domingo, 20 de abril de 2008

Notícias da Exposição Industrial de Guimarães de 1884 (1)


A Exposição Industrial de Guimarães de 1884 teve grande ressonância na imprensa local, regional e nacional daquela épica. Entre as inúmeras notícias que então se publicaram, destaca-se uma longa, detalhada e muito interessante reportagem publicada em 18 números do
Jornal de Comércio, de Lisboa, de que a seguir se transcreve um excerto, onde se descreve a génese da Exposição e se dá conta da intervenção destacada que nela teve Alberto Sampaio, que nesse mesmo ano daria os seus primeiros passos como historiador, nas páginas da Revista de Guimarães. Os textos publicados no Jornal do Comércio são do Dr. Avelino da Silva Guimarães, da Sociedade Martins Sarmento e profundo conhecedor da indústria vimaranense.


"(...)

Estas considerações; o conhecimento do valor industrial dos povos do concelho de Guimarães, moderados no salário, sujeitos a trabalho até ao sacrifício; a decadência que se manifesta em parte das antigas indústrias vimaranense; - inspiraram a SOCIEDADE MARTINS SARMENTO a promover, já a concentração do espírito público de Guimarães para o estudo do estado precário da sua indústria, já o emprego de esforços para que o governo realizasse a fundação de estabelecimentos de instrução técnica, decretados desde 1864.

Com estes fins beneméritos, a Sociedade fundou os dois cursos nocturnos de francês e desenho, nomeou comissões de comerciantes, fabricantes e consócios, para procederem a inquéritos parciais por classe de indústria, realizou uma conferência pública na sala da biblioteca, tomando por tema – a importância da indústria vimaranense, e meios de a melhorar –, e resolveu se promovesse uma Exposição Industrial puramente concelhia.

A criação dos cursos nocturnos realizou-se facilmente, graças ao desinteresse e altos dotes cívicos dos dois professores; a Exposição teve largas e variadas dificuldades a vencer.

Teve o pensamento, o projecto da direcção dois anos de incubação. A Sociedade carecia de meios para fazer face às despesas; alguns receavam-se de tudo, e nem sequer esquecia como argumento de impugnação, a necessidade de dar à Exposição, não o aspecto modesto da simples exibição dos produtos fabris, mas o aspecto ornamental das grandes exposições nacionais. O ornamental, como dizia Spencer, preferindo ao útil!

Dois factos recentes resolveram os ânimos mais tímidos: a inauguração do caminho-de-ferro de Guimarães, e a criação da escola industrial da Covilhã; aquela aquecendo e progredindo pela ideia de progresso, esta agitando pelo sentimento de um agravo. A direcção da Sociedade convidou uma assembleia geral de proprietários, comerciantes e industriais. Presidiu o ilustre consócio, o Sr. conde de Margaride.

O projecto da Exposição foi recebido com entusiasmo. Por deliberação desta assembleia, organizou-se uma comissão central composta inteiramente de sócios da SOCIEDADE MARTINS SARMENTO: os Srs. barão de Pombeiro (presidente), dr. António Coelho da Mota Prego (presidente da Câmara), Manuel de Castro Sampaio (administrador do concelho), visconde de Lindoso, directores da Sociedade: dr. José da Cunha Sampaio, António Augusto da Silva Carneiro, António José da Silva Basto, dr. Avelino Germano, dr. Avelino da Silva Guimarães, Domingos Leite de Castro (autor da primeira proposta para a Exposição), Adolfo Salazar, dr. Joaquim José de Meira, dr. Domingos de Castro Meireles, Manuel de Freitas Aguiar, José Miguel da Costa Guimarães e Eugénio da Costa Vaz Vieira; José Martins de Queiroz, dr. Alberto Sampaio, A. A. da Silva Caldas, dr. Luís Augusto Vieira, António José Pinto Guimarães, Domingos José de Sousa Júnior, Manuel Ribeiro de Faria, I. de Menezes, Domingos Martins Fernandes, José Ribeiro da Silva e Castro e João Dias de Castro.

Organizada a grande comissão central, começaram de convidar-se classes de comerciantes e industriais, para os ouvir e consultar acerca do melhor método a seguir para o plano da Exposição.

