sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Oficina: “O meu livro de Alberto”

A oficina O Meu Livro de Alberto surgiu como complemento da visita à exposição “Alberto Sampaio: Exposição Bibliográfica”, inaugurada a 1 de Dezembro de 2007 e patente no Museu de Alberto Sampaio até ao dia 31 de Março de 2008. Esta exposição bibliográfica contém alguns dos livros que pertenceram à biblioteca pessoal do historiador e que foi doada a este Museu em 2005. Através dela, é possível conhecer-se um pouco melhor Alberto Sampaio e os seus vários interesses.

Na oficina “O meu livro de Alberto”, cada criança constrói um pequeno livro destinado ao registo de memórias reunidas a partir da visita à referida exposição e ao teatrinho de marionetas: “Histórias do Tio Alberto”. As crianças aprendem, assim, a construir um livro e, simultaneamente, adquirem noções básicas relativas às partes que o constituem.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Alberto Sampaio, "deputado de Guimarães"


No dia 29 de Junho de 1884, quando em Guimarães decorria a Exposição Industrial, com Alberto Sampaio ao leme, realizaram-se em Portugal eleições constituintes. O historiador vimaranense contava-se entre aqueles cujos nomes foram então a votos.

Sobre essas eleições e os seus resultados, já muito se tem dito. Citaremos, por exemplo, o historiador Manuel Alves de Oliveira, num texto que publicou em 1984, no Boletim dos Trabalhos Históricos, num texto alusivo à passagem do primeiro centenário da célebre exposição:

"Em 29 de Junho, catorze dias depois do acto inaugural da Exposição, a que dera o melhor do seu esforço e da sua boa vontade, realizaram-se eleições constituintes, tendo sido Alberto Sampaio proposto, por um grupo dos seus amigos, deputado pelo círculo de Guimarães. Porém, e contra toda a expectativa, o que vem comprovar o carácter volúvel e impressionável das multidões sempre abertas às falsas promessas dos políticos, Alberto Sampaio só conseguiu obter 190 votos, sendo então eleito o deputado apresentado pelo Partido Regenerador, João Franco Ferreira Pinto Castelo Branco, por 3 261 votos."

A história desta eleição é um pouco diferente da que tem sido contada. Na verdade, Alberto Sampaio nunca foi candidato a deputado e o seu nome foi introduzido nas urnas de voto por um número significativo de vimaranenses num gesto de homenagem e, ao mesmo tempo, de reacção contra a imposição, pelos principais partidos, de nomes estranhos a Guimarães. Isso mesmo se pode confirmar lendo a notícia que então foi publicada no jornal Comércio de Guimarães, em que se dava conta do modo como tinham decorrido as eleições em Guimarães:

"Em Guimarães a eleição correu pacífica e sossegadamente.

À última hora tocou-se a rebate nos campanários políticos, e o povinho obedeceu em rebanho.

Muitos eleitores não foram à urna; outros votaram pelo imposto regenerador, outros pelo candidato progressista, e outros prestaram a última homenagem a um nosso conterrâneo, cavalheiro modestíssimo, que empregou todos os esforços para que o seu nome não entrasse em lista alguma, obtendo, apesar disso, uma votação honrosíssima, eloquente e mui significativa.

Em algumas assembleias alguns eleitores riscavam francamente o candidato imposto e inscreviam o nome de Alberto Sampaio.

Era assim que os eleitores respondiam à imposição de um deputado estranho que foi eleito sem apresentação alguma."

[O Comércio de Guimarães, n.º 10, I ano, 2 de Julho de 1884]


Será o mesmo jornal, mais de duas décadas depois, que nos revelará com mais detalhe a história da suposta candidatura de Alberto Sampaio a deputado:

Variedades

(Apontamentos inéditos para a história de Guimarães)

Exposição Industrial

"Foi no dia 15 de Junho de 1884 que nesta cidade se inaugurou a Exposição Industrial, no palacete de Vila Flor, de iniciativa da benemérita Sociedade Martins Sarmento, exposição que foi elogiada por muitos visitantes ilustres.

