A assinalar a Exposição Industrial de Guimarães de 1884, foi lançado o número único do jornal “A Indústria Vimaranense”, uma iniciativa conjunta da imprensa local, que contou com textos de diversos autores, entre os quais Adolfo Salazar, Campos Henriques, Avelino Guimarães, Conde de Margaride, Martins Sarmento e Pereira Caldas. O texto de abertura é de Alberto Sampaio. Aqui fica:
Parecerá geralmente demasiada imodéstia que um concelho, a quem sobra a indiferença pública, se abalançasse a fazer uma Exposição Industrial.
Os seus iniciadores não tiveram contudo em vista organizar uma festa de mera ostentação, nem tampouco nunca pensaram surpreender o público com uma colecção de produtos, cujo acabamento nada deixasse a desejar.
Está visto que cada um havia de fazer o melhor que pudesse; mas este melhor estando limitado a um maquinismo antigo e por assim dizer primário, a exposição não poderia ostentar evidentemente estas maravilhas da indústria moderna que nas grandes exposições estrangeiras provocam a admiração das multidões, Havia, porém, um motivo para pôr de lado quaisquer considerações e fazer esta tentativa.
Tendo a mecânica moderna, auxiliada por enormes capitães, revolucionado a indústria fabril em todos os países civilizados do mundo, a nossa tem continuado a viver aqui humildemente com os seus velhos instrumentos de produção, procurando somente na habilidade manual a perfeição e barateza que aliás lhe devia ser dada economicamente por máquinas e ferramentas aperfeiçoadas.
A situação tornara-se extremamente delicada. A concorrência estrangeira, minando-a e cerceando-a todos os dias, está pondo em risco a subsistência de milhares de pessoas e uma parte da riqueza nacional. A falta de instrução técnica, a aprendizagem imperfeita e não regulada, a indiferença dos poderes públicos, a carência de capitães e instrumentos aperfeiçoados, vão operando dia c noite uma solução desgraçada.
Era tempo, pois, de tentar um esforço. Começar por uma exposição estava naturalmente indicado.
Agitar a população fabril e convencê-la a lançar-se numa tal empresa, a ela que tem vivido sempre na penumbra e como que abandonada, é muito; mas não é tudo. O tudo é a união das vontades. Se se convencerem todos da força imensa de que poderão dispor, se reunirem e disciplinarem os seus esforços, se se convencerem que um dos grandes males que aflige o trabalho local é a desunião e o indiferentismo de cada um em relação aos interesses gerais, se em vez de partidos meramente políticos levantarem outro que se proponha sobretudo a reorganização da indústria concelhia, se ao lado dele organizarem sociedades de estudo que procurem a solução das questões que lhe dizem respeito, se em fim se formular claramente uma vontade decidida de obter o rejuvenescimento das antigas e históricas indústrias de Guimarães, os iniciadores e organizadores da exposição dar-se-ão por satisfeitos, quaisquer que fossem as contrariedades com que tiveram de arcar para dar este primeiro passo definitivo no novo caminho.
A Indústria Vimaranense, n.º único, Guimarães, 15 de Junho de 1886
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