domingo, 3 de fevereiro de 2008

Na abertura da exposição “Os frutos da terra em Alberto Sampaio” (1)

Meu tio bisavó Alberto Sampaio, em vésperas do casamento de seu irmão José Sampaio com aquela que viria a ser a minha bisavó Maria José, filha do Comendador António Vicente de Carvalho Leal e Sousa, senhor do Mosteiro de Landim, recebeu do seu grande amigo Antero de Quental, uma carta em que este escreve: “Diz ao José que lhe desejo uma descendência bíblica”. Faço parte dessa descendência e creio bem que o voto de Antero se cumpriu. Somos uma grande família. E é em nome da família Sampaio da Nóvoa que gostaria de agradecer o convite que me foi feito para a representar na cerimónia da inauguração desta exposição, o que faço com natural satisfação e justificado orgulho.

O título dado a esta exposição “Os frutos da terra em Alberto Sampaio” assenta bem nessa outra faceta do historiador das “Vilas do Norte de Portugal”, porventura menos conhecida: o seu profundo amor à terra e a sua insaciável curiosidade por tudo quanto lhe dizia respeito. Era na terra que buscava a Paz, educava a paciência e procurava soluções para melhorar a desesperada economia do nosso país. Ele próprio o confessa em carta que escreveu a Jaime de Magalhães Lima: “Felizes os que nunca conheceram outra escola senão aquela outra dos campos.” O seu espírito inquieto, o seu enorme desejo em conhecer tudo até ao mais ínfimo pormenor, levaram-no a experimentar, de uma forma exemplar, praticamente tudo quanto à terra dizia respeito. Apontava tudo meticulosamente e, sempre que necessário, recorria a desenhos simples, mas que se revelavam extraordinariamente úteis. Esta exposição revela um Alberto Sampaio floricultor, agricultor, vitivinicultor, diferente mas complementar do historiador notável que todos conhecemos. É talvez por isso mesmo, por trazer a público esta faceta mais ignorada do Historiador, que a exposição agora inaugurada é merecedora do nosso reconhecimento.

Os seus profundos conhecimentos de agricultura valeram-lhe o convite de Oliveira Martins para com ele colaborar no “Projecto de Lei do Fomento Rural”, colaboração tão valiosa que justifica a frase de Oliveira Martins a ele dirigida: “(…) em grande parte a obra é sua; queira-lhe como se quer a um filho.” Alberto Sampaio no seu notável trabalho “A propriedade e a cultura do Minho” mostra-se preocupado com a distribuição da água de rega. São suas estas palavras: “Aqui a água é tudo; é ela quem determina o valor de uma propriedade, o qual será maior ou menor segundo a quantidade de que puder dispor.” Visionário como sempre, já antecipa em finais do séc. XIX a construção de pequenas barragens como nos bosques alsacianos, ou presas que guardassem estas águas que serviriam quer para regas directas quer, pela infiltração, para aumentar o volume das fontes.

Esta exposição apresenta-nos este outro Alberto Sampaio que o Historiador por vezes encobre e procura torná-lo vivo, através da sua vida de agricultor e, mais do que isso, de Homem bom e tolerante, culto e inteligente, de uma modéstia beneditina que o tornaram credor da nossa mais profunda admiração.

Maria Augusta Sequeira Leal Sampaio da Nóvoa Faria Frasco

Museu Bernardino Machado, 26 de Janeiro de 2008

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