Foi convidado o Sr. dr. Alberto Sampaio para organizar o projecto do programa e regulamento.

Depois de decorridas bastantes semanas, depois de tomado o espírito de algum imprevisto desânimo, depois de ter exercido um certo domínio no ânimo do público a acção perniciosa dos retrógrados, uns sinceros, outros pelo velho achaque da maledicência, a maioria da comissão refez-se de coragem, resolveu vencer todas as dificuldades, e levar por diante o plano da Exposição.

Organizaram-se duas comissões: numa assembleia-geral, uma comissão de meios, composta dos sócios os Srs. padre João Gomes de Oliveira Guimarães, Domingos Martins Fernandes, Eduardo Almeida e António José Baptista Guimarães; numa sessão da comissão forma-se uma subcomissão executiva, composta dos Srs. dr. Alberto Sampaio, presidente, Domingos Leite de Castro, Domingos Martins Fernandes e Manuel Ribeiro de Faria. A comissão central abre uma subscrição para receita, e subscreve com largueza; a subcomissão de meios consegue em poucos dias abundante receita por subscrição pública. A Câmara subscreveu com 200$000 réis; a companhia do caminho-de-ferro com 100$000 réis.

A animação arrasta a todos, o entusiasmo renasce no comércio e na indústria, o patriotismo dos cidadãos vimaranenses aviva intensamente, uma polémica jornalística acerca da criação da escola de desenho incendeia ainda mais, por se reputar insuficiente pela a riqueza e variedade industrial de Guimarães. A subcomissão executiva confere ao dr. Alberto Sampaio pleno arbítrio na direcção técnica para a organização da Exposição. A comissão central conheceu que em trabalhos desta ordem há sempre necessidade duma certa concentração de poderes, da energia duma direcção superior. Escolheu para este fim, e acertadamente o Sr. dr. Alberto Sampaio, nomeando-o presidente da subcomissão executiva.

O dr. Alberto da Cunha Sampaio é dotado de inteligência viva e muitíssimo cultivada, especialmente em estudos económicos. Sem ocupações profissionais, cheio de ardor e de brio, caracteristicamente trabalhador, agora convencido até ao entusiasmo da oportunidade da Exposição, a comissão não podia fazer melhor escolha para director técnico desta exibição sistemática e concentrada da riqueza industrial de Guimarães.

Assumindo esta direcção, o dr. Alberto Sampaio desenvolve a máxima actividade, visitando as casas de comércio, as fábricas e oficinas, animando a todos, resolvendo dúvidas, organizando, enfim, o quadro das indústrias concelhias. Nas conjunturas mais graves, mais por satisfação aos seus consócios, que por necessidade, consulta a comissão central.

Consegue-se do Sr. António de Moura Soares Veloso, gerente da companhia do caminho-de-ferro de Guimarães, a cessão do palacete de Vila Flor, situado em posição vantajosa, e próximo da estação do caminho-de-ferro.

Convidam-se os numerosos expositores a escolherem lugar para as suas instalações, pela maior parte feitas a expensas próprias.

Sendo muito numerosos, havendo uma grande variedade de classes de indústrias, poucas e pequenas as salas para tão desenvolvida Exposição, imaginem-se os esforços que o director técnico teve de fazer, as indicações prudentes e engenhosas que foi necessário usar, para que todos ficassem bem, e todos satisfeitos.

(...)"

Colóquio «A Geração de 70: Alberto Sampaio e os "Outros"»


Decorreu no dia 18 de Abril, no auditório B2 do Campus Universitário de Gualtar, em Braga, o colóquio subordinado ao tema «A Geração de 70: Alberto Sampaio e os "Outros"». Esta iniciativa foi organizada pelo Centro de Estudos Lusíadas e contou com a colaboração da Biblioteca Pública de Braga.

Na Reitoria da Universidade do Minho, no Largo do Paço, está patente a exposição bibliográfica “Alberto Sampaio no seu tempo”, organizada pela Biblioteca Pública de Braga, a qual pode ser visitada até ao próximo dia 15 de Maio, das 9h00 às 17h30.

