sexta-feira, 30 de novembro de 2007

1 de Dezembro: abertura das comemorações do Centenário

No dia 1 de Dezembro de 2007, sábado, no Museu de Alberto Sampaio, iniciam-se oficialmente as Comemorações do centenário da morte de Alberto Sampaio (1908-2008), o qual nasceu em Guimarães, na rua da Rainha, a 15 de Novembro de 1841 e faleceu, em Famalicão, na sua Quinta de Boamense, a 1 de Dezembro de 1908.

O programa das comemorações é um trabalho de equipa entre duas Câmaras Municipais – a Câmara Municipal de Guimarães e a Câmara Municipal de Famalicão – e duas instituições culturais – a Sociedade Martins Sarmento e o Museu de Alberto Sampaio. A estas comemorações estão também ligadas três Universidades – a Universidade do Minho, a Universidade do Porto e a Universidade de Coimbra. Directamente envolvidos nestas comemorações estão diversos técnicos das autarquias de Guimarães e de Vila Nova de Famalicão, da Sociedade Martins Sarmento, do Museu de Alberto Sampaio e a família do homenageado.

A Comissão de Honra das Comemorações é constituída pelo Senhor Presidente da República, pela Senhora Ministra da Cultura, pelo Senhor Reitor da Universidade do Minho e pelos Presidentes das Câmaras Municipais de Guimarães e de V. N. de Famalicão, pelo Presidente da Sociedade Martins Sarmento, pela Directora do Museu de Alberto Sampaio e pela Família de Alberto Sampaio.

Para o dia 1 de Dezembro, no Museu de Alberto Sampaio, a partir das 16 horas, estão programadas as seguintes actividades:

16h00 Inauguração da exposição “Alberto Sampaio: exposição bibliográfica”

Exposição bibliográfica onde são apresentadas obras da biblioteca pessoal do historiador, doada ao Museu de Alberto Sampaio em 2005.

A exposição estará patente ao público entre 1 Dezembro 2007 e 31 Março de 2008.

16h45 Actuação do Grupo Instrumental do Grupo Coral da Justiça

O Grupo Coral da Justiça foi fundado em 1984, no Porto, e tem por lema uma conhecida frase de Alberto Sampaio – “Nunca se perde tempo com aquilo que amamos”.

17h15 Sessão solene

18h00 Pausa para café

18h20 Lançamento do livro infantil “História de Alberto”

O livro é da autoria de Emília Nóvoa Faria e é ilustrado por Fedra Santos. Trata-se de um livro dedicado aos mais jovens e publicado pela Editora Campo das Letras num projecto em parceria com a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e que recebeu o apoio da Rede Portuguesa de Museus.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Manifestação dos operários e industriais durante a Exposição de 1884

MANIFESTAÇÃO — Realizou-se ontem a que os artistas e industriais desta cidade tinham resolvido fazer, em demonstração de agradecimento aos promotores da brilhante exposição industrial de Guimarães.

À uma e meia hora da tarde principiaram a reunir-se os diversos grupos de operários e artistas na casa da Associação Artística.

Às 3 horas, estando já literalmente cheio o grande salão da Associação, estavam ainda muitos centenares de pessoas na rua de Gil Vicente, por não caberem lá dentro.

A essa hora principiou a pôr-se em marcha o cortejo.

Na frente ia uma banda de música, seguindo-se um industrial com a bandeira nacional arvorada, e desfilando depois numerosas massas de operários e artistas, da cidade e do concelho, que podiam calcular-se em mais de dois mil.

No couce ia outra banda de música.

A esta imponente massa juntava-se outra ainda maior de e povo e curiosos, talvez em número superior a quatro mil pessoas.

Os artistas, industriais e operários levavam no casaco um ramo de oliveira.

O cortejo seguiu pela rua de Gil Vicente, rua de Paio Galvão, largo ocidental do Toural, largo e Rua Nova de S. Sebastião, em direcção a Vila Flor.

No pátio dos jardins aguardava-o a Comissão Central promotora da exposição.

Chegado ali o cortejo levantaram-se calorosos vivas, entusiasticamente correspondidos por toda aquela enorme multidão.

As músicas seguiram então pela estrada para o átrio de entrada do palacete, em quanto os artistas e industriais subiam pelo jardim para a exposição, sempre no meio de entusiásticos vivas.

