quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Alberto Sampaio e a sua obra

O problema das villas, da propriedade rústica, esboçado apenas na Propriedade e a Cultura no Minho, entrou a oferecer [a Alberto Sampaio], com o alargamento dos seus estudos, aspectos novos e duma capital importância. Desse grande trabalho saíram As Villas do norte de Portugal. […] Ele diz-nos como a propriedade era constituída, quer nos tempos pré-romanos, quer durante o domínio imperial, quer na época visigótica, quer no período neogodo, até aos primeiros tempos da Monarquia Portuguesa; diz-nos qual a organização social, quais as relações das classes entre si e o seu respectivo viver; diz-nos quais as áreas das glebas, qual o regime agrícola, quais as culturas e os seus processos, quais as plantas conhecidas e cultivadas; diz-nos o que eram as construções urbanas, as dependências rústicas, as vedações e marcos das propriedades; diz-nos até qual fosse o mobiliário, o seu uso, o seu carácter e o seu valor; diz-nos as rendas da terra, os impostos que sobre ela incidiam, os seus ónus e as suas isenções e regalias, os seus modos de transmissão, as diversas formas por que era possuída. […] As Póvoas Marítimas estudam outro capítulo da nossa história anterior à fundação da Monarquia. É o repovoamento do litoral, a aproximação do mar, – esse mar que já então «nos chamava de longe, como um dúbio tentador» na frase de Oliveira Martins. […] Além da exploração cuidadosa dos elementos diplomáticos e dos textos das mais antigas fontes de informação, que lhe permitiu resolver pontos obscuros, como o da situação de Cale e Portu Cale, da lenda do Rei Ramiro e outros, essa obra fixa, como facto primordial e causa decisiva das nossas primeiras tentativas marítimas, a tomada de Lisboa, que, rechaçando para sul a pirataria mourisca e tirando-lhe a base de operações do seu amplo e seguro porto, deixou livre o mar à actividade das póvoas litorais do Norte.

Magalhães
, Luís de – Alberto Sampaio e a sua Obra. In Estudos Históricos e Económicos, Vol. I, Porto, 1923.

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