Foi incansável na sua organização o snr. Dr. Alberto Sampaio, e de tal modo se houve, que um grupo de rapazes patriotas, passando por cima de todas as conveniências políticas e de interesses mesmo pessoais, não duvidaram em uma tarde, à frente de milhares de pessoas, aclamarem-no como deputado de Guimarães, pois se estava em vésperas de eleições.

Sua Exa., com aquela modéstia que de todos é conhecida, e mais seu exmo. irmão, na noite desse mesmo dia procuraram esses rapazes, e, agradecendo-lhes a lembrança, pediram-lhes que não insistissem na propaganda.

Apesar de S. Exa. não aceitar a lembrança, por motivos dignos de respeito, esses mesmos rapazes, sozinhos, na urna meteram uns 200 votos com o seu nome, de nada se receando.

Foram tempos evolutivos de progresso pátrio, que ainda hoje lembram a muitos com a maior saudade.

A exposição, por todos os motivos, foi brilhantíssima, tecendo-lhe a imprensa toda do país os maiores elogios, e foi ela, sem dúvida alguma, a causa única de ter hoje esta cidade a escola industrial."

[O Comércio de Guimarães, n.º 2049, XXII ano, 23 de Março de 1906]

Também publicado aqui...

Alberto Sampaio na Revista de Guimarães (2)


ESTUDOS DE ECONOMIA RURAL DO MINHO

A terra, o clima, os homens e a administração pública

A estrutura geológica da província, que antigamente se chamava de Entre-Douro-e-Minho, pode designar-se como granítica e xistosa, apenas com umas pequenas manchas de terrenos terciários nos distritos do Porto e Viana. Em regra geral, os granitos ocupam a maior extensão, formando quase todo o centro, com algumas faixas xistosas mais ou menos largas a poente e norte, e a leste no vale do Tâmega. Além destas, encontram-se quase por toda a parte fitas estreitas ou manchas pouco extensas desta última formação atravessando ou misturando-se com os granitos. É assim que, segundo o quadro formulado por Sr. B. de Barros Gomes(1), dos quarenta e um concelhos que formam a zona de Além-Douro litoral”, que compreende a região de que nos ocupámos, somente onze são considerados unicamente graníticos, tendo mais ou menos rochas xistosas os trinta restantes; e todavia talvez uma exploração minuciosa, como era de desejar, reduzisse ainda este número. Em todo o caso a maior extensão granítica é formada pelos concelhos de Guimarães, Fafe, Vieira, Povoa de Lanhoso, Amares e Terras de Bouro (distrito de Braga), Ponte da Barca, Arcos e Melgaço (distrito de Viana): no do Porto apenas dois e descontínuos, a sede e Marco de Canavezes; e só de xisto, apenas o de Valongo: em todos os outros as duas rochas misturam-se mais ou menos.

[…]

(1) Cartas elementares de Portugal.


in Alberto Sampaio, "Estudos de economia rural do Minho. A terra, os homens e a administração.", Revista de Guimarães, n.º 2, 1885, p. 203-231.

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domingo, 17 de fevereiro de 2008

Alberto Sampaio na Revista de Guimarães (1)



RESPOSTA A UMA PERGUNTA

Convirá promover uma exposição industrial em Guimarães?


Se a minha palavra valesse a pena de se ouvir, se fosse de qualquer utilidade a minha opinião, desde há muito teria acompanhado os que ultimamente já falando ou escrevendo, já organizando sociedades de estudo ou criando escolas, já fomentando pequenas exposições, quer enfim forçando a administração a proceder ao inquérito de 1881, estão tentando lançar no espírita público uma ideia nova, “a necessidade da criação duma indústria nacional”.

Deste movimento, que apenas começou ontem, sairá sem dúvida um novo modo de ser do nosso país, se por ventura aquela noção entrar definitivamente no pensamento português, e se vier na realidade a converter-se em facto.

Antes todavia de se chegar ao fim proposto, primeiro que a agitação iniciada comova o corpo social até se transformar em vontade de todos, será longo o caminho a percorrer, haverá uma enorme multiplicidade de esforços a empregar.