Depois da demora de duas horas em visita à exposição, tornou o cortejo a pôr-se em marcha, para vir, como veio, cumprimentar a Direcção da Sociedade Martins Sarmento, à sua casa do largo do Carmo, onde ela o estava esperando.

Ali repetiram-se os vivas e as saudações ao alto cometimento e aos nobres intuitos da Sociedade, depois do que o cortejo seguiu ainda para a rua de Santa Luzia, para saudar, em sua casa, o sr. dr. Alberto Sampaio, douto, esforçado e activo paladino da exposição, como presidente da respectiva comissão executiva dela.

Não estando S. Exa. em casa, o cortejo regressou à casa da Associação Artística, onde se dissolveu.

Em todos estes actos reinou sempre a maior ordem e o maior respeito, mostrando assim a nobre classe artística e industrial, quanto é digna de consideração, e quanto é nobre e entusiástica a sua grande alma.

[Notícia do Religião e Pátria de 25 de Junho de 1884]

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Alberto Sampaio e a Exposição Industrial de Guimarães de 1884

Em finais de Junho de 1884, quando decorria a Exposição Industrial de Guimarães, promovida pela Sociedade Martins Sarmento e organizada por Alberto Sampaio, a revista Ilustração Universal publicava, na sua primeira página, este retrato de Alberto Sampaio, acompanhado pelo texto que transcrevemos a seguir.


ALBERTO SAMPAIO

A FAMA gravou-lhe o nome no pedestal das glórias da vetusta cidade vimaranense e cingiu-lhe a fronte com a coroa de louro dos privilegiados. Merecidas recompensas! A exposição industrial de Guimarães foi um triunfo para a indústria nacional, foi uma afirmação solene da vitalidade do país e uma manifestação imponente do nosso génio artístico, posto em evidencia naquele glorioso certame, que teve por iniciadores cavalheiros de reconhecida ilustração e por únicos motores a actividade prodigiosa e a indefessa energia moral desse rapaz, tão modesto como inteligente, chamado Alberto Sampaio.

Não nos surpreenderam as aclamações de entusiasmo, com que a imprensa e o público têm saudado o talentoso organizador daquela exposição.

Conhecíamos de há muito a capacidade intelectual daquele homem; e posto que, há vinte anos, o tivéssemos perdido de vista, sabíamos que, dia a dia, ele iria aumentando o cabedal dos seus conhecimentos, entesourando as jóias do seu finíssimo espírito e adestrando as suas potentes faculdades na misteriosa solidão do seu gabinete de estudo, até que chegasse a hora de manifestar-se Como é e pelo que vale.

A ocasião chegou e, apesar de todas as dificuldades que acompanham empresas daquela ordem, apesar dos obstáculos que se opõem à realização de cometimentos de tal magnitude, apesar das contrariedades, com que tem de arrostar quem se aventura a tais temeridades, a ideia vingou, as dificuldades foram vencidas, os obstáculos aplanados e as contrariedades dominadas, porque para os homens daquela têmpera moral querer é poder, chegar é vencer. O templo abriu-se e a cerimónia foi imponente e majestosa.

Alberto Sampaio foi o pontifex magnus daquelas litanias do trabalho, e por isso a Ilustração Universal lhe dá o lugar de honra neste número, comemorando assim os serviços por ele prestados à indústria nacional nesta festa, que tanto honra o concelho de Guimarães, como os seus primorosos artistas.

À Sociedade Martins Sarmento deve-se a ideia daquela exposição concelhia.

Em 31 de Dezembro de 1882 um dos seus directores, o sr. Domingos Leite de Castro, apresentou nesse sentido uma proposta, que foi largamente discutida. Uns combateram-na como irrealizável, outros como insignificante e outros como inútil.

A ideia, porém, subsistiu e em ulteriores discussões foi ganhando adeptos e adquirindo simpatias.

E essa ideia tinha um objectivo mais amplo que não pôde realizar-se, porque a exposição de Guimarães, no primitivo pensamento da proposta, devia abranger três secções distintas a a indústria, a agricultura e a arqueologia.

Diversas circunstâncias, justificados motivos modificaram, porém, esse plano, e em 21 de Fevereiro foi decidido que se fizessem, em anos sucessivos, as exposições industrial, agrícola e arqueológica.

Resolvido isso, Alberto Sampaio assumiu a responsabilidade de levar a cabo o pensamento da exposição.