Programa

9h30Abertura

Acílio Estanqueiro Rocha (Vice-Reitor da Universidade do Minho)

José Viriato Capela (Presidente do Conselho Cultural da UM)

Fernando Machado (Presidente do Instituto de Letras e Ciências Humanas da UM)

Manuel Gama (Director do Centro de Estudos Lusíadas da UM)

9h45 – Conferência inaugural

Guilherme d' Oliveira Martins (Presidente do Centro Nacional de Cultura): «A Geração de 70: ideário, acção e posteridade»

10h40 – Intervalo

11h00 – Comunicações: «"Outros" da Geração de 70»

Moderador: Carlos Mendes de Sousa (Instituto de Letras e Ciências Humanas da UM)

Emília Nóvoa Faria (investigadora) e António Martins (investigador): «Alberto Sampaio na imprensa da época»

Maria do Carmo Mendes (Instituto de Letras e Ciências Humanas da UM): «Um jornalista e poeta da Geração de 70: Guilherme de Azevedo»

Isabel Cristina Mateus (Instituto de Letras e Ciências Humanas da UM): «Silva Pinto e o Realismo em Portugal: teoria e prática»

12h30 – Almoço

14h30 – Comunicações: «Tempos e Contextos da Geração de 70»

Moderadora: Virgínia Soares Pereira (Instituto de Letras e Ciências Humanas da UM)

Miguel Bandeira (Instituto de Ciências Sociais da UM): «Guimarães e Famalicão ao tempo de Alberto Sampaio»

Eduardo Pires Oliveira (Biblioteca Pública de Braga da UM): «Braga ao tempo de Alberto Sampaio»

José Marques Fernandes (Instituto de Letras e Ciências Humanas da UM): «Matriz proudhoniana da Geração de 70»

Manuel Gama (Instituto de Letras e Ciências Humanas da UM): «Rafael Bordalo Pinheiro: o hermeneuta (pelo traço) das "Conferências Democráticas"»

A Póvoa de Varzim associa-se às Comemorações do Centenário de Alberto Sampaio

A exposição “Alberto Sampaio: exposição bibliográfica” foi apresentada, no passado dia 11 de Abril, na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, por Isabel Fernandes, Directora do Museu de Alberto Sampaio. Recorde-se que a Biblioteca já tinha sido escolhida, em Dezembro passado, para uma sessão de apresentação do livro História de Alberto. A seguir à abertura da exposição, Emília Nóvoa Faria apresentou a palestra “Alberto Sampaio, o historiador das Póvoas Marítimas”, na qual revelou os resultados das pesquisas que tem vindo a realizar sobre o historiador, que nasceu em Guimarães, em 1841. O profundo conhecimento pessoal que tinha da realidade minhota, aliada a uma vasta erudição, que perpassa toda a sua obra, são, na sua opinião, os dois factores que fazem de Alberto Sampaio um caso raro na historiografia das vilas e cidades portuguesas.

Com base nesta exposição, o serviço educativo da Biblioteca organizou várias actividades dirigidas ao público infanto-juvenil, com o intuito de divulgar a vida e a obra deste historiador, nomeadamente visitas guiadas à exposição, acompanhadas por um guia de exploração criado para o efeito, e ainda uma oficina do livro “O que descobri de Alberto Sampaio”, na qual cada criança construirá um livrinho para registo de elementos da exposição. Foram produzidos dois catálogos bibliográficos: Alberto Sampaio – uma vida, uma obra (para o público infanto-juvenil) e Alberto Sampaio e a Póvoa de Varzim (para o público adulto).


terça-feira, 15 de abril de 2008

Apresentação do Caderno de Exploração “Alberto Sampaio: a brincar é que a gente se entende” em Vila Nova de Famalicão

O caderno de exploração sobre a vida de Alberto Sampaio, intitulado Alberto Sampaio: a brincar é que a gente se entende, uma edição das Comemorações do Centenário de Alberto Sampaio preparada pela Serviço Educativo do Museu de Alberto Sampaio, foi apresentado no Centro de Estudos Camilianos, em Vila Nova de Famalicão, no dia 8 de Abril de 2008 perante uma plateia animada e muito participativa, constituída por 130 alunos das Escolas EB1 de Cabeçudos, Landim e Seide. A seguir à leitura e encenação de partes da “História de Alberto” com as marionetas da Companhia de Teatro e Marionetas Mandrágora, as crianças foram convidadas a participar na aventura de descobrir quem foi Alberto Sampaio, contribuindo para a solução dos jogos de matemática, palavras cruzadas e enigmas, alguns dos passatempos que constam do caderno de exploração.

