Nos primeiros anos da década de 1880, à volta da Sociedade Martins Sarmento, a vida intelectual fervilhava, destacando-se um notável conjunto de cidadãos ilustres que, inspirados no exemplo de Francisco Martins Sarmento, começaram a publicar estudos científicos sobre diversas áreas do conhecimento, com destaque para os saberes de natureza histórica. Entre eles, encontrava-se Alberto Sampaio, cuja produção científica começou a ver a luz do dia logo no primeiro número da Revista de Guimarães, publicado em 1884, no qual, além do texto programático sobre a futura Exposição Industrial, publicou o seu primeiro Estudo de Economia Rural, em que abordava a temática da cultura da vinha no Minho e dos problemas que a afectavam, num tempo em que a praga da filoxera ainda estava muito presente. Começava assim:
“Desde o norte ao sul no nosso país, a vide europeia, ainda há poucos anos desafogada e livre de moléstias, adornava com os seus pâmpanos verdejantes a aridez e secura da maior parte das terras ingratas e impróprias para outra produção. Dividindo os produtos do solo português em sete classes (Port. Contemp. Estatística), o vinho representava em 1875 quase 23% ou aproximadamente a quarta parte do rendimento total. “A viticultura, escrevia o ser. Rebelo da Silva em 1868, constitui há séculos uma das fontes mais copiosas da riqueza agrícola de Portugal e uma das mais importantes bases do seu comércio”.
Qualquer que fosse o sítio e o modo de cultivar o precioso arbusto pagava sempre generosamente o trabalho do cultivador. O seu rico produto tinha e teria sempre um mercado, porque muitos climas, onde vivem densas populações, não permitem a cultura desta planta, que a natureza nos tinha dado a nós e a outros povos nas mesmas condições porventura como uma compensação á pouca fertilidade duma grande parte das nossas terras.
Acomodando-se a toda a espécie de terrenos, aos mais ingratos ainda, sofrendo os piores tratamentos, a incúria e o desleixo do lavrador, mas, produzindo sempre e retribuindo-lhe com generosidade a sua avareza, a vide, conquistando todos os dias novas terras, estendendo-se e multiplicando-se incessantemente, duplicaria dentro de pouco tempo o seu rendimento e absorveria todos os terrenos menos férteis, se um certo número de fitonoses não viessem nestes últimos anos desencadear-se sobre ela, ameaçando-a duma próxima destruição total.”
Alberto Sampaio, “O presente e o futuro da viticultura no Minho. Estudo de economia rural”, in Revista de Guimarães, n.º 1, Guimarães, 1884, pp. 196-197.
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