As diversas comissões delegaram nele, desde logo, todos os seus poderes e atribuições e a maneira como ele se desempenhou dessa árdua e difícil tarefa está autenticada nos elogios, que todos lhe tecem e com que cada um, à porfia, o exalta.

Nestes tempos que vão correndo, em que o egoísmo é a divisa geral da humanidade, são para causar estranheza os actos de abnegação e para admirar estes exemplos de amor pátrio,

Nestes tempos que vão correndo de indiferentismo político, em que dos cofres centrais do Estado não sai um ceitil, que não seja para contentar um partidário ou atrair um influente, são para causar admiração estas manifestações de desinteresse, com que meia dúzia de indivíduos se propõem, sem auxílio do tesouro público, a realizar uma empresa, que devia ser largamente subsidiada pelo Estado.

Nestes tempos de desconsoladora indiferença de uns, de profundo desânimo de outros, de condenável cepticismo de muitos e de completo desamor da maior parte pelas coisas públicas é para admirar a lição de civismo, que o berço da monarquia veio dar aos poderes públicos, realizando tão notável quão profícua exposição

Uma nação que dá tais exemplos não morre.

Os governos hão de suceder-se e passar, sem deixar, um vestígio de patriotismo, um rasto de iniciativa em prol da prosperidade nacional; mas o país há-de resgatar os erros da inércia governativa pela sua própria actividade, pela afirmação do trabalho dos seus filhos e por tais exemplos de dedicação.

Por isso e com júbilo que saudamos daqui Alberto Sampaio, a Sociedade Martins Sarmento e todos aqueles que concorreram para tão civilizadora festa e para tão gloriosos resultados.

M. Pereira

[Ilustração Universal, n.º 21, ano I, 28 de Junho de 1884]

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Apresentado programa do Centenário de Alberto Sampaio

Foi hoje apresentado, em conferência de imprensa que teve lugar no Museu de Alberto Sampaio, o programa com que será assinalado o centenário da morte de Alberto Sampaio, que decorrerá durante um ano, encerando no dia 1 de Dezembro de 2008, data em que passa um século sobre a morte do historiador. A organização, que conta com a colaboração da família de Sampaio, reúne duas instituições vimaranenses, a Sociedade Martins Sarmento e o Museu de Alberto Sampaio, e duas Câmaras Municipais, a de Guimarães, onde o escritor nasceu e viveu a maior parte da sua vida, e a de Vila Nova de Famalicão, onde, na freguesia de Cabeçudos, ficava a casa da sua família, na qual passou muito do seu tempo e onde terminaria os seus dias.

Do vasto programa comemorativo, destaca-se um importante conjunto de edições, uma exposição fotobiográfica e um congresso que decorrerá em Guimarães e Famalicão, no final de Novembro de 2008.

O ano em que se celebrará Alberto Sampaio inicia-se no próximo dia 1 de Dezembro, no Museu de Alberto Sampaio, com Inauguração da exposição “Alberto Sampaio: exposição bibliográfica”, às 16:00 horas, e com uma sessão solene, que decorrerá a partir das 17:15 horas.


[Consultar programa completo]

domingo, 25 de novembro de 2007

Algumas notas sobre a actividade de Alberto Sampaio na Sociedade Martins Sarmento

Alberto da Cunha Sampaio teve, desde os tempos da fundação, um papel muito presente e activo na actividade da Sociedade Martins Sarmento. Apesar de não integrar a Direcção da Sociedade, cujo primeiro presidente foi o seu irmão José, Alberto Sampaio em muito contribuiu, com a sua acção e o seu conselho, para o dinamismo cultural e social que, desde cedo, a SMS assumiu na cidade e no país.

Num texto em que dava conta das primeiras actividades da Sociedade, publicado no n.º 1 da Revista de Guimarães, Avelino da Silva Guimarães regista essa colaboração:

“Também tivemos muito quem nos animasse. Tivemos uma classe de consócios, que denominámos consultivos, porque assistiam às nossas sessões, e nos auxiliavam com a luz do seu conselho. Neste primeiro período foram os mais assíduos os snrs. Rodrigo de Menezes e Alberto Sampaio.”

A voz de Sampaio foi ouvida aquando da redacção do Regulamento Geral da Sociedade, ainda no início de 1882. Em Janeiro de 1883, a sua opinião teve peso na aprovação de uma proposta de Avelino Guimarães o criação de um periódico, que virá a ser a Revista de Guimarães, na qual o historiador Alberto Sampaio iniciaria a publicação da sua obra.