Uma tarde com Alberto Sampaio

O Centro Social e Cultural de S. Pedro do Bairro promoveu, no dia 4 de Abril de 2008, no âmbito da II Feira do Livro organizada nas suas instalações, a “Tarde com Alberto Sampaio”, uma iniciativa que contou com a presença do Presidente do Centro Social, Joaquim Vale, e do Vereador da Educação e Cultura da Câmara de Vila Nova de Famalicão, Leonel Rocha. À apresentação do livro “História de Alberto” por Emília Nóvoa Faria, acompanhada por projecção das ilustrações e pela exibição das marionetas, numa colaboração da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, seguiu-se a encenação “A vida de Alberto” por alunos do ATL do Centro Social e Cultural de S. Pedro do Bairro. No final, um outro grupo de alunos juntou-se aos pequenos actores para, em conjunto, entoarem a canção “Eu sou Alberto Historiador”, com letra da autoria de um responsável do Centro. A tarde terminou com a visita à Feira do Livro, onde estavam também expostos trabalhos executados pelas crianças, inspirados na “História de Alberto”.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Por terras do Minho, com Alberto Sampaio

No último sábado, dia 5 de Abril, realizou-se o primeiro percurso do roteiro “Alberto Sampaio por Terras do Minho”, que levou os participantes a visitarem alguns lugares das terras de Vila Nova de Famalicão relacionados com o historiador Alberto Sampaio: a Casa da Boamense, onde viveu e morreu, o Mosteiro de Santa Maria de Landim, onde completou os seus primeiros estudos e a Casa Museu de Camilo Castelo Branco, escritor com quem se relacionou.



domingo, 6 de abril de 2008

Alberto Sampaio na Revista de Guimarães (3)

O Presente e o futuro da viticultura no Minho.

Estudo de economia rural.

II

No Minho, é bem sabido que a cultura da vide se fixou economicamente não como exclusiva, mas sim associada a outras, sobretudo aos cereais e forragens; tecnicamente adoptou a forma alta, encostando as cepas às árvores ou estendendo-as em largas ramadas horizontais.

Esta maneira cultural parece ser a mais primitiva e a que que mais se aproxima à organização da planta, trepadeira de natureza vagabunda e expansiva. O modo como ela se comportava no meio das florestas, estava por si mesmo a ensinar o agricultor quando a transportou para os seus campos. Ainda hoje no nosso continente, Côte-d'Or, Toscana, Margens do Rheno, etc, encontram-se muitas espécies no estado selvático, subindo pelas árvores ou emaranhadas em sebes. A vide assim mais ou menos aparada, casada a árvores mais ou menos derramadas, devia ser o primeiro ensaio cultural.

Segundo uma tradição recolhida por Plínio (Liv. XIV, 14) parece que no tempo de Numa não havia outra cultura e esta mesma ainda incipiente; pois diz que ele proibiu aspergir com vinho a pira funerária por causa da raridade do líquido, mas que permitira fazer com este as libações aos deuses uma vez que viesse de vides podadas, para obrigar a esse trabalho os lavradores que o receavam pelo perigo de subir às árvores. E de facto muito tempo devera passar-se antes de se achar a cultura baixa. Transformar um vegetal, a quem a natureza tinha dado elementos para se desenvolver largamente num arbusto de fraco e pequeno crescimento, fazendo concentrar no cacho toda a sua vitalidade, de modo que em vez de um fruto bravio, acido e desagradável viesse a produzir um outro de sueco doce, de fino sabor e próprio a produzir uma bebida generosa, esta transformação, assim como de quase todas as nossas fruteiras, indica uma longa série de tentativas e observações dos antigos cultivadores. Mas quando enfim se achou a cultura baixa, a primeira com tais ou quais aperfeiçoamentos ficou provavelmente subsistindo ou nos sítios mais adequados ao cultivo de outras plantas ou onde o paladar não pedia nem exigia vinhos de primeira qualidade. Todavia no tempo de Columela já se conheciam as duas, ambas as quais descreve extensamente; a alta sobretudo, é de tal modo indicada no livro V, que a descrição fotografa exactamente a viticultura hodierna do Minho. Pode afirmar-se à face do texto do antigo escritor que nesta espécie desde então nada se tem inventado; tudo se acha ali, desde a árvore em alto fuste (arbusto italicum) disposta em andares (tabulata) até à entrepada em três ou quatro cabeços (rumpotinus, genus arbusti gallici), incluindo os cordões (traduces) que passam de uma a outra. Tal é principalmente a maneira virgiliana, e é a ela que o poeta se refere, quando diz:

Semiputata tibi frondosa vitis in ulmo est.

Este modo de cultivar, remontando como acaba de ver-se aos tempos mais antigos, também não é actualmente privativo da nossa região. Conserva-se na Itália, na Lombardia, em França, nos departamentos dos Altos Pirinéus, Garone, Isére e Sabóia; na Suiça em alguns sítios, como Evian; na Espanha, na Galiza. Encontra-se até na Ásia central (Kashmir).

Não possuindo os factos necessários para formularmos a história cio seu estabelecimento no Minho, e especialmente no concelho de Guimarães, indicaremos contudo que nem sempre foi assim. O foral de D. Manuel, dado em 1517 a esta cidade, contém a seguinte passagem: E Allem dos direitos atraz decrarados neste foral ouvemos por bem mandar asen-tar aquy e decrarar outros direitos e coisas que antigamente se levavam na dita villa segundo a justificaçam que das ditas coisas mandamos fazer – a saber... E assy o direito que se chama dos cariteis que he a pena que se daa aos que trazem os cães soltos no tempo das uvas”. Vê-se deste texto que anteriormente ao tempo do foral a generalidade da cultura da vinha devia ser em videiras baixas, aliás não seria preciso tomar medidas policiais a respeito dos cães no tempo das uvas. Combinando todavia as palavras que antigamente se levavam com o assentamento dos direitos dos cariteis, devemos inferir que nesta época a cultura já se estava modificando, sem se ter alterado completamente, pois que neste caso seria perfeitamente inútil declarar a coima. Concluiremos pois em face do texto que a viticultura baixa seria a regra normal no século XV, começando a desaparecer e a transformar-se toda em alta no século XVI. A esta passagem do foral convém adicionar a denominação significativa que ainda hoje conservam muitas parcelas de terra, como campo da vinha ou campo do bacelo, quando estas duas designações se eliminaram completamente da terminologia rural da localidade. O objecto desapareceu, mas como das cidades mortas ficou todavia um nome na linguagem popular.

in Alberto Sampaio, " O Presente e o futuro da viticultura no Minho. Estudo de economia rural. II ", Revista de Guimarães, n.º 2, 1885, pp. 20-35.

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quinta-feira, 3 de abril de 2008

Em Famalicão: Crianças à descoberta de Alberto Sampaio

Cerca de 100 crianças do Centro Social e Cultural de Bairro, de Vila Nova de Famalicão, participam na próxima sexta-feira, dia 4, pelas 15h00, numa actividade educativa que tem como tema o historiador Alberto Sampaio. A partir do livro infantil “Histórias do Tio Alberto”, as crianças são convidadas a assistir a um espectáculo de imagens e marionetas, num momento único de cor, luz e movimento.

A iniciativa que tem como principal objectivo cativar as crianças para a vida e obra de Alberto Sampaio insere-se no âmbito do programa comemorativo do centenário da morte do historiador, que está a decorrer até ao final do ano de 2008, e é promovido pelas Câmaras Municipais de Vila Nova de Famalicão, Guimarães e pela Sociedade Martins Sarmento e Museu de Alberto Sampaio.

Esta actividade educativa é apenas uma das muitas que se destinam ao público infantil e jovem e que têm vindo a decorrer em vários espaços do concelho. Na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco todas as segundas-feiras, de quinze em quinze dias, a história de Alberto Sampaio é contada às crianças do concelho de Famalicão, através da apresentação da peça de teatro de Marionetas “Histórias do Tio Alberto”, a cargo da Companhia de Teatro e Marionetas Mandrágora.

