Alberto Sampaio nunca aceitou a designação que habitualmente se dava ao vinho, no final do século XIX, e que abrangia apenas os alcoólicos, secos, adamados ou licorosos, defendendo sempre que o que verdadeiramente caracteriza um bom vinho ou, como dizia, um vinho de qualidade, não era apenas o grau alcoólico mas também o “seu arranjo íntimo, e a justa proporção de todos os seus elementos.” Mais do que o teor em álcool eram importantes o gosto, a cor e o perfume que resultam de uma grande quantidade de princípios diferentes. A partir deste conceito, já então aceite nos grandes países vinhateiros da Europa, era óbvio que o vinho verde, embora de baixo teor alcoólico, quando produzido a partir de castas seleccionadas, tinha a seu favor a leveza, a frescura e o aroma, características que o imporiam como vinho de mesa de qualidade. […] A lúcida visão de Alberto Sampaio leva-o a defender a criação de regiões vinícolas no nosso país, antecipando-se largos anos ao que, já no nosso tempo, haveria de ser feito. Os seus profundos conhecimentos resultavam não só da sua grande experiência mas também da sua enorme sede de saber que o fez reunir na sua biblioteca tudo o que de melhor se publicava em França relativo à viticultura e à vinificação. Tudo anotava e ensaiava, desde a disposição e localização, nas vinhas, de todas as castas que ia ensaiando, feitas com minucioso cuidado, até à adubação, à poda, aos tratamentos, à vindima, ao fabrico do vinho e à sua caracterização e, finalmente, à operação do engarrafamento. A qualidade dos vinhos produzidos em Boamense, pela qual Alberto Sampaio tanto se bateu, foi reconhecida, nacional e internacionalmente, em todas as exposições a que concorreu em nome do seu irmão José da Cunha Sampaio – Filadélfia (1876), Porto (Palácio de Cristal, 1880), Lisboa (1884), Berlim (1888), Paris (1889) e Guimarães (1910) – com a atribuição de medalhas de ouro, prata, cobre e menções honrosas.
Frasco, Alberto Faria – “Alberto Sampaio Precursor dos Vinhos Verdes”, In Revista de Guimarães, Vol. 102, Guimarães, 1992.
Sem comentários:
Enviar um comentário