Em 1884, publicou o seu primeiro texto na Revista de Guimarães, com o título “Resposta a uma pergunta. Convirá promover uma exposição industrial em Guimarães?”. A sua resposta seria consumada em Junho daquele ano, quando, por iniciativa da Sociedade Martins Sarmento, abria portas a primeira e grandiosa Feira Industrial de Guimarães, da qual, mais do que Director Técnico, cargo em que foi formalmente investido, Alberto Sampaio se assumiria como um dos principais mentores e impulsionadores. O notável Relatório da Exposição Industrial de Guimarães, em 1884 seria obra sua e de Joaquim José de Meira.

Ainda nesse ano de 1884, Alberto Sampaio integrou o Conselho Superior do Instituto Escolar da Sociedade Martins Sarmento.

Em 1890, foi-lhe solicitado pela Direcção da Sociedade que, juntamente com outros ilustres vimaranenses (Conde de Margaride, Padre Abílio Augusto de Passos, Domingos Leite de Castro, Francisco Ribeiro Martins da Costa e Visconde de Sendelo), emitisse parecer acerca da criação de condições para a introdução do ensino agrícola na instrução primária complementar. Em Novembro desse ano, foi-lhe também solicitado que, em colaboração com Francisco Martins Sarmento, José de Freitas Costa, António Augusto da Silva Cardoso, Domingos Leite de Castro, Inácio de Meneses e Antero Campos da Silva, participasse na organização dos catálogos e do regulamento dos museus de arqueologia e numismática da Sociedade.

No início de 1891, a acção cultural de Alberto Sampaio seria reconhecida pela sociedade Martins Sarmento, com a aprovação da proposta de Avelino Guimarães para que lhe fosse atribuída a condição de sócio honorário “não só pelas suas publicações de mérito, especialmente pela direcção técnica da exposição industrial de Guimarães”.

Uma das principais marcas que Alberto Sampaio deixou na Sociedade Martins Sarmento é a que resulta da sua colaboração para a criação e abertura da Biblioteca Pública da Sociedade. A esse propósito, escreveria Avelino Guimarães, na Revista de 1884:

“O génio resoluto de Leite Castro, eleito entre os seus colegas da direcção para director da biblioteca, não acobardou com as dificuldades que surgiram na organização e instalação duma biblioteca desde o princípio avultada. Obtendo a coadjuvação constante do dr. Alberto Sampaio, pôde conseguir que a biblioteca se inaugurasse solenemente no dia 9 de Março de 1883, e pouco depois se facultassem quase todos os volumes à leitura pública.”

Além do seu contributo para a organização da Biblioteca, Alberto Sampaio daria um significativo contributo para engrandecimento do seu acervo, ao oferecer muitos livros da sua biblioteca particular à Sociedade Martins Sarmento. Nas actas da Direcção estão registadas, pelo menos, oito doações, que ocorreram entre os anos de 1883 e 1896. A última delas seria um exemplar da edição de luxo da obra Anthero do Quental – In Memoriam, que homenageava o seu amigo e companheiro de jornada desde os tempos de Coimbra.

[Texto também publicado aqui]

sábado, 24 de novembro de 2007

Do nascimento de Alberto Sampaio - 1

Rua da Rainha, em Guimarães. A seta assinala a casa onde nasceu Alberto Sampaio.

O historiador Alberto da Cunha Sampaio nasceu da antiga rua dos Mercadores, actual rua da Rainha D. Maria II, pertencente ao seu tio-avô Cónego José de Abreu Cardoso Teixeira, que seria o seu padrinho. O assento de baptismo de Alberto Sampaio está lavrado na a fl. 235 v.° do livro n.º 5, dos assentos referentes ao ano de 1841, da freguesia de Nossa Senhora da Oliveira da cidade de Guimarães, cuja transcrição é a seguinte:

«Alberto, filho legítimo de Bernardino de Sampaio e Araújo, natural da freguesia de São Cristóvão de Cabeçudos, e de sua mulher Dona Emília Ermelinda Cardoso Teixeira, natural desta freguesia, e recebidos na dita de Cabeçudos, ele morador em Celorico de Basto, como Juiz de Direito que é desse Julgado, e ela ao presente em casa de seu tio materno o Reverendo Cónego José de Abreu Cardoso Teixeira, na rua dos Mercadores desta freguesia, nessa casa nasceu no dia 15 de Novembro de mil oitocentos quarenta e um, e nesse mesmo dia foi por mim baptizado na pia baptismal desta Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, na vila de Guimarães, e houve os Santos Óleos, foram padrinhos o sobredito Cónego tio, e sua irmã Dona Ana Rita Teixeira de Abreu Cardoso e Cunha, avó materna do baptizado, por meio de seu procurador João Barroso Pereira, fidalgo da Casa de Sua Majestade, e morador com o mesmo padrinho. Do que fiz este assento, que assino, era ut supra.— O Cónego Cura José Joaquim de Abreu.»

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

História de Alberto

No âmbito das Comemorações do Centenário da Morte de Alberto Sampaio, com início no Museu de Alberto Sampaio, em Guimarães, no próximo dia 1 de Dezembro de 2007 e encerramento a 1 de Dezembro de 2008, em Vila Nova de Famalicão, numa organização conjunta das Câmaras Municipais de Vila Nova de Famalicão e Guimarães, Museu Alberto Sampaio e Sociedade Martins Sarmento, a editora Campo da Letras publica a obra de literatura para a infância, “História de Alberto”, escrita por Emília Nóvoa Faria e ilustrada por Fedra Santos.

«A minha biblioteca em Boamense era o meu cantinho predilecto. Ali recebia os meus melhores amigos. Além do Antero, por lá passaram o Luís de Magalhães, um político muito conhecido, o Jaime de Magalhães Lima, escritor e mestre nas coisas agrícolas, o Oliveira Martins, historiador e político, e muitos outros que, de quando em quando, me visitavam. Também era aí, no meio dos velhos livros de folhas amarelecidas, que passava horas a fio a ler e a investigar. Interessei-me, por exemplo, pelos romanos quando estiveram na Península Ibérica.

– Não conheço ninguém tão coca-bichinhos como tu – disse-me o Antero quando lhe falei da minha ideia de escrever sobre as vilas dos romanos no Norte de Portugal.»

Emília Nóvoa Faria nasceu na Póvoa de Varzim, em Janeiro de 1957. Licenciou-se em Engenharia Química pela Universidade do Porto, tendo desenvolvido actividade profissional na Indústria do Papel a partir de 1982. Em 2002 ingressou no Museu Bernardino Machado, em Vila Nova de Famalicão, como técnica superior, onde actualmente trabalha. No seu percurso pessoal dedicou-se desde muito cedo ao estudo e divulgação da obra do historiador Alberto Sampaio, tendo publicado, com a chancela da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e da Sociedade Martins Sarmento, vários trabalhos. No âmbito da literatura infantil é autora do livro "História de um Presidente", editado pelo Museu Bernardino Machado e de "Os Anões da Floresta e do Papel", edição da Associação Portuguesa da Indústria de Pasta e Papel.

Fedra Santos nasceu em Freamunde, em 1979. Concluiu em 2002 o curso de licenciatura em Design de Comunicação da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto. Tem desenvolvido trabalhos sobretudo na área do design e ilustração. Actualmente, é sócia do atelier de design Furtacores, onde a ilustração e o desenho têm lugar privilegiado.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

A vitivinicultura na obra de Alberto Sampaio

Alberto Sampaio nunca aceitou a designação que habitualmente se dava ao vinho, no final do século XIX, e que abrangia apenas os alcoólicos, secos, adamados ou licorosos, defendendo sempre que o que verdadeiramente caracteriza um bom vinho ou, como dizia, um vinho de qualidade, não era apenas o grau alcoólico mas também o “seu arranjo íntimo, e a justa proporção de todos os seus elementos. Mais do que o teor em álcool eram importantes o gosto, a cor e o perfume que resultam de uma grande quantidade de princípios diferentes. A partir deste conceito, já então aceite nos grandes países vinhateiros da Europa, era óbvio que o vinho verde, embora de baixo teor alcoólico, quando produzido a partir de castas seleccionadas, tinha a seu favor a leveza, a frescura e o aroma, características que o imporiam como vinho de mesa de qualidade. […] A lúcida visão de Alberto Sampaio leva-o a defender a criação de regiões vinícolas no nosso país, antecipando-se largos anos ao que, já no nosso tempo, haveria de ser feito. Os seus profundos conhecimentos resultavam não só da sua grande experiência mas também da sua enorme sede de saber que o fez reunir na sua biblioteca tudo o que de melhor se publicava em França relativo à viticultura e à vinificação. Tudo anotava e ensaiava, desde a disposição e localização, nas vinhas, de todas as castas que ia ensaiando, feitas com minucioso cuidado, até à adubação, à poda, aos tratamentos, à vindima, ao fabrico do vinho e à sua caracterização e, finalmente, à operação do engarrafamento. A qualidade dos vinhos produzidos em Boamense, pela qual Alberto Sampaio tanto se bateu, foi reconhecida, nacional e internacionalmente, em todas as exposições a que concorreu em nome do seu irmão José da Cunha Sampaio – Filadélfia (1876), Porto (Palácio de Cristal, 1880), Lisboa (1884), Berlim (1888), Paris (1889) e Guimarães (1910) – com a atribuição de medalhas de ouro, prata, cobre e menções honrosas.