A Biblioteca Municipal foi também o palco para a realização de um ateliê intitulado “O Meu Livro de Alberto”, onde cerca de 20 crianças foram convidadas a escrever e ilustrar a sua própria “História de Alberto”, utilizando papel e cartão, cola, papel colorido autocolante, marcadores, lápis de cera, entre outros. No final o resultado foi surpreendente, com histórias para todos os gostos.

[Informação do Município de Vila Nova de Famalicão]

terça-feira, 1 de abril de 2008

Memória de Alberto Sampaio, por Jaime de Magalhães Lima

Jaime de Magalhães Lima

"Grandes individualidades puderam formar e reger grandes governos, mas só a grandeza dos povos significará e alimentará a grandeza das nações. O primeiro acto de uma nova e mais justa concepção da história nacional será libertar-nos do fetichismo das individualidades e contemplarmos as energias da grei, tal qual aprendemos na lição magnífica que Alberto Sampaio nos legou."

Jaime de Magalhães Lima

Na noite de 7 de Abril de 1924, o escritor de Jaime de Magalhães Lima proferiu na Sociedade Martins Sarmento uma conferência sobre "Alberto Sampaio e o significado dos seus estudos na interpretação da História Nacional", onde analisou a relação que Sampaio tinha com a história de Portugal, ao mesmo tempo que nos deixa um testemunho impressivo da personalidade do historiador das Vilas do Norte de Portugal:

"Li um dia a Alberto Sampaio algumas passagens das Memórias de Kropotkine; falavam da ignorância simples e da obtusidade moral dos magistrados que se achavam à frente da administração do império moscovita e registravam a opressão, miséria e abandono do povo. Ouviu com atenção o libelo temeroso e eu, que lho repetia mais por lhe mostrar a finíssima arte de contar que ali estava, tão singela, que por lhe solicitar a simpatia com a desgraça que em sua substância patenteava, encontrei-o muito mais inclinado a reflectir na rectidão da causa que o comovia do que enlevado na perfeição da arte que a exprimia. Sob o homem tranquilo, regrado, sereno, pacífico e modesto habitava o apóstolo dos humildes que não se apavorava com os anátemas do anarquismo e antes lhes sentia a justiça e cogitava os remédios.

Por esse mesmo tempo – era isto no Verão de 1908 – uma noite, no vaguear da palestra verificámos que nas minhas jornadas pelo Minho já havia passado próximo de propriedades suas. E então falou-me delas. Visitava-as pouco. A casa estava deserta; não tinha lá família e não a tendo onde outrora a encontrava, aqueles lugares só lhe acordavam saudades e mágoas. Andavam entregues aos caseiros. Não sabia nem queria averiguar do zelo com que eram tratadas, nem da inteireza com que lhe era apartado o seu quinhão, e da possibilidade de acrescentar o rendimento. Havia quem dissesse que era muito prejudicado, mas estava lá gente que há muito morava lá e carecia daquilo para seu sustento. Não ia inquietá-la. E o mais da sua bondade resumiu-o num gesto de abdicação.

Na história, não o tentaram investigações de erudição pela erudição, nem especulações filosóficas, nem esplendores da arte, nem labirintos diplomáticos, nem quanto cativa o orgulho dos temperamentos aristocráticos; correu direito à morada dos humildes, ao labor e canseiras dos servos da gleba, fervorosamente as contemplou desde as origens até àquela hora em que as tinha diante dos olhos a tirar da terra o pão com o suor do rosto. Por certo poderia dizer com Wordsworth que “o amor procurou-o nas choupanas dos pobres. Seus mestres, de todos os dias, foram as árvores e os ribeiros, o silêncio que habita o céu estrelado, a paz que mora entre outeiros solitários”. “Nos jardins, disse-me, nada o cativavam as plantas exóticas. A todas as estranhas preferia as da nossa terra. Nenhumas achava mais belas que as nossas árvores com seus renovos da Primavera e a nudez austera dos Invernos”."

Jaime de Magalhães Lima, Alberto Sampaio e o significado dos seus estudos na interpretação da História Nacional. Conferência realizada na Sociedade Martins Sarmento, de Guimarães, em a noite de 7 de Abril de 1924. Guimarães, Edição da Sociedade Martins Sarmento, págs. 54-55.