Na grandeza do trabalho, que se depara, algumas poucas linhas, corno as que se vão seguir, nenhum serviço poderão prestar pelo seu próprio valor, mas se chamarem a atenção de poucas pessoas que seja para o assunto, terão apenas o merecimento de concorrer numa pequeníssima parte sim, mas enfim concorrer também para o resultado final.

Posto isto, é claro que me não proponho dar novidades, mas, simplesmente repetindo, insistir no que se tem dito e escrito a tal respeito.

[…]

in Alberto Sampaio, "Resposta a uma pergunta. Convirá promover uma exposição industrial em Guimarães?", Revista de Guimarães, n.º 1, 1884, p. 25-34.

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domingo, 10 de fevereiro de 2008

Alberto Sampaio, correspondente em Guimarães do jornal "A Província"

Quanto Joaquim Pedro de Oliveira Martins fundou, no Porto, o jornal A Província, convidou o seu amigo Alberto Sampaio para colaborador, como correspondente de Guimarães. Foi nessa condição que o historiador vimaranense acompanhou o conflito entre Braga e Guimarães, despoletado no dia 28 de Novembro de 1885 com um manifestação em Braga contra os procuradores de Guimarães à Junta Geral do Distrito de Braga. A questão entre as duas cidades minhotas agudizar-se-ia de tal modo que Guimarães passou a exigir a sua desanexação do distrito de Braga, passando para o do Porto. Ao longo do conflito, Alberto Sampaio assumiu a defesa dos interesses da sua terra, posição que se reflecte nos textos que vai enviando para “A Província”. Desde cedo, a questão entre Guimarães e Braga ganhou foros de luta partidária, na qual o Partido Progressista, de que o jornal de Oliveira Martins se assumia como porta-voz, se inclinava para o lado dos interesses de Braga. A certa altura, Alberto Sampaio sentindo-se magoado com a diferença de tratamento que o jornal dava às correspondências de Braga e de Guimarães sobre o conflito entre as duas cidades, escreve uma carta a Oliveira Martins em que denota a sua intenção de abandonar as funções de correspondente de A Província.

Meu caro amigo

Creio que me assiste toda a razão, como lhe vou expor. Desde que começou o nosso conflito com Braga, sabe muito bem que tanto as minhas correspondências como as daquela cidade eram colocadas na primeira ou segunda página debaixo do titulo “Conflito entre B. e Gui.es” e portanto tiradas do “correio das províncias”. Assim foi enquanto o gabinete regenerador estava no poder: quando este caiu, não me achava aqui, cheguei no dia 22 e neste mesmo dia escrevi e expedi uma correspondência que foi publicada no N.° 43. Depois de a expedir, recebi o n.º 42 e notei que já tinham mudado o primeiro título pelo de “Notícias de Braga” para a correspondência daquela localidade. Impressionou-me esta mudança e arrependi-me de a ter mandado, por se me afigurar que a questão desagradava agora uma vez que o partido progressista era governo. Era certo todavia que estava ainda na segunda página. No dia seguinte quando recebi o n.º 43 fiquei surpreendido, encontrando-a no “Correio das Províncias” em segundo lugar, quase enterrada nos anúncios. Esta colocação significou para mim e creio para toda a gente, que tal assunto não era do agrado da redacção, do que se me dava aviso por aquela via. Posto que magoado por tal tratamento entendi que me restava simplesmente indicar que tinha compreendido o aviso, o que fiz dirigindo-me, na sua ausência, ao administrador do jornal.

Tencionava logo que o soubesse regressado de Lisboa, escrever-lhe dando-lhe conhecimento da minha resolução e seus motivos.

Infelizmente não tive notícia da sua chegada a tempo de ser o primeiro a escrever. Peço-lhe que examine os n.os indicados e estou certo que me dará razão e que concordará que, dada a sua ausência, não podia proceder de outro modo.

Enfim posto de lado o correspondente da Província, o amigo é sempre o mesmo e dele disporá como sempre.

Alberto Sampaio.

Guimarães: Fev.º 27 [1886]


Em resposta a Alberto Sampaio, Oliveira Martins faria publicar, na primeira página da edição do dia 3 de Março de 1886, uma nota em que afirmava a independência de A Província no conflito que opunha Braga a Guimarães. Este texto servia de introdução a uma nova correspondência de Guimarães, em que Alberto Sampaio defende a “anexação de Guimarães ao distrito do Porto” como única solução possível para o conflito.