Frasco, Alberto Faria – “Alberto Sampaio Precursor dos Vinhos Verdes”, In Revista de Guimarães, Vol. 102, Guimarães, 1992.

A Biblioteca de Alberto Sampaio

De Alberto Sampaio disse Camilo Castelo Branco, em carta a António Feliciano de Castilho, datada de 12 de Junho de 1873: “Recebi as 80 páginas da Glótica. Emprestei-as a um judicioso germanista, Alberto da Cunha Sampaio, que vive perto desta casa. Rapaz de 33 anos, que lê alemão, grego, inglês e latim correntemente. Escreveu há anos óptimos artigos à Montaigne num periódico de Ant.º Augt.º. Depois deu-se todo à agricultura e fabrica champanhe. Pertenceu à seita do Antero […]. De vez em quando vai a Paris; passa 2 meses no Bois a ler os livros modernos, e volta para a sua quinta de Boamense.” Àquelas 4 línguas, forçosamente se acrescentaria o francês. A sua biblioteca é simultaneamente o espelho exemplar da mais sólida formação e o melhor testemunho do espírito científico que caracterizou o seu labor. São 500 títulos, excluindo a herança de muitos livros de feição eclesiástica e jurídica dos quais se alheou quase totalmente. Se a este espólio retirarmos cerca de 45 Relatórios e Estatutos de várias Instituições a que esteve ligado, restam-nos 455 referências, compreendendo cerca de 70 obras que lhe são oferecidas, com dedicatória, por autores amigos e admiradores, como Antero Quental, Jaime de Magalhães Lima, Bernardino Machado, Oliveira Martins, Martins Sarmento e José Leite de Vasconcelos. O domínio das línguas e a preocupação que lhe merecia o seu aperfeiçoamento está patente em cerca de 50 títulos relativos a dicionários e obras de linguística. De resto, alguns pesos-pesados da historiografia alemã da época, tais como Korting, Mommsen e Rudorff, fazem parte da biblioteca, no original. Tal como os 4 volumes dos Portugaliae Monumenta Historica, de onde extraiu mais de 500 referências, quase sempre em latim antigo, para as suas principais obras históricas. São no entanto de língua francesa a maioria dos livros que compõem este importante acervo, onde soam nomes como Coulanges, Litrée, Jubainville, Michelet, Proudhon, Thiers, Paquis, Rousseau. O lugar privilegiado que as actividades agrícolas ocuparam no seu espírito, praticamente durante toda a sua vida activa, são eloquentemente testemunhadas pelos mais de 70 títulos que é possível encontrar na sua biblioteca.

Martins, António e Faria, Emília Nóvoa, Nota de imprensa: Doação da Biblioteca de Alberto Sampaio ao Museu de Alberto Sampaio. Maio 2005.

