, Filha, Genro e netos, que foram hóspedes de seu primo o nosso prezado amigo e considerado capitalista e proprietário o snr. José da Costa Vaz Vieira.

sábado, 25 de outubro de 2008

Congresso "Alberto Sampaio, Ontem e Hoje"

[clicar na imagem, para ampliar]
Cartaz do Congresso

No quadro do programa das comemorações do Centenário de Alberto Sampaio, realiza-se, nos próximos dias 27 a 29 de Novembro, em Guimarães e em Vila Nova de Famalicão, o Congresso Alberto Sampaio, Ontem e Hoje, que reunirá especialistas de diversas áreas do saber, os quais irão debater a influência de Alberto Sampaio e da sua obra científica nos dias de hoje.

Há muito que Alberto Sampaio é reconhecido como pioneiro dos estudos de história económica e social em Portugal, tendo sido um dos iniciadores da investigação das temáticas da história agrária no nosso país, com a publicação na Revista de Guimarães, em 1885, do primeiro artigo da série A propriedade e a cultura do Minho, a que daria continuidade com a sua obra mais conhecida, As vilas do Norte de Portugal. Com os textos sobre o Norte marítimo e As póvoas marítimas, outra das suas obras maiores, Alberto Sampaio deu também um forte impulso inicial aos estudos sobre a problemática do desenvolvimento marítimo. Ao longo de mais de duas décadas construiu uma obra sólida que o transformaria numa das referências incontornáveis da nossa cultura.

Alberto Sampaio foi, essencialmente, um historiador. Porém, o seu trabalho científico nunca se confinou aos limites da História, trabalhando sempre numa perspectiva multidisciplinar, que abrange áreas do saber que vão da Arqueologia à Geografia, da Economia à a Política, da Etnografia à Sociologia ou à Linguística.

O Congresso Alberto Sampaio, Ontem e Hoje propõe-se revisitar a obra do historiador, destacando a sua influência na produção científica dos tempos que correm, proporcionando um momento de convergência de olhares de especialistas que se posicionam em diferentes áreas das ciências humanas e sociais e que se repartirão por sete secções:

- Arqueologia, coordenada por Francisco Sande Lemos, da Universidade do Minho

- Arquitectura, coordenada por Paulo Providência, da Universidade de Coimbra

- Demografia e População, coordenada por Norberta Amorim, da Universidade do Minho

- História das Ideias, coordenada por Norberto Cunha, da Universidade do Minho

- História Económica, coordenada por J. M. Amado Mendes, da Universidade de Coimbra

- Ordenamento do Território, coordenada por Álvaro Domingues, da Universidade do Porto

- Sociologia, coordenada por Albertino Gonçalves, da Universidade do Minho.

As inscrições para participar no Congresso Alberto Sampaio, Ontem e Hoje, são gratuitas e estão abertas até ao próximo dia 20 de Novembro.

Mais informações em http://www.albertosampaio.blogspot.com/. Os pedidos de informações deverão ser encaminhados através do seguinte endereço de correio electrónico: mailto:albertosampaio2008@gmail.com

O Congresso Alberto Sampaio, Ontem e Hoje é uma iniciativa da Comissão Organizadora do Centenário de Alberto Sampaio, que reúne a Câmara Municipal de Guimarães, a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, o Museu de Alberto Sampaio e a Sociedade Martins Sarmento.

A Comissão Organizadora.

Descarregar ficha de inscrição


domingo, 5 de outubro de 2008

O Castelo de Guimarães, num texto de Alberto Sampaio

O Castelo de Guimarães no início do século XX


O Castelo de Guimarães

Consta das Inquirições (pág. 736 e 737) que Afonso Henriques deu aos moradores intus castelli, frase que empregam sempre, certos privilégios, confirmados por Sancho I. E aí o rei, além de açougues, de um forno e terreno não edificado, tinha a sua própria habitação; - “et aliud casale quod tenet Petrus Gomecii qui moratur in Castello Vimarañ non dat ullam derecturam. Interrogatus quare, dixit quod propter quod habet varrere ipsas domos castelli Domini Regis et curare illas et revolvere in quolibet anno” (Inq., pág. 723, 1.ª col.). A estas domos chama com propriedade o conde D. Henrique nosso Paço Real na doação, feita por ele e pela rainha D. Teresa a Amberto Tibaldi, de certo campo “quem habemus in Villa de Vimaranis et jacet juxta Palatium nostrum Regale, et ex alia parte sicut dividiteum clausis Ecclesiae Sanctae Mariae, deinde sicut intestat cum atrio ejusdem Ecclesiae” (Souza, Provas, tom. I pág. 3; cf. Herc., Hist. de Port., III, pág. 214, 2.ª ed ). As Inquirições distinguem o lugar Sancti Michaelis Castelli Vimarañ da Ville Vimarañ (pág. 736 e 727) No primeiro ficava o palácio e pegado com ele o campo já na Villa Vimarañ, o qual vinha desde cima entestar com o adro da igreja de Santa Maria. O palácio estava porventura no mesmo sítio, onde por doação do pai, o primeiro duque de Bragança levantou a vivenda monumental (hoje quartel militar), visto que as doações régias recaíam sempre em imóveis do plena propriedade da coroa. Perto pois da fortaleza iniciada no século X e abrigada por ela, existiu uma povoação antes da monarquia portuguesa, onde pousariam os reis de Leon, quando vinham à província, e de ordinário os condes que a administravam. Estabelecendo aí a sua residência o conde D. Henrique o D. Teresa, não admira que por tal motivo o povo lhe chamasse logo villa em virtude das prerrogativas da sede do governo e por isso velha em relação ao povoado em baixo, sem elas, junto do mosteiro.

