segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Alberto Sampaio, o Tempo e a Obra

No âmbito das comemorações do Centenário de Alberto Sampaio, foi inaugurada, no passado sábado, dia 15 de Novembro, na Sociedade Martins Sarmento a Exposição Bibliográfica "Alberto Sampaio, o tempo e a obra", que estará patente ao público até ao dia 7 de Dezembro.

Todas as obras que estão patentes nesta exposição pertencem à Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, com excepção dos volumes da Revista de Portugal onde se incluem as primeiras publicações dos textos O Norte Marítimo e Ontem e hoje, que foram cedidos pela Biblioteca Pública de Braga.

Esta iniciativa enquadra-se no programa da homenagem ao historiador Alberto Sampaio que congrega as Câmaras Municipais de Guimarães e de Vila Nova de Famalicão, o Museu de Alberto Sampaio e a Sociedade Martins Sarmento.

A Entrada é livre.



Alberto Sampaio, o tempo e a obra

Um dia, sem sabermos bem porquê, vemo-nos impelidos por uma corrente que determina o nosso percurso.

Alberto Sampaio


Quando escreveu a frase que encima este texto, Alberto Sampaio reflectia sobre o que terá levado Francisco Martins Sarmento a estudar a Citânia de Briteiros e a fazer-se arqueólogo. Mas também estaria a referir-se ao seu próprio percurso, ao modo como ele mesmo se fez historiador. Há um paralelismo singular entre a história de vida de Alberto Sampaio e a do seu sábio amigo Martins Sarmento. Tal como o arqueólogo dos nossos castros, também Sampaio dispunha de meios de fortuna suficientes para não necessitar de viver do seu trabalho; tal como ele, foi um trabalhador dedicado e incansável. Homem de sólida cultura humanista, movido por uma curiosidade nunca satisfeita, abalançou-se na tentativa de compreender os segredos do nosso passado longínquo, construindo uma obra histórica profundamente original e inovadora. À imagem de Sarmento, Alberto Sampaio foi um historiador tardio, iniciando os seus estudos histórico-económicos quando já tinha dobrado os quarenta anos e ia entrando no último terço da sua existência.

A obra histórica de Alberto Sampaio surgiu com as marcas do espírito do tempo e da circunstância em que começou a ser construída. Apesar de sempre ter preferido a sombra à luz, renunciando a lugares de destaque, foi um dos principais obreiros dos primeiros anos da Sociedade Martins Sarmento, instituição que nasceu para mudar profundamente o horizonte cultural da sua terra natal. Assim que surgiu, a SMS introduziu em Guimarães uma agitação profundamente enriquecedora. Fomentou o ensino, criou escolas, abriu uma Biblioteca Pública e instalou um Museu, promoveu os estudos científicos, lançou a Revista de Guimarães. Contribuiu para induzir o impulso de desenvolvimento económico que lavrou em Guimarães em finais do século XIX. Criou cultura. Fez pensar. E Alberto Sampaio, que escreveu, no primeiro texto que publicou na Revista de Guimarães, que “fazer pensar é tudo; e a agitação a única alavanca que pode deslocar esse mundo: pois que agitar quer dizer – instruir, ensinar, convencer e acordar”, também esteve no centro desse pujante movimento de renovação e mudança. Foi naquele tempo e naquela circunstância que Alberto Sampaio ensaiou os seus primeiros passos como historiador.



A exposição “Alberto Sampaio, o tempo e a obra”, tem um único protagonista: o historiador Alberto Sampaio, através dos textos que nos legou. Nesta mostra está patente a obra da maturidade do historiador, que integra todos os estudos que publicou a partir do momento em que iniciou um percurso sólido e marcadamente original na historiografia portuguesa. As obras expostas cobrem o quarto de século que transcorre entre 1884, ano em que publicou o seu primeiro texto na Revista de Guimarães, e 1908, o ano em que desapareceu. Trata-se de uma obra relativamente breve na extensão, mas densa no conteúdo, ou, com a descreveu Luís de Magalhães, “não muito vasta nem volumosa, mas fortemente concentrada e intensa”.

Alberto Sampaio introduziu uma visão inovadora da História, “sem personagens”, centrada não nos gestos das grandes figuras históricas, mas no pulsar colectivo das gentes, como o notou Jaime de Magalhães Lima:

Grandes individualidades puderam formar e reger grandes governos, mas só a grandeza dos povos significará e alimentará a grandeza das nações. O primeiro acto de uma nova e mais justa concepção da história nacional será libertar-nos do fetichismo das individualidades e contemplarmos as energias da grei, tal qual aprendemos na lição magnífica que Alberto Sampaio nos legou.


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