Alberto Sampaio: Notas biográficas

Alberto Sampaio nasceu em Guimarães, a 15 de Novembro de 1841. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra em 1863. Durante o período estudantil foi redactor e colaborador de vários jornais académicos. A seguir à conclusão do bacharelato, iniciou uma breve carreira de advogado em Lisboa, interrompida pela difícil adaptação à vida cosmopolita da capital. De regresso ao Minho, o seu interesse pela vitivinicultura, levam-no a passar longas temporadas na Quinta de Boamense, em Vila Nova de Famalicão. Em 1884 desempenhou com assinalável brilho as funções de director técnico da 1.ª Exposição Industrial de Guimarães. Nesse ano concorreu a deputado pelo círculo de Guimarães, eleição que João Franco viria a ganhar. Prestou uma extensa colaboração no “Projecto de Lei de Fomento Rural”, apresentado por Oliveira Martins na Câmara dos Deputados em 1887. Em As Villas do Norte de Portugal e, mais tarde, em As Póvoas Marítimas, revelou o seu excepcional talento para a investigação histórica. Alguns dos seus trabalhos foram publicados nas revistas de maior prestígio literário e científico da época, como a Revista de Portugal, a Portugália e a Revista de Guimarães. Morreu em Boamense a 1 de Dezembro de 1908. Em 1923, por iniciativa de Luís de Magalhães, a Livraria Chardron publicou parte da sua obra sob o título Estudos Históricos e Económicos.

Martins, António e Faria, Emília Nóvoa – A Biblioteca da Casa de Boamense. In História, Ano XXIX (III Série), N.º 97, Maio 2007

Alberto Sampaio e a sua obra

O problema das villas, da propriedade rústica, esboçado apenas na Propriedade e a Cultura no Minho, entrou a oferecer [a Alberto Sampaio], com o alargamento dos seus estudos, aspectos novos e duma capital importância. Desse grande trabalho saíram As Villas do norte de Portugal. […] Ele diz-nos como a propriedade era constituída, quer nos tempos pré-romanos, quer durante o domínio imperial, quer na época visigótica, quer no período neogodo, até aos primeiros tempos da Monarquia Portuguesa; diz-nos qual a organização social, quais as relações das classes entre si e o seu respectivo viver; diz-nos quais as áreas das glebas, qual o regime agrícola, quais as culturas e os seus processos, quais as plantas conhecidas e cultivadas; diz-nos o que eram as construções urbanas, as dependências rústicas, as vedações e marcos das propriedades; diz-nos até qual fosse o mobiliário, o seu uso, o seu carácter e o seu valor; diz-nos as rendas da terra, os impostos que sobre ela incidiam, os seus ónus e as suas isenções e regalias, os seus modos de transmissão, as diversas formas por que era possuída. […] As Póvoas Marítimas estudam outro capítulo da nossa história anterior à fundação da Monarquia. É o repovoamento do litoral, a aproximação do mar, – esse mar que já então «nos chamava de longe, como um dúbio tentador» na frase de Oliveira Martins. […] Além da exploração cuidadosa dos elementos diplomáticos e dos textos das mais antigas fontes de informação, que lhe permitiu resolver pontos obscuros, como o da situação de Cale e Portu Cale, da lenda do Rei Ramiro e outros, essa obra fixa, como facto primordial e causa decisiva das nossas primeiras tentativas marítimas, a tomada de Lisboa, que, rechaçando para sul a pirataria mourisca e tirando-lhe a base de operações do seu amplo e seguro porto, deixou livre o mar à actividade das póvoas litorais do Norte.

Magalhães
, Luís de – Alberto Sampaio e a sua Obra. In Estudos Históricos e Económicos, Vol. I, Porto, 1923.

1.º Centenário Alberto Sampaio [1908-2008]

“Era um escritor à antiga, uma espécie de beneditino trabalhando pacientemente as suas obras, investigando com meticulosidade as suas fontes e os seus documentos, escrevendo com escrúpulo vernáculo, numa língua simples, clara, elegante na sua sobriedade, nobre na sua despretensão, onde se sentia ainda a frequência dos clássicos e o salutar influxo do mestre ilustre que ele amava como homem e admirava como escritor – Alexandre Herculano.”

MAGALHÃES, Luís de – Alberto Sampaio e a sua Obra, In Estudos Históricos e Económicos, Vol. I, Porto, 1923.

Em 2008 vai celebrar-se o primeiro centenário da morte de Alberto Sampaio, autor das Póvoas Marítimas e das Vilas do Norte de Portugal, obras cuja repercussão na nossa historiografia lhe valeu o estatuto de pioneiro da história económica em Portugal.

O programa das comemorações organizadas pelo Museu de Alberto Sampaio, pela Sociedade Martins Sarmento, Câmara Municipal de Guimarães e pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, tem início a 1 de Dezembro de 2007, em Guimarães, a terra natal do historiador, e encerra em Vila Nova de Famalicão, a 1 de Dezembro de 2008, dia em que se assinala o centenário da sua morte.