quarta-feira, 26 de novembro de 2008

"Obras", de Alberto Sampaio: lançamento no dia 28 de Novembro

No próximo dia 28, pelas 19h00, é apresentado ao público o livro Alberto Sampaio: Obras, uma colectânea que reúne a obra científica de Alberto Sampaio, numa edição da Sociedade Martins Sarmento que assinala o centenário do historiador. O evento, com entrada livre, terá lugar no Pequeno Auditório do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, à margem do Congresso "Alberto Sampaio, Ontem e Hoje".

O volume Obras, de Alberto Sampaio, reúne, ao longo de quase 600 páginas, os mais significantes escritos do Historiador. Em primeiro lugar são publicados cinco ensaios que ocupam um lugar central na obra de Alberto Sampaio, inseridos em sequência cronológica, com o propósito de proporcionar a compreensão da génese e do processo de construção do pensamento histórico do autor. Em seguida, publicam-se quatro textos reveladores da atenção de Alberto Sampaio em relação à realidade do mundo em que vivia e da sua preocupação em contribuir para o progresso da sua terra e do seu país. Seguem-se dois textos de evocação de dois vultos da cultura portuguesa do seu tempo, figuras centrais da sua vida e da sua obra, os seus amigos Antero de Quental e Francisco Martins Sarmento. No final do volume, inseriram-se oito notas e recensões bibliográficas que Alberto Sampaio publicou dispersamente. O prefácio é do Professor José Amado Mendes, prestigiado especialista em História Económica, da Universidade de Coimbra.

O livro estará à venda na Sociedade Martins Sarmento, no Centro de Estudos Camilianos e nas livrarias. No dia do lançamento, o volume terá um preço especial.

Congresso "Alberto Sampaio, Ontem e Hoje"

PROGRAMA

Dia 27

Centro Cultural Vila Flor, Guimarães

9h30

Sessão de abertura

10.00-12.30

1.ª Secção – Arqueologia, coordenada por Francisco Sande Lemos

Manuela Martins e Helena Paula Carvalho: Marcadores da paisagem e organização do território

Ramiro Pimenta: A topografia social do Entre-Douro-e-Minho nos fins do século XIX e a sua influência na regionalização teórica dos programas de investigação arqueológica

14h30-16h30

2.ª Secção – Ordenamento do território, coordenada por Álvaro Domingues

Pablo Gallego Picard: Deriva 1929-2008

Álvaro Domingues: Alberto Sampaio visto de cá e do que a geografia diz

17h00-19h00

3.ª Secção – Arquitectura, coordenada por Paulo Providência

Alexandre Alves Costa: Reflexões sobre a identidade – A propósito de uma releitura de Alberto Sampaio

Maria Manuel Oliveira: O desenho da cidade / a construção da paisagem

Paulo Providência: Rural e Industrial - sobre a construção da Paisagem Industrial do Vale do Ave


Dia 28

Centro Cultural Vila Flor, Guimarães

10.00-12h30

4.ª Secção – História Económica, coordenada por José Amado Mendes

Saul António Gomes: Alberto Sampaio e a historiografia medieval do seu tempo

António Rafael Amaro: Alberto Sampaio no contexto da historiografia portuguesa: a importância do “universo regional”no seu pensamento histórico

José Viriato Capela: Apreciação e crítica ao poder municipal

Manuel Ferreira Rodrigues: A indicar

14h30-16h30

5.ª Secção – Demografia e população, coordenada por Maria Norberta Amorim

Maria João Guardado Moreira: A(s) fronteira(s) do interior peninsular – espaços e realidades

José Manuel Perez Garcia: Transformações agrárias e desenvolvimento da população na Galiza Ocidental

Teodoro Afonso da Fonte: A indicar

Antero Ferreira: Sondagens num espaço urbano: a paróquia de Oliveira do Castelo em 1835

17h00-19h00

6.ª Secção – Sociologia, coordenada por Albertino Gonçalves

Jean-Ives Durand: Os lenços de namorados do Minho: textos, história e histórias

Manuel Carlos Silva: Religiosidade, Igreja e Poder: configurações em duas aldeias minhotas

Moisés Martins: A construção da comunidade pela festa: As festas d’Agonia

José Manuel Lopes Cordeiro: A indústria de cutelaria no concelho de Guimarães

19h00

Lançamento das Obras, de Alberto Sampaio


Dia 29

Centro de Estudos Camilianos, Seide, Vila Nova de Famalicão

10.00-12h30

7.ª Secção – História das Ideias, coordenada por Norberto Cunha

Norberto Cunha: A indicar

Hermenegildo Fernandes: Alberto Sampaio - um medievalista à procura do seu tempo

João Francisco Marques: Alberto Sampaio, pioneiro de uma historiografia renovada

12h30

Sessão de encerramento.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Alberto Sampaio, o Tempo e a Obra

No âmbito das comemorações do Centenário de Alberto Sampaio, foi inaugurada, no passado sábado, dia 15 de Novembro, na Sociedade Martins Sarmento a Exposição Bibliográfica "Alberto Sampaio, o tempo e a obra", que estará patente ao público até ao dia 7 de Dezembro.