QUANTO AO CASTELO EXISTENTE, CONCERTEZA NÃO PODE SER NA TOTALIDADE O PRIMITIVO NEM TALVEZ O DO TEMPO DE AFONSO III. A torre de menagem tem, é facto, a porta em arco e as ameias são de duas peças, posto que do tipo das outras: mas depois da ogiva que se vê nos torreões da muralha envolvente, o que apareceu em França do século XII por diante, construiu-se com as duas formas e com padieira direita (cf. de Caumont). A mesma porta referida está nivelada com a muralha, de modo a receber ingresso dela pela ponte levadiça. Em geral o edifício deixa-nos a impressão de um plano uniforme, parecendo ser o sistema de construção idêntico em todo. As muralhas que circundaram os dois povoados urbanos, foram edificados por D. Diniz e por D. Fernando; por D. João I as torres das portas, infelizmente hoje demolidas, das quais apenas subsiste um pequeno resto da de S. Paio. EM QUALQUER DESTES REINADOS, TALVEZ NO PRIMEIRO, O CASTELO FOI REEDIFICADO NA FORMA ACTUAL SE NÃO NO TODO PELO, MENOS NA MAIOR PARTE.

Alberto Sampaio.

1903.

[Texto publicado no jornal Independente, de Guimarães, em 5 de Agosto de 1911]

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

4 de Outubro: Mostra Vinícola alusiva a Alberto Sampaio

O presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Armindo Costa, convida os órgãos de comunicação social a participar na Mostra Vinícola, com o lançamento da garrafa comemorativa do centenário da morte de Alberto Sampaio, que se realiza amanhã, sábado, dia 4 de Outubro, a partir das 15h00, na Casa de Boamense, onde o historiador viveu e terminou os seus dias, localizada na freguesia de Cabeçudos, em Vila Nova de Famalicão.

O ponto alto da cerimónia será a apresentação da garrafa comemorativa do Centenário da morte de Alberto Sampaio, um momento animado pela actuação dos Tocadores e Cantadores ao Desafio Famalicense. O vinho, fruto da colheita de 2007, produzido pela Sociedade Agrícola da Quinta de Boamense, fundada pelos descendentes de Alberto Sampaio, é, de acordo com Armindo Costa, “um vinho especial, que queremos que seja eterno, perdurando na história, como símbolo de homenagem ao pioneirismo e audácia de Alberto Sampaio”.

A cerimónia que contará com a presença de nove produtores do concelho, ficará também marcada pela realização da XXXV Entronização da Confraria do Vinho Verde, que proclamará confrade-mestre, entre outros, o presidente da Câmara Municipal de Famalicão, Armindo Costa.

De seguida irá decorrer uma conferência dedicada ao tema “Os Novos Desafios do Vinho Verde”, tendo como orador convidado o enólogo Anselmo Mendes.

Depois da apresentação da peça infantil, de teatro de marionetas “Histórias do Tio Alberto”, haverá ainda tempo para reviver uma desfolhada no Souto da Casa de Boamense, com a actuação dos Tocadores e Cantadores ao Desafio Famalicense e das Vozes D’Oiro.

“Será uma tarde inteira a recordar Alberto Sampaio, o vitivinicultor”, afirma Armindo Costa.

Alberto Sampaio que nasceu em Guimarães a 15 de Novembro de 1841 e morreu na Quinta de Boamense, Cabeçudos, Vila Nova de Famalicão a 1 de Dezembro de 1908, foi historiador, escritor e uma figura cimeira da cultura portuguesa. Foi um nome de referência da “Geração de 70”, também conhecida por “Geração de Coimbra”, que lançou um movimento académico que veio revolucionar as ideias políticas em Portugal, em finais do século XIX. Foi contemporâneo de Camilo Castelo Branco, com quem trocava correspondência, e de Antero de Quental. Mas Alberto Sampaio foi também um notável vitivinicultor e um profundo inovador na produção do vinho verde, cuja qualidade procurou desenvolver.

[Informação do Município de Vila Nova de Famalicão]


PROGRAMA

15h00 - Abertura da Mostra Vinícola pelo Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Arq. Armindo Costa, Grão-Mestre da Confraria do Vinho Verde, Dr. Luís Gusmão Rodrigues e Presidente da Junta de Freguesia de Cabeçudos, Sr. Agostinho Mendes

Apresentação da garrafa comemorativa do Centenário de Alberto Sampaio

Actuação dos Tocadores e Cantadores ao Desafio Famalicense

Cerimónia da XXXV Entronização da Confraria do Vinho Verde

Conferência “Os novos desafios do vinho verde”, Eng.º Anselmo Mendes

Teatro marionetas “Histórias do Tio Alberto”

Desfolhada no Souto da Casa de Boamense

Actuação dos Tocadores e Cantadores ao Desafio Famalicense e das Vozes D’Oiro