BRAGA E GUIMARÃES

Damos em seguida a carta do nosso prezado correspondente e amigo de Guimarães. A Província tem sido neutral nesta questão que sempre considerou administrativa e não política. Neste último terreno a colocaram indiscretamente os nossos adversários, levando a com os seus erros acumulados a um tal ponto do azedume e complicação que, no momento actual, não se poderia encontrar solução satisfatória para ambos os litigantes.

Parece-nos que, procurando bem, se encontraria um terreno de conciliação em que todos os interesses legítimos fossem atendidos, sem protrair um conflito a todos os respeitos inconveniente, quer para o país em geral, quer para a capital do distrito, quer para a briosa o nobre cidade de Guimarães onde o nosso partido tem importantes adesões o numerosas simpatias.

Para que bem se veja quanto esta questão local não é partidária basta dizer que na comissão de vigilância figuram os nomes dos snrs. visconde de Lindoso, Rodrigo Portugal, Domingos Ferreira e outros membros do centro progressista de Guimarães.


* * *

Guimarães, 3 de Março

O desejo da separação deste concelho do distrito de Braga acentua-se com a mesma, se não maior intensidade, como quando manifestou pela primeira vez.

Como ontem, continua a haver a mesma união entre todos os vimaranenses, reunidos numa única vontade. Assim foi desde o princípio, assim tem sido até agora e da mesma maneira será no futuro.

Esta questão estaria já resolvida, há muito tempo e para bem das duas partes, se se não tivessem dado os incidentes que são do conhecimento de todos.

Mas passada a perturbação do primeiro momento, e provado, como tem sido com toda a clareza, que a saída de Guimarães da circunscrição administrativa a que pertence actualmente, não lhe levanta nenhuns embaraços, pois ficará sendo ainda o 5.º distrito do reino e portanto um dos mais ricos e importantes – não havendo nenhuma razão de ordem pública ou particular em contrário do desejo do toda a população deste concelho, constante e incessantemente manifestado há mais do três meses, é fora de dúvida que a persistência mostrará aos poderes públicos a única solução possível, a anexação de Guimarães ao distrito do Porto.

Há sossego em todo o concelho, e mais que nunca são necessárias a serenidade e placidez, para que o processo possa ir seguindo os seus termos até final julgamento. Como ninguém é nem pode ser indiferente, como todos estão unidos no mesmo pensamento, as manifestações deverão ser no futuro, como no passado, ordeiras e sensatas.

[A Província, n.º 51, II ano, Porto, 4 de Março de 1886]

domingo, 3 de fevereiro de 2008

“Os frutos da terra em Alberto Sampaio”: imagens da exposição

Na abertura da exposição “Os frutos da terra em Alberto Sampaio” (2)

Os registos indicam que o historiador Alberto Sampaio nasceu em Guimarães, terra de sua mãe, e morreu em Vila Nova de Famalicão, na casa paterna da Quinta da Boamense. As suas raízes, como a sua vida, mergulham, pois, nestes dois municípios. Nasceu em Guimarães, mas frequentou o colégio em Landim. Colaborou com Martins Sarmento e dirigiu a 1ª Exposição Industrial de Guimarães, mas recebeu em Boamense o seu amigo Antero de Quental, e aí cultivou as vinhas, na quinta que herdou de seus pais, e fez da Casa de Boamense o seu laboratório científico, onde escreveu uma das obras históricas mais profundas e originais.

Alberto Sampaio é, como ele próprio o disse “minhoto cem por cento”. E este homem, de espírito universal simples e humilde, como reconhecem os amigos, e o historiador erudito, como atesta a obra que nos legou, que vamos homenagear.

O Município de Guimarães, a Sociedade Martins Sarmento e o Museu Alberto Sampaio têm toda a legitimidade e, porventura, o dever de fazer esta homenagem. Idêntica legitimidade tem o Município de Vila Nova de Famalicão.

Nesta circunstância, congratulo-me pelo o entendimento intermunicipal entre Vila Nova de Famalicão e Guimarães que preside a estas comemorações. Em vez de vários programas, temos um, que junta todos e que se desdobra por dois Municípios, e conta com a colaboração e participação de várias instituições e associações da região. Creio ser esta a melhor e a mais sábia maneira de homenagear Alberto Sampaio.

Ele que tinha o Minho como território de referência para os seus estudos históricos e para as experiências na vitivinicultura, onde foi pioneiro no desenvolvimento e projecção do vinho verde além fronteiras. Ele que escolheu o Minho como terra de eleição para viver.

A Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão não vai cometer o erro praticado em 1941, no centenário do nascimento de Alberto Sampaio, ao deixar passar em claro aquele aniversário.

Sabemos que, na altura, viviam-se dias difíceis. Porém, isso não impediu que a Câmara de Guimarães organizasse um programa comemorativo.

Mesmo assim, nem a romagem ao cemitério de Cabeçudos, nem a colocação duma lápide na Casa de Boamense tiveram lugar. Inexplicavelmente ficaram adiadas.

Em Vila Nova de Famalicão, com a honrosa excepção de José Casimiro da Silva, director do “Estrela do Minho”, que lembrou no seu jornal o aniversário do seu nascimento, ninguém mais se mobilizou, nem mesmo as autoridades municipais da época.

O Município de Vila Nova de Famalicão tem pois responsabilidades redobradas que vai assumir, para com Alberto Sampaio. É certo que, nos últimos anos, tentou-se reparar esta injustiça. O seu nome já consta da toponímia famalicense e o Arquivo Histórico Municipal ostenta o seu nome.

Eis porque o lançamento da primeira pedra das novas instalações deste equipamento cultural, que faz parte do programa comemorativo, tem para nós um significado especial. Por um lado, evidencia o nosso total empenho na evocação do centenário da sua morte e, por outro, a reparação da injustiça que temos para com a memória do homem íntegro, do historiador sábio e do cidadão exemplar.

O programa é diversificado juntando o plano científico com o pedagógico, não esquecendo o envolvimento popular. É uma boa aposta dar oportunidade aos investigadores para aprofundar a obra historiográfica e para se conhecer em profundidade o pioneirismo no campo da vitivinicultura, não descurando o sentido educativo e pedagógico que estas iniciativas não podem deixar de ter.

A Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão está de corpo inteiro e de espírito aberto nestas comemorações. O programa comemorativo foi aprovado por unanimidade pelo executivo municipal. Hoje, e cada vez mais, as fronteiras físicas e mentais deixaram de ter sentido. O nosso horizonte, tal como o de Alberto Sampaio, projecta-se para toda a região do Minho e do Nordeste de Portugal.

Armindo Costa

Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão

Museu Bernardino Machado, 26 de Janeiro de 2008

Na abertura da exposição “Os frutos da terra em Alberto Sampaio” (1)

Meu tio bisavó Alberto Sampaio, em vésperas do casamento de seu irmão José Sampaio com aquela que viria a ser a minha bisavó Maria José, filha do Comendador António Vicente de Carvalho Leal e Sousa, senhor do Mosteiro de Landim, recebeu do seu grande amigo Antero de Quental, uma carta em que este escreve: “Diz ao José que lhe desejo uma descendência bíblica”. Faço parte dessa descendência e creio bem que o voto de Antero se cumpriu. Somos uma grande família. E é em nome da família Sampaio da Nóvoa que gostaria de agradecer o convite que me foi feito para a representar na cerimónia da inauguração desta exposição, o que faço com natural satisfação e justificado orgulho.

O título dado a esta exposição “Os frutos da terra em Alberto Sampaio” assenta bem nessa outra faceta do historiador das “Vilas do Norte de Portugal”, porventura menos conhecida: o seu profundo amor à terra e a sua insaciável curiosidade por tudo quanto lhe dizia respeito. Era na terra que buscava a Paz, educava a paciência e procurava soluções para melhorar a desesperada economia do nosso país. Ele próprio o confessa em carta que escreveu a Jaime de Magalhães Lima: “Felizes os que nunca conheceram outra escola senão aquela outra dos campos.” O seu espírito inquieto, o seu enorme desejo em conhecer tudo até ao mais ínfimo pormenor, levaram-no a experimentar, de uma forma exemplar, praticamente tudo quanto à terra dizia respeito. Apontava tudo meticulosamente e, sempre que necessário, recorria a desenhos simples, mas que se revelavam extraordinariamente úteis. Esta exposição revela um Alberto Sampaio floricultor, agricultor, vitivinicultor, diferente mas complementar do historiador notável que todos conhecemos. É talvez por isso mesmo, por trazer a público esta faceta mais ignorada do Historiador, que a exposição agora inaugurada é merecedora do nosso reconhecimento.