Todas as obras que estão patentes nesta exposição pertencem à Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, com excepção dos volumes da Revista de Portugal onde se incluem as primeiras publicações dos textos O Norte Marítimo e Ontem e hoje, que foram cedidos pela Biblioteca Pública de Braga.

Esta iniciativa enquadra-se no programa da homenagem ao historiador Alberto Sampaio que congrega as Câmaras Municipais de Guimarães e de Vila Nova de Famalicão, o Museu de Alberto Sampaio e a Sociedade Martins Sarmento.

A Entrada é livre.



Alberto Sampaio, o tempo e a obra

Um dia, sem sabermos bem porquê, vemo-nos impelidos por uma corrente que determina o nosso percurso.

Alberto Sampaio


Quando escreveu a frase que encima este texto, Alberto Sampaio reflectia sobre o que terá levado Francisco Martins Sarmento a estudar a Citânia de Briteiros e a fazer-se arqueólogo. Mas também estaria a referir-se ao seu próprio percurso, ao modo como ele mesmo se fez historiador. Há um paralelismo singular entre a história de vida de Alberto Sampaio e a do seu sábio amigo Martins Sarmento. Tal como o arqueólogo dos nossos castros, também Sampaio dispunha de meios de fortuna suficientes para não necessitar de viver do seu trabalho; tal como ele, foi um trabalhador dedicado e incansável. Homem de sólida cultura humanista, movido por uma curiosidade nunca satisfeita, abalançou-se na tentativa de compreender os segredos do nosso passado longínquo, construindo uma obra histórica profundamente original e inovadora. À imagem de Sarmento, Alberto Sampaio foi um historiador tardio, iniciando os seus estudos histórico-económicos quando já tinha dobrado os quarenta anos e ia entrando no último terço da sua existência.

A obra histórica de Alberto Sampaio surgiu com as marcas do espírito do tempo e da circunstância em que começou a ser construída. Apesar de sempre ter preferido a sombra à luz, renunciando a lugares de destaque, foi um dos principais obreiros dos primeiros anos da Sociedade Martins Sarmento, instituição que nasceu para mudar profundamente o horizonte cultural da sua terra natal. Assim que surgiu, a SMS introduziu em Guimarães uma agitação profundamente enriquecedora. Fomentou o ensino, criou escolas, abriu uma Biblioteca Pública e instalou um Museu, promoveu os estudos científicos, lançou a Revista de Guimarães. Contribuiu para induzir o impulso de desenvolvimento económico que lavrou em Guimarães em finais do século XIX. Criou cultura. Fez pensar. E Alberto Sampaio, que escreveu, no primeiro texto que publicou na Revista de Guimarães, que “fazer pensar é tudo; e a agitação a única alavanca que pode deslocar esse mundo: pois que agitar quer dizer – instruir, ensinar, convencer e acordar”, também esteve no centro desse pujante movimento de renovação e mudança. Foi naquele tempo e naquela circunstância que Alberto Sampaio ensaiou os seus primeiros passos como historiador.



A exposição “Alberto Sampaio, o tempo e a obra”, tem um único protagonista: o historiador Alberto Sampaio, através dos textos que nos legou. Nesta mostra está patente a obra da maturidade do historiador, que integra todos os estudos que publicou a partir do momento em que iniciou um percurso sólido e marcadamente original na historiografia portuguesa. As obras expostas cobrem o quarto de século que transcorre entre 1884, ano em que publicou o seu primeiro texto na Revista de Guimarães, e 1908, o ano em que desapareceu. Trata-se de uma obra relativamente breve na extensão, mas densa no conteúdo, ou, com a descreveu Luís de Magalhães, “não muito vasta nem volumosa, mas fortemente concentrada e intensa”.

Alberto Sampaio introduziu uma visão inovadora da História, “sem personagens”, centrada não nos gestos das grandes figuras históricas, mas no pulsar colectivo das gentes, como o notou Jaime de Magalhães Lima:

Grandes individualidades puderam formar e reger grandes governos, mas só a grandeza dos povos significará e alimentará a grandeza das nações. O primeiro acto de uma nova e mais justa concepção da história nacional será libertar-nos do fetichismo das individualidades e contemplarmos as energias da grei, tal qual aprendemos na lição magnífica que Alberto Sampaio nos legou.


sábado, 15 de novembro de 2008

"Alberto Sampaio, o tempo e a obra - exposição na Sociedade Martins Sarmento"

Alberto Sampaio: A Propriedade e Cultura do Minho -
estudo histórico e d'economia rural (1888)


No âmbito das comemorações do Centenário de Alberto Sampaio, é hoje, dia 15 de Novembro, pelas 16:00, inaugurada na Sociedade Martins Sarmento a Exposição "Alberto Sampaio, o tempo e a obra", que estará patente ao público até ao dia 7 de Dezembro.

A entrada é livre.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Cartas de Camilo e Antero de Quental a Alberto Sampaio reunidas em livro


A grande amizade e cumplicidade que o historiador Alberto Sampaio mantinha com Antero de Quental, a relação de cordialidade com Camilo Castelo Branco, as descobertas na arqueologia partilhadas com Martins Sarmento e os debates de história e política com Oliveira Martins estão agora expressos em livro, no primeiro volume de “Cartas a Alberto Sampaio”, que reúne a correspondência dirigida ao historiador no período entre 1864 e a data da sua morte em 1908. A obra que será apresentada no próximo dia 14 de Novembro, pelas 17h30, na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, em Vila Nova de Famalicão, inclui, ao todo, 216 cartas. A apresentar a obra estará o presidente do Centro Nacional de Cultura, Guilherme d'Oliveira Martins.

Cobrindo praticamente toda a vivência adulta de Alberto Sampaio, a obra dá a conhecer as relações de trabalho e amizade mantidas com diversas figuras da cultura portuguesa, desde os seus 22 anos, à época em que concluiu os estudos em Coimbra, à fugaz passagem por Lisboa, e até ao regresso ao Minho, mais precisamente à sua Quinta de Boamense, em Vila Nova de Famalicão, onde morreu aos 67 anos de idade.

O universo das pessoas com quem se relacionou e que assinam estas cartas é a todos os títulos notável, desde simples amigos dos tempos de Coimbra como José Falcão, irmãos Faria e Maia, António de Azevedo Castelo Branco, Alberto Teles, Pinto Osório e Inácio de Vasconcelos, passando pelos que pontificaram no círculo de Guimarães como Francisco Agra, Joaquim José de Meira até aos que na época e nos mais diversos domínios, marcaram a “intelligentsia” nacional, filósofos, poetas e escritores (Antero de Quental, Camilo Castelo Branco, Luís de Magalhães, Jaime de Magalhães Lima), historiadores (Oliveira Martins, Gama Barros, Abade de Tagilde, João Gomes de Abreu de Lima), arqueólogos e etnólogos (Martins Sarmento, José Leite de Vasconcelos, Rocha Peixoto, José Fortes, Ricardo Severo), enologistas (Abílio da Costa Torres e José Macedo Souto Maior), jornalistas (Bento Carqueja), filólogos e orientalistas (Guilherme de Vasconcelos Abreu e Aniceto dos Reis Gonçalves Viana).

Com toda esta plêiade de figuras suas contemporâneas, Alberto Sampaio estabeleceu uma correspondência, em cuja riqueza de conteúdo se espelha a plenitude intelectual de uma geração. Com 420 páginas, o livro “Cartas a Alberto Sampaio”, conta com organização, introdução e notas de Emília Nóvoa Faria e António Martins, e tem a chancela da Campo das Letras. O lançamento da obra insere-se nas comemorações do centenário da morte de Alberto Sampaio, que envolve os municípios de Famalicão e Guimarães, a Sociedade Martins Sarmento e o Museu Alberto Sampaio, e decorrem até ao final do ano de 2008.

Organizada em dois volumes, “Cartas a Alberto Sampaio” e “Cartas de Alberto Sampaio”, esta edição inclui um importante acervo documental de correspondência inédita proveniente do Arquivo Municipal de Alberto Sampaio e do Fundo Documental da Casa de Boamense, em Vila Nova de Famalicão, para além de cartas depositadas na Biblioteca Nacional, no Museu Nacional de Arqueologia, na Biblioteca Marciana de Veneza e outras que foram facultadas pelas famílias de João Gomes de Abreu Lima e de Jaime de Magalhães Lima.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Folclore da Oliveira

A Oliveira de Guimarães (fotografia do séc. XIX)

Conta Heródoto (Liv. VIII, 54 e 55) que Xerxes, tendo ocupado Atenas e incendiado a cidadela, mandara que os exilados atenienses, que o acompanhavam, fossem fazer ali os sacrifícios segundo os seus ritos. Ora na cidadela havia um templo consagrado a Erechteus, filho da Terra, onde se via “uma oliveira e um mar”.

O incêndio, destruindo o templo, queimou também a árvore; mas os banidos, quando entraram ao recinto, notaram com espanto que tinha já lançado um rebento de um côvado de comprido.

Compare-se com esta a que se encontra em Guimarães.

Wamba – o suevo, lavrando placidamente o seu campo, como lhe anunciassem que os godos o tinham feito a ele – pobre campónio, rei da Espanha, espetara no chão a aguilhada seca de oliveira e dissera – “Quando esta vara der rama, serei eu rei Wamba”.

E de facto, a vara, reverdecendo, vestiu-se de vergônteas.

Na legenda portuguesa talvez se possa ver também (Tacitus, De Sit, m. et Pop. Germâniæ) o antigo costume teutónico de deitar sortes com ramos de árvores frutíferas.

Agosto 9, 1887.
ALBERTO SAMPAIO
[In Aurora da Penha, n.º único, Guimarães, 29 de Agosto de 1887]