Os seus profundos conhecimentos de agricultura valeram-lhe o convite de Oliveira Martins para com ele colaborar no “Projecto de Lei do Fomento Rural”, colaboração tão valiosa que justifica a frase de Oliveira Martins a ele dirigida: “(…) em grande parte a obra é sua; queira-lhe como se quer a um filho.” Alberto Sampaio no seu notável trabalho “A propriedade e a cultura do Minho” mostra-se preocupado com a distribuição da água de rega. São suas estas palavras: “Aqui a água é tudo; é ela quem determina o valor de uma propriedade, o qual será maior ou menor segundo a quantidade de que puder dispor.” Visionário como sempre, já antecipa em finais do séc. XIX a construção de pequenas barragens como nos bosques alsacianos, ou presas que guardassem estas águas que serviriam quer para regas directas quer, pela infiltração, para aumentar o volume das fontes.

Esta exposição apresenta-nos este outro Alberto Sampaio que o Historiador por vezes encobre e procura torná-lo vivo, através da sua vida de agricultor e, mais do que isso, de Homem bom e tolerante, culto e inteligente, de uma modéstia beneditina que o tornaram credor da nossa mais profunda admiração.

Maria Augusta Sequeira Leal Sampaio da Nóvoa Faria Frasco

Museu Bernardino Machado, 26 de Janeiro de 2008

Inauguração da exposição “Os frutos da terra em Alberto Sampaio”

No passado dia 26 de Janeiro foi inaugurada, no Museu Bernardino Machado, a exposição “Os frutos da terra em Alberto Sampaio” – uma iniciativa inserida no programa das Comemorações do Centenário da morte do historiador –, que resultou de uma candidatura do Museu Bernardino Machado e do Museu de Alberto Sampaio, apresentada na área das Parcerias, à Rede Portuguesa de Museus.

A exposição, subordinada aos temas rurais e agrícolas que motivaram Alberto Sampaio, dividiu-se por 6 áreas, designadamente a vinha, o campo, a mata, o pomar, a horta e o jardim, identificadas com as matérias de estudo e de experimentação por ele levadas a cabo na Quinta de Boamense. Deram-se assim a conhecer alguns dos muitos apontamentos manuscritos do historiador sobre as mais diversas plantações, desde árvores e vides até “novidades” hortícolas e flores, apontamentos que contêm o registo do que de mais significativo lhe importava reter. Apresentaram-se também catálogos de viveiros nacionais e internacionais da sua biblioteca, muitos deles anotados e a partir dos quais encomendava, não raras vezes, produtos ainda não comercializados em Portugal. O conjunto de citações retirado da sua correspondência é também um manancial de interessantes e curiosas informações. Na correspondência com Luís de Magalhães, dominavam claramente os assuntos da agricultura e da vitivinicultura, enquanto a horticultura, a jardinagem e a floresta eram temas recorrentes nas cartas trocadas com Jaime de Magalhães Lima. A apreciação dos vinhos, essa estava entregue aos seus velhos amigos Antero de Quental e Oliveira Martins.

Após a inauguração da exposição pelo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Arq. Armindo Costa, actuou o Grupo de Cantadores ao Desafio Famalicense. Alberto Sampaio e os seus vinhos verdes deram o mote a estes notáveis cantadores. Por fim, serviu-se vinho da Quinta de Boamense, acompanhado de pão-de-ló. A exposição vai estar patente ao público no Museu Bernardino Machado até ao próximo dia 2 de Março, iniciando, a seguir, uma itinerância pelas escolas dos concelhos de Vila Nova de Famalicão